Inhotim inaugura mostra e obras
Exibição sobre Abdias Nascimento e trabalho do inglês Isaac Julien estão entre as novidades do museu mineiro, que também reabre trabalhos ao público.
Uma mostra sobre o brasileiro Abdias Nascimento (1914-2011), também tema de exposição recente no Masp, e uma obra do inglês Isaac Julien, que transita entre o cinema e a instalação, estão entre as novidades de Inhotim, que acaba de inaugurar novos trabalhos e programação.
O centro de arte contemporânea e jardim botânico – entre os principais museus a céu aberto do mundo –, em Brumadinho (MG), traz ainda a reabertura de cinco trabalhos que estavam manutenção: Deleite (1999), de Tunga, Desvio para o vermelho (1967-1984), de Cildo Meireles, A origem da obra de arte (2002), de Marilá Dardot, Viewing machine (2001) e By means of a sudden intuitive realization (1996), ambas do dinamarquês Olafur Eliasson. A Galeria Cosmococa, com cinco ambientes multissensorias criados por Hélio Oiticica e Neville D’Almeida na década de 70, que estava fechada à visitação por causa da Covid, também reabre ao público.
Além dessas obras, Inhotim exibe cerca de 700 trabalhos de mais de 60 artistas, em meio a um jardim botânico com mais de 4 mil espécies. A seguir, passeie pelas novidades que a ELLE foi conhecer de perto:
“Birutas (2021), de Arjan MartinsFoto: Brendon Campos
Os trabalhos externos de Arjan Martins e Laura Belém
Em um ponto alto de Inhotim, entre Piscina (2009), de Jorge Macchi, e A origem da obra de arte (2002), de Marilá Dardot, foi instalada Birutas (2021), de Arjan Martins, que discute em sua obra temas como migração e a diáspora provocada por movimentos coloniais. Como o nome sugere, no trabalho o artista carioca exibe cinco birutas, que indicam a direção do vento, confeccionadas a partir de bandeiras marítimas, que, por meio de códigos internacionais, transmitem mensagens (desde a solicitação de ajuda médica até o aviso de transporte de carga perigosa) entre embarcações e portos.
“Enamorados”, de Laura BelémFoto: Brendon Campos
A uma caminhada de distância da obra de Arjan, no lago entre as Galerias Mata e True Rouge, está Enamorados (2004), trabalho de Laura Belém, exibido na 51ª Bienal de Veneza (2005). Na obra da artista mineira, dois barcos a remo, equipados com holofotes e dispostos frente a frente na água, se iluminam e se apagam, primeiro em alternância e depois simultaneamente, numa espécie de namoro e em um ciclo constante.
O Teatro Experimental do Negro de Abdias Nascimento
À beira do mesmo lago onde está Enamorados, a Galeria Mata recebe mostra dedicada ao Teatro Experimental do Negro (1944-1968), criado por Abdias Nascimento (1914-2011). O movimento buscou espaço para pessoas negras nas artes cênicas e deu origem ao Museu de Arte Negra (MAN). É a segunda de quatro mostras previstas ao longo de dois anos sobre o dramaturgo, artista plástico e ativista na luta contra o racismo, em uma curadoria conjunta entre Inhotim e IPEAFRO (Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros). A mostra reúne fotos, documentos e pinturas, que incluem, além de telas de Abdias, trabalhos de artistas como Anna Bella Geiger, parte do acervo do MAN.
Foto da mostra sobre Abdias NascimentoFoto: Brendon Campos
Em diálogo com a exposição, Jaime Lauriano, um dos autores de Enciclopédia Negra, assina a curadoria de uma nova bibliografia dedicada a autores negros para integrar o acervo da biblioteca do Inhotim, que mistura HQ, literatura infantil e suas pesquisas sobre pan-africanismo e a história do negro no Brasil e nas Américas. O artista e curador abre o projeto Inhotim Biblioteca, que vai convidar artistas e pesquisadores para criarem bibliotecas temáticas e temporárias, que vão alimentar a principal, que já conta com milhares de títulos.
Para receber essa bibliografia, Lauriano recriou e subverteu o que seria o espaço de uma biblioteca, criando um ambiente em que não há estantes ou divisórias, com os títulos espalhados e com mobiliário que pode ser facilmente transportado, até para os jardins de Inhotim. “Queríamos muito criar uma biblioteca onde a gente sempre se vê. Aqui os livros são meios para os encontros”, disse o também artista e curador, na abertura do espaço. “Poderia ser uma garrafa de café ao centro, mas são livros.”
Foto: Brendon Campos
O resgate de Langston Hughes por Isaac Julien
Na década de 50, Abdias Nascimento trocou correspondências com o ativista, escritor e dramaturgo Langston Hughes (1902-1967), que autorizou o brasileiro a encenar suas peças pelo Teatro Experimental do Negro. Isaac Julien, que já tratou de nomes como Lina Bo Bardi em sua obra, expõe na Galeria Praça um de seus trabalhos mais importantes, recorrente em estudos afro-americanos, Looking for Langston (1989).
No filme, ele parte do universo de Hughes e de outros artistas e escritores negros que formaram o Renascimento do Harlem, movimento de valorização da cultura afro-americana, que uniu jazz, poesia e teatro, concentrado no bairro nova-iorquino, na década de 1920. “Essas preocupações recorrentes no trabalho e na vida de Abdias continuaram sendo relevantes para artistas nos anos 80, em Londres”, disse Julieta González, diretora artística de Inhotim, em referência a Julien. No trabalho criado na década de 80, em meio à pandemia da AIDS, o inglês enfatiza a participação de homossexuais no movimento do início do século passado, pontuou a diretora.
Fotos dos bastidores de “Looking for Langston”Foto: Brendon Campos
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