Lovefoxxx e Chuck Hipolitho se reencontram no TUM
Casal prepara o primeiro EP de seu projeto, uma história de amor e música.
Com pouco mais de quatro meses de vida, a banda TUM, da vocalista Luísa Matsushita, a Lovefoxxx, e do guitarrista e baterista Chuck Hipolitho, tem uma história curta, é verdade. Mas se não fosse o encontro da dupla Lovefoxxx-Chuck um dos mais festejados nomes do indie-pop brasileiro deste século, o Cansei de Ser Sexy, talvez nunca tivesse existido. Hã?
É que a história oficial do TUM pode ter começado em setembro, mas o encontro de Lovefoxxx e Chuck começou lá no final dos anos 1990. E foi importantíssima para o que veio a ser o CSS que conhecemos.
Pouco antes da virada do milênio, parte de São Paulo fervia na música eletrônica, com uma forte cena em torno de clubes (B.A.S.E.; Columbia) e clubinhos (Lov.e; Subclub, este no subsolo do Columbia), e também na moda, com eventos como o Phytoervas Fashion (que viria dar lugar à São Paulo Fashion Week), abrindo espaço para estilistas como Alexandre Herchcovitch, Gloria Coelho e Ronaldo Fraga.
A dupla em show no Popload Festival Foto: Wesley Allen
Lovefoxxx, que à época trabalhava com o estilista Caio Gobbi (que tinha uma loja na galeria Ouro Fino) e também com a jornalista Gloria Kalil no portal iG, circulava entre esses dois mundos. E passava bastante tempo assistindo à MTV. Em uma zapeada, viu e se apaixonou por um VJ magro, todo tatuado. Era Chuck Hipolitho.
Na MTV, Chuck foi à tela por acaso, porque João Gordo teve algum problema e não pode apresentar seu programa. Além da TV, ele era guitarrista do Forgotten Boys.
Ponto que resume como nenhum outro o fluxo de migrantes atraídos por São Paulo, a rodoviária do Tietê foi o local em que Lovefoxxx e Chuck se encontraram pela primeira vez, já em 2001. Os dois viajando para as cidades em que nasceram: ela, Campinas; ele, Pirassununga.
“Me apresentei, disse que o tinha visto na MTV, que gostava dele”, relembra a vocalista. “Eu estava lendo a biografia de alguma banda, acho que a do Motörhead, e a convidei pra sentar”, completa Chuck.
Conversaram e trocaram emails. Pouco depois, ela foi a um show da banda dele em Campinas. Ficaram e começaram a namorar. “Engatamos esse romance”, conta Lovefoxxx. ”Eu ia muito em boate gay, eram os lugares em que eu batia o cartão. Mas, depois que conheci o Chuck, comecei a frequentar clubes de rock, tipo Funhouse, Orbital. Pensando agora, se não fosse o Chuck, será que eu teria conhecido as meninas do Cansei de Ser Sexy na Funhouse? Fica a questão”, ri a vocalista.
Foto: Divulgação
Reviravoltas
Mais do que uma história musical, a história do TUM é uma história de amor. Claro, com reviravoltas. O romance durou cerca de um ano. “Eu era novinha, o Chuck era meu crush, aquele que eu via na televisão. Eu o adorava. Mas aí chegou um momento em que eu disse ‘chega’. Porque de um lado era o Chuck rockstar, levando aquela vida, e de outro, eu era a menina apaixonada, obcecada por ele”, diz Lovefoxxx. “Então, terminamos e fui tocar as minhas coisas, bloqueei ele da minha vida. Foi na época em que várias coisas começaram a rolar pra mim.”
A principal, sabemos, é o Cansei de Ser Sexy, que lançou músicas que levantavam pistas indies (“Let’s make love and listen to Death from Above”) e excursionou pelo mundo, tocando em festivais gigantes.
Depois do lançamento do disco Planta, em 2013, Lovefoxxx decidiu dar um tempo do CSS. “Queria fazer outras coisas, queria pintar! Estava com 30 anos”, relembra. “Fui estudar construção no deserto dos EUA (em uma escola/movimento de arquitetura sustentável chamada Earthship, criada pelo estadunidense Michael Reynolds no Novo México). Precisava de outra realidade além daquela da música, das turnês, das festas.”
Entre 2014 a 2016, ela viajou, como voluntária, para diversos lugares, como Argentina e Amazônia. Em seguida, se interessou por “multiplicação e adaptação de sementes”. “Também fui voluntária nessa área. Queimando o meu dinheiro! Vendi o meu apartamento em São Paulo e fui voluntariar.” Comprou um terreno pequeno em Garopaba (SC) e construiu uma casinha. “Mas era uma solidão, eu não conhecia ninguém na cidade.” Então, passou a vir com mais frequência a São Paulo. Hoje, é diretora de arte no estúdio do designer Kleber Matheus e mora em um apartamento na região central.
