Carta do editor

Isso nunca me aconteceu antes…

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Ilustração @viamagalhaes

Tenho repetido essa frase bastante na última semana. Por aqui, muita coisa nova. A mais importante, sem dúvida, rolou durante a minha última sessão de terapia. Chorei por uma hora seguida. Mas não de angústia, e sim de alegria! Os motivos para essa felicidade toda são muitos. Vem chegando o meu retorno de Saturno e eu estou mais preparado do que nunca para a criatividade, a engenhosidade e o ar fresco de Aquário, signo no qual o planeta está entrando/já entrou por esses tempos. No entanto, acho que o que mais tem me rasgado sorrisos, ainda que em meio a muito suor, é a edição da ELLE View que você está lendo, 100% dedicada à beleza e com ninguém menos que MC Carol na capa. Um sonho que tenho desde quando a ELLE voltou ao Brasil e agora, finalmente, está se tornando realidade. A entrevista é de Ísis Vergílio, repórter que, com seu jeito talvez sobrenatural, faz com que qualquer um abra o coração para ela. Uma conversa emocionante sobre poder, força, luta, amor, sensibilidade, humor, funk e liberdade.

Faz pouco tempo que virei editor de beleza da ELLE Brasil. Então, né, muita coisa não tinha me acontecido antes. Por exemplo, enquanto escrevo aqui, estou de olho no que o nosso incrível designer Victor Magalhães está bolando junto do fotógrafo Gabriel Cabral. Estamos no estúdio Bala, na Vila Madalena, em São Paulo, e, entre um shooting e outro, eu vou escrevendo os meus textos. Não sabia que sabia fazer isso, por exemplo. Os meninos, por sua vez, estão clicando as imagens do editorial de perfumes de nicho, de luxo, exclusivérrimos, que você vai conferir em outras páginas virtuais desta revista sem papel, mas com muita cor, brilho e magia. Aliás, esta é também a edição em que revelamos os produtos vencedores do ELLE International Beauty Awards 2020. A premiação reúne votos das editoras e dos editores de beleza de todas as redações da ELLE ao redor do globo. Ou seja, o guia perfeito para renovar o seu nécessaire neste começo de ano.

Mergulhado na produção desta ELLE View, nos últimos dias, tenho falado de cabelo como quem fala das coisas mais importantes que existem. Bom, de acordo com a personagem de Phoebe Waller-Bridge na sua série Fleabag, não há nada no mundo mais importante do que cabelo. Não à toa, fizemos um editorial 100% dedicado às diferentes possibilidades visuais que surgem quando pensamos neles trançados. A ideia veio da fantástica Suyane Ynaya, nossa editora de moda, que, por causa da pandemia, eu só fui encontrar pessoalmente pela primeira vez agora, no estúdio.

E, para ser bem sincero, acho que concordo com a Phoebe. Não no sentido de ficar maluco pensando no visual do meu cabelo ou da minha cara, do meu corpo, a todo momento. Mas, uau, que desafio que é entender-se belo… Tenho a sensação que esta edição inteira de beleza culminou com a linha de chegada de um longo processo de autoaceitação (e, por que não, autoamor) que atravessei nos últimos dez anos da minha vida. Se você já leu o meu texto sobre gordofobia na quarentena, sabe do que eu estou falando e sabe da importância dessa caminhada. Que delícia chegar aqui munido de tantos sorrisos, de tanta alegria e satisfação. Foram muitas sessões de terapia chorando sem ser de alegria para conseguir, hoje, escrever este texto sem duvidar de mim.

Se porventura você está do outro lado ainda brigando com a imagem que vê refletida no espelho, te digo que a beleza pode ser uma brincadeira de você com você. Ela não é o seu passaporte para uma vida perfeita. Ela é só uma das inúmeras e maravilhosas consequências de ser alguém que se ama, que acredita na sua própria potência. E, óbvio, não é todo dia que eu estou assim saltitante a respeito da minha imagem, mas ela não me impede mais de ser feliz. Espero que no restante desta edição você também queira brincar de beleza e, de quebra, consiga se amar um pouquinho mais. É sobre isso e mais nada.