Quarentena, dia 50, em dois minutos

Pensamentos e particularidades da subjetividade durante um dia de isolamento social são traduzidos em vídeo, texto e trilha pelo diretor Fábio Lamounier.


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Este vídeo faz parte do ELLE Stories, uma curadoria de vídeos, filmes e documentários inéditos feita pela equipe da ELLE Brasil, que você confere primeiro aqui, no nosso site.

O diretor de filmes e artista visual Fábio Lamounier se aproxima agora do 90º dia de quarentena. No dia 50, escreveu: “Parei de tentar botar rotina num tempo que não se faz dela.” A frase se alongou em texto e virou o vídeo
Dia Cinquenta, que estreia no ELLE Stories — nossa curadoria de vídeos com olhar particular sobre temas diversos.

“Nesse momento de isolamento, as questões pessoais ficam muito à flor da pele. No dia 50 eu estava pensando sobre relacionamento, principalmente. Tentei falar sobre essa subjetividade no vídeo”, conta. Essa vida íntima é tema do mi-ra, projeto do qual o vídeo faz parte. Fábio trabalha com audiovisual há dez anos e também tem uma produtora, a Doma02. Com o mi-ra, que começou em 2017, veio a possibilidade de fazer algo com teor pessoal e inspiração surrealista.


Primeiro, ele fez uma série de retratos que eram traduzidos em uma música de sua composição, já que ele também pratica o piano há dez anos. Depois veio uma segunda fase do projeto, mais focado na dança: foram cerca de 20 pessoas fotografadas dançando uma música com a qual tivessem conexão afetiva. O tempo passou e o projeto ficou em pausa até essa quarentena, quando ganhou novas nuances, apesar de o isolamento social não ser seu foco primordial.

O processo começa com um convite para que pessoas próximas escrevam um texto sobre um sentimento ou vivência e, então, narrem o escrito. “Pela impossibilidade dos encontros que antes tinha, resolvi criar essas conexões pelo virtual, realizando filmes à distância”, conta. As imagens vêm de seu próprio arquivo pessoal, feitas ao longo dos anos, ou de produções em casa. A música, tema recorrente no fazer de Fábio, também aparece aqui: uma produção no piano ou feita digitalmente costura o filme. “Minha ideia é trazer essas percepções íntimas e pessoais de cada pessoa que participa em imagens e som. O distanciamento permite um olhar mais carinhoso e atento pra subjetividades do cotidiano.” Em
Dia Cinquenta, ele se convidou para o desafio que era antes dado aos outros: produzir um texto sobre uma vivência particular.

Saúde mental, relacionamento e fofoca foram algumas das questões presentes na narrativa. “Hoje, com o meu terapeuta, discuti o fato de não me importar em mudar de ideia. Com uma boa conversa e argumento, por que não? Passou já o tempo de ficar se guardando por orgulho (no máximo por uma ideia vaga de proteção). A vida atravessa a gente”, relata o diretor em seu vídeo. As imagens, no entanto, não correspondem diretamente ao que está escrito: uma praia num dia nublado se contrapõe a uma pequena garrafinha de água, por exemplo. Estudioso do surrealismo, Fabio preferiu imagens que focam nas sensações: “É como se estivéssemos sonhando. Mesmo longe do mar, por exemplo, a imagem dele traz ora revolta, ora calmaria. Nostalgia, principalmente, já que ela sempre vem quando trabalhamos com o tempo. Quis transformar esse pensar, esse sonhar, ou essa angústia, em algo que fosse mais tátil”, finaliza.

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