Enquanto isso, Chuck seguiu por outro caminho. “Fui morar nos Estados Unidos por um tempo. Depois, voltei e o Forgotten Boys teve uma fase muito legal, fomos capa da Ilustrada (caderno da Folha de S.Paulo), lançamos o disco Stand by the D.A.N.C.E.. Gravamos outros, saí da banda. Me casei com a Débora (a atriz Débora Falabella; em 2005), tivemos um filho (hoje com 13 anos). Montei a banda Vespas Mandarinas, tocamos no Lollapalooza, fomos indicados ao Grammy Latino. Então, voltei ao Forgotten Boys e, também, à MTV, como VJ.”
Foto: Priscila De Castro Faria
Deu em música
O reencontro de Lovefoxxx e Chuck, que levou ao nascimento do TUM, ocorreu em agosto de 2022. “Toda a raiva que eu tinha na época, na verdade não era raiva, era um recalque, passou!”, diz ela.
Chuck conta que, em alguns momentos nessas duas décadas em que estiveram afastados, chegou a procurá-la. “Dava um jeito de chamar atenção. Até nos encontramos na rua, em 2016. Conversamos um pouco, mas eu estava em uma fase da vida; ela, em outra. Nesse tempo todo, a Luísa ficou na minha cabeça. E aí, no ano passado, quando ela me procurou…”
O romance voltou. E, naturalmente, dizem, veio a vontade de fazer músicas juntos. “Estava fazendo uma trilha pra Fábula (marca infantil da Farm). Chamei o Chuck pra ajudar.” A trilha saiu, e a dupla, então, se animou para criar faixas de uma maneira mais constante. A união e a intimidade dos dois foram fundamentais não apenas para o nascimento do TUM mas também para que o processo que levou à composição das sete músicas da banda fosse tão natural como prazeroso.
A dinâmica entre os dois é até simples: Chuck cria a base da música no computador. Envia para ela. Lovefoxxx ouve, sugere alguma mudança na melodia, escreve a letra e devolve para ele. Chuck altera a melodia, insere a letra e então os dois fazem os ajustes finais. Foi assim que saiu “Polychrome”, a única faixa do TUM disponível nas plataformas digitais, por enquanto.
As letras são “extremamente pessoais”, conta Lovefoxxx. “Pra mim, o difícil é escrever sobre algo com o qual você não sente nada. A caneta não vai. E com ele é lindo, vai fácil. O Chuck ouvia as letras e me mandava áudios emocionados. É uma troca de afetos.”
Algumas das letras remetem a episódios de diários que Lovefoxxx escreveu enquanto ela e Chuck estavam afastados. “Escrevia tudo o que acontecia comigo. Até algo meio triste, porque tinha saído à noite e visto ele com alguém. Aí escrevia, bêbada: ‘Não vou mais ver esse cara, não quero mais’, com lágrimas desenhadas. Acho engraçado ter esses tesouros do passado. Ele foi o meu primeiro grande amor, e tenho uma memória ótima, lembro de tudo. Então, quando estou escrevendo as letras, parece que me transporto para esses momentos.”
A dupla ainda não sabe se vai lançar mais um single ou se soltará o EP completo, com as sete faixas. E aí sair para fazer shows – os dois primeiros, foram no Popload Festival, em outubro, e no recém-inaugurado Bar Alto (ambos em São Paulo), em dezembro.
“Adoramos fazer música juntos. Não fazemos pensando em outras coisas. Claro que é legal lançar, colocar no mundo. Mas gostamos do processo, das trocas”, diz a vocalista. “O projeto acaba gerando buzz. As pessoas estão se interessando. Mas essa intimidade e fluidez que a gente tem ao fazer música é algo que não queremos perder. Então, qualquer coisa que possa mexer com isso, não vamos topar. A gente já fez muita coisa, já sabemos como funciona a indústria da música. A Luísa viajou o mundo com o CSS. Eu já vivi muitas coisas com minhas outras bandas”, afirma Chuck.
O que dá para garantir é que, quando saírem para tocar por aí, será num esquema pequeno e visualmente minimalista. “Se pegar fotos de grandes festivais, como o Rock in Rio, vai ver que todo mundo hoje tem stylist. Quando o CSS começou, ninguém tinha”, diz Lovefoxxx. “Hoje os looks são bem over the top. Não é mais algo autêntico. Então a melhor coisa que a gente pode fazer é usar uma calça e camiseta branca. Simples, atemporal e elegante.”
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