O laboratório brutalista de Eszter Magyar
A beauty artist húngara está desbravando novos limites para o que se entende por maquiagem.
Para entender que existe uma estética dominante no mundo da maquiagem, basta assistir a qualquer vídeo dos principais gurus de beleza do YouTube. Com poucas variações entre si, os métodos usados por eles apontam quase sempre para um mesmo resultado. Em geral, esse visual se resume à combinação de uma base de alta cobertura, contorno bem marcado, sobrancelhas milimetricamente corrigidas e muito iluminador. Não é de hoje que essa receita à la Kardashian vem sendo questionada por maquiadoras e maquiadores ao redor do globo, mas a húngara Eszter Magyar pegou a causa para si. A maior expressão de seu trabalho está arquivado no perfil @makeupbrutalism, no Instagram.
Com mais de 95 mil seguidores, a arroba reúne uma série de experimentos que desafiam os limites da maquiagem. Por vezes, entram em cena produtos como adesivos, botões, tecidos e muitos outros materiais para além das tradicionais paletas de sombra. Isso sem falar dos desenhos e padronagens criados por Magyar que passam longe do “smokey eye”, por exemplo.
“Quando eu era adolescente, usava maquiagem como um escudo para me proteger”, relembra a maquiadora em entrevista à ELLE Brasil. “A ideia era que se eu usasse muita sombra nos olhos, as pessoas não reparariam nos meus dentes”. Ela conta que, nessa época, sofreu muito bullying por ter diastema (espaço entre os dentes). “As crianças podem ser cruéis. Conforme o tempo foi passando, eu fui me interessando mais por rock e percebi que a maquiagem me oferecia muito espaço para experimentações e foi assim que ela se tornou uma parte de mim.”
Trabalhando como maquiadora, no entanto, seu visual mudou radicalmente. “Ironicamente, parei de usar maquiagem em público. Acho que, naquele momento, eu percebi que a maquiagem já tinha me salvado e que eu não precisava mais dela nesse sentido. A partir dessa nova relação, a beleza clássica também começou a me entediar.” Foi no intuito de expandir os limites do belo, então, que surgiu o @makeupbrutalism. “Se você me perguntar, hoje esse projeto é o principal componente do meu trabalho enquanto artista. Acho que me encontrei de novo na maquiagem. Pela terceira vez.”
@makeupbrutalism
Tudo começou com um estudo de texturas. Depois de anos praticando o olho de gatinho perfeito, Magyar sentiu que era a hora de aumentar o seu repertório. Em casa, ela sentou no chão e começou a brincar despretensiosamente com cores e formas irregulares. “Quando eu gostava do resultado, tirava uma foto e postava na minha conta pessoal no Instagram”. De repente, suas criações caseiras estavam ganhando mais destaque na plataforma do que suas investidas no mercado editorial. “Em 2018, decidi separar as duas páginas e, aos poucos, fui me desafiando a ir para cada vez mais longe do convencional.”
Não demorou para que chegassem os “haters”. “Comecei a receber comentários como ‘isso não é maquiagem’. Eu estaria mentindo se dissesse que isso não me afetou, mas acho que encontrei uma maneira de me beneficiar deles. De vez em quando, transformo alguns desses comentários em visuais e, aparentemente, as pessoas adoram quando faço isso!”.
Na ânsia de responder perguntas profundas como “O que é maquiagem?” ou “A maquiagem precisa ser bela?”, Magyar foi além e criou a hashtag #UglyMakeUpRevolution. “Atualmente, existem milhares de posts no Instagram com a tag e, por causa disso, decidi fazer uma curadoria por meio de um perfil com o mesmo nome que já tem mais de 40 mil seguidores.”
Lucy J. Bridge, Athena Paginton, Marie Bruce e Isamaya Ffrench são algumas das suas principais referências na maquiagem por “se proporem a desafiar padrões sociais com sua arte. Mas, se formos falar de profissionais que realmente abriram portas para um novo universo dentro da maquiagem, é impossível não citar gigantes como Pat McGrath, Val Garland e Alex Box. “O que elas fizeram nas passarelas é outro nível”.
Segundo a maquiadora, o universo da beleza precisa ser entendido de maneira mais complexa. Seu argumento se sustenta na ideia de que a maquiagem é uma das formas de comunicação e arte mais primitivas que existem e, por isso, ignorá-la é também dar as costas para um indicador das estruturas da nossa sociedade. “O meu objetivo é simples: fazer com que as pessoas se aceitem mais (a si mesmas e umas às outras) e tenham menos medo de se expressar. Que a maquiagem venha mais de um lugar de criatividade do que de vício”, arremata.
@makeupbrutalism
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