2021: O ano em que o prazer virou tendência

No meio de todo o caos deste ano, conseguimos abrir mais espaço pro diálogo sobre sexualidade. E viva a sexual wellness!


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Todo dezembro caímos naquele mesmo velho e irresistível ritual: vemos todas as retrospectivas possíveis, lembramos de coisas que nem pareciam que tinham acontecido naquele ano, buscamos por aplicativos que nos mostram as músicas mais escutadas ou fotos mais curtidas, desejamos muitas coisas entre promessas de melhoras e celebrações do que já foi, e por aí vai. 2021 foi intenso por aqui, muito trabalho, muito cansaço, muita esperança balançando na gangorra junto ao desespero, mas também longe de mim reclamar, houve tantas realizações, tantas! Afinal de contas, foi neste ano que a coluna “Prazer sem dúvidas”, pela qual eu nutro tanto carinho, nasceu. E o sonho de manter esse diálogo pra além das redes sociais segue firme numa união nossa que em breve completará 12 meses.

Na música “Pecado Original”, Caetano Veloso diz que “a gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo”, e talvez isso seja verdade. Mas sinto que agora, mais do que nunca, estamos buscando entender o desejo e aprendendo a abrir espaço pra que ele caiba. Porque sim, se tem uma coisa que já disse e vou seguir dizendo: sentir prazer de maneira plena é algo que se aprende. A masturbação, por exemplo, pra além de saber técnicas de toque, pede um treinamento mental pra que o ato não carregue nenhuma culpa. Orgasmos são coisas que aprimoramos com a prática. Sexo é algo que vai melhorando com tempo pelo mesmo motivo. Se autoconhecer é uma jornada eterna. E comunicação, anatomia, saber de vibradores, tudo, absolutamente tudo ligado ao prazer pode ser passado pra frente através de informação de qualidade e abertura pra esses novos aprendizados.

E não tem como negar que 2021, no meio de todo o caos político-social-econômico-pandêmico, também conseguiu abrir mais espaço pro diálogo sobre sexualidade (bom, talvez não 2021 em si, mas todas nós juntas nesses passinhos de formiga que são tão importantes). As SexTechs, empresas focadas em desenvolvimento de produtos que visam melhorar o bem-estar sexual junto à tecnologia, chegaram com tudo no Brasil. Finalmente vemos esse segmento, que é majoritariamente feito por mulheres, recebendo incentivo e investimentos de empresas terceiras, trazendo uma seriedade nunca antes vista nesse mercado. Até lojas de roupas e outros itens “comuns” resolveram entrar nessa e adicionar vibradores e lubrificantes aos seus catálogos. Finalmente o termo Sexual Wellness virou tendência por aqui, e eu só posso comemorar. Podemos ouvir um amém? Amém!

E bom, como gostamos de retrospectivas, queria relembrar com vocês os cinco textos que foram mais emocionantes de fazer aqui pra ELLE ao longo desse primeiro ano:

1. A sabedoria por trás do orgasmo feminino

Esse texto de estreia do “Prazer sem dúvidas” foi aquele misto de frio na barriga com uma felicidade extrema. E começou com uma conversa muito gostosa com o público da ELLE no instagram, onde decidi transformar “A GRANDE DÚVIDA” (aquela que se repete em bares, na minha dm, nos workshops e em cada roda de conversa entre amigas/os que buscam saber mais sobre as potências que carregamos no corpo) em uma resposta completa e cheia de informações pra vocês entenderem absolutamente tudo sobre o orgasmo feminino.

2. A CPI do lance e do romance

Nada mais justo que, depois de aprender sobre anatomia, a gente converse sobre comunicação, expectativas e entenda a história dos relacionamentos e como o passado nos trouxe até aqui. Até porque só assim conseguimos mudar o futuro. Nesse texto, falo um pouco mais sobre amor romântico, não-monogamia, apego, assimetria dos esforços de cada gênero na hora de se relacionar, e dou dicas de autoras maravilhosas que também abordam o tema de maneira leve e didática. Realmente, esse ficou bem especial. :’)

3. O dilema da pílula rosa

Quem me lê por aqui já deve ter percebido que eu adoro uma pauta investigativa, cheia de datas, histórias e dados (meu passado de jornalista não engana). E nessa coluna eu contei tuuudo sobre o Viagra Feminino, que, sim, existiu, mas por vários motivos não emplacou. Quem dera todos os nossos problemas de libido e “disfunções” sexuais fossem resolvidos só com um comprimido, né? Mas não é tão simples assim. E se vocês ainda não sabem o que rolou, então, basta ler esse dossiê bem completo sobre a tal da pílula rosa.

4. Quatro passos para achar o seu par perfeito (entre os sex toys)

Achar a alma gêmea é uma coisa que muitos querem, mas sem querer decepcionar (já decepcionando), não existe essa coisa de “metade da laranja”. Acredito nos encontros, que relacionamento é um trabalho que exige dedicação e tempo, que terminar não significa ter dado errado, e que existem várias pessoas nesse mundo que vão ser as nossas “almas gêmeas” do momento. Então, seria impossível fazer um guia pra vocês acharem essa pessoa, mas em uma coisa eu certamente posso ajudar: a encontrar o match do sex toy perfeito (ou dos sex toys perfeitos, porque aqui, quanto mais, melhor)! Com pequenos passos, o investimento se torna mais seguro e garantido na satisfação que buscamos nessas horas.

5. Carta aberta às que nunca tiveram orgasmos

Apesar dos avanços, guias e discussões sobre o tema, nem tudo gira em torno do orgasmo. E nem deve! Repitam comigo: o orgasmo pode aparecer pelo caminho, mas não é o destino final. Focando no prazer, nas sensações e no autoconhecimento, estamos bem menos predispostas a esbarrar na frustração e na autocobrança. O processo deve ser mais profundo e sem culpar quem não chegou ou não tem facilidade de chegar a essa resposta física. Esse foi um texto-abraço, e espero que tenha acalantado quem precisava ler essas palavras.

Bom, tendência boa é aquela que não oprime e nem nos coloca em caixas que não cabemos. Imagine que gostoso vai ser viver num mundo onde a coisa mais desejada da próxima estação é ter uma relação saudável com o próprio corpo, respeitando seus limites e aprendendo a ouvir tudo o que ele tem pra dizer? Se mirarmos nisso pra 2022, os passinhos de formiga se tornarão gigantes. Como atividade de final de ano, convido vocês a fazerem uma retrospectiva dos momentos onde mais sentiram prazer (seja ele sexual ou não), onde mais se sentiram vivas e com o emocional conectado ao físico. Escrevam num papel e listem até cinco momentos desses, descrevendo como foram as sensações, e o que ocorreu antes, durante e depois. Guardem essas lembranças com carinho e voltem a elas no próximo ano, sempre que sentirem necessidade de relembrar das suas próprias potências.

Seguimos juntas e nos vemos em janeiro mais descansadas, quem sabe mais bronzeadas (saudades vitamina D), e com a certeza de que não estamos só. Boas festas e que em 2022 o prazer siga na moda pra todo mundo!

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