Multiplique as plantas que você tem em casa sem gastar nada com isso

Ok, você já comprou várias plantas. Agora é hora de passar de fase e aprender a propagá-las. Descubra como fazer mudas de suculentas, samambaias, jiboias, costelas-de-adão, orquídeas, temperos...


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Primeiro você sonhou com uma parede verde na sua casa ou no apartamento. Então comprou uma samambaia bem cabeluda, um vaso de jiboia, uma linda costela-de-adão, ou até mesmo fez uma singela coleção de suculentas. Já assumiu no Instagram que é, sim, uma pessoa louca das plantas, alguém que quer fazer de seu apartamento uma floresta urbana. Você está preparado, então, para a segunda fase desse game: a propagação.

Não se assuste, até sua avó sabe bem do que isso se trata. Estamos falando de fazer mudas, plantar, enfim, multiplicar sua floresta particular sem precisar gastar quase nada com isso. Provavelmente você já tem tudo de que precisa em casa. E além de ser de graça (ou quase), essa atividade pode resultar em presentes para os amigos e ser fonte de bem-estar. Afinal de contas, colocar as mãos na terra nos conecta automaticamente com a natureza.

“O ser humano precisa das plantas, mas vivemos agora um momento histórico curioso, em que boa parte das pessoas adultas nasceram e cresceram longe da natureza”, explica Anderson Santos, biólogo e botânico, diretor da Escola de Botânica, em São Paulo. Isso porque no início dos anos 1980 as cidades passaram por um processo de verticalização, e muita gente que vivia em casas com jardim e quintal de terra batida passou a morar em apartamentos. E mesmo quem seguiu vivendo em casas, viu o jardinzinho se transformar em garagem. Adeus, terra, grama, sol e chuva. Olá, chão de cimento e telhado.

Nunca se pesquisou tanto sobre plantas no Google

A pandemia de Covid-19, que começou em 11 de março e parece longe de acabar, fez com que a ausência da natureza ficasse mais aguda. Trancados em casa, sem poder viajar ou sequer ir a um parque, as pessoas sentiram mais do que nunca a necessidade de levar o verde para dentro de casa. A proposta do design biofílico vai ao encontro dessa necessidade, e os dados do Google confirmam: a busca por “comprar plantas” disparou desde que o coronavírus chegou por aqui.

Planta é ser vivo, por isso não basta comprar: tem que cuidar, também. Observar, regar, nutrir. Uma vez dominados esses passos, prepare-se para colocar as mãos na terra, de verdade, e multiplicar as plantinhas.

Várias das plantas mais amadas pelos novos jardineiros urbanos são muito fáceis de reproduzir, e na maior parte dos casos, basta saber onde podar, um recipiente com água limpa e alguma paciência. Dá para usar copos e potes que você já tenha, ou aproveitar a fase da propagação para decorar a casa. O plant stylist norte-americano Hilton Carter lançou uma coleção de objetos que atendem aos dois fins: preparam as mudas e enfeitam ao mesmo tempo.

 

 

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Uma publicação compartilhada por Hilton Carter (@hiltoncarter) em 21 de Jul, 2020 às 4:41 PDT

 

Você pode ir atrás de recipientes decorativos, claro, mas não precisa. A seguir ensinamos, com a ajuda de especialistas, a reproduzir algumas das plantas mais populares do momento, que provavelmente você já tem em casa, com técnicas simples e eficazes.

Como fazer mudas de jiboia (Epipremnum pinnatum)

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Como fazer mudas de jiboia (Epipremnum pinnatum) Sandra Martins / Unsplash

Quer começar com uma planta bem fácil de reproduzir? A sugestão de Cristhian Gregoraschuk, proprietário da loja Guacho Plantas, em São Paulo, é experimentar com a jiboia. “É uma planta que vai muito bem dentro de casa e em sacadas, e, resistente, não pede tantos cuidados”, explica.

Vamos lá: “O mais importante é observar o caule da planta e encontrar o que chamamos de nó”, diz Anderson. Essa é a parte da planta de onde saem as folhas, e também de onde vão sair as novas raízes, quando você for fazer a muda. Por isso, não adianta tentar fazer uma folha sozinha enraizar: você precisa de um pedaço do caule, também.

No caso da jiboia, é muito é muito fácil localizar os nós dela: a cada folha há um nó. Dá para ver até uma saliência, que é uma raiz que pode se desenvolver.

Com uma tesoura afiada, corte a ponta de um dos ramos de sua planta. Cuide para que o ramo cortado tenha ao menos 5 nós – eles são fundamentais para que a muda dê certo. Coloque a ponta que foi cortada em um recipiente com água limpa, de preferência filtrada – a água comum, da torneira, tem muito cloro, o que pode retardar ou impedir o crescimento das raízes. Ah, não deixe folhas dentro da água: pode arrancar com a mão mesmo as que estiverem mais pra baixo do ramo, e deixe algumas para fora da água.

Troque a água com frequência, a cada dois ou três dias, para evitar a proliferação de bactérias e também para não deixar que sua experiência botânica se transforme em um criadouro de mosquitos. Deixe o recipiente próximo a uma janela, de forma que a planta se beneficie da luz do dia – mas nada de sol direto, o dia todo. Nessa fase, a muda está um tanto frágil, e não aguenta tanto sol assim.

Depois que brotar, você vai ver pequenas raízes, em geral branquinhas, surgindo a partir dos nós. Conte uma semana e pode transferir a muda para a terra, em um vaso onde ela vai crescer, se desenvolver e até gerar novas mudas para você.

Outras plantas similares à jiboia dão mudas da mesma maneira, como a Peperomia scandens e Peperomia serpens. Pode testar!

Como fazer mudas de costela-de-adão (Monstera deliciosa)

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Como fazer mudas de costela-de-adão (Monstera deliciosa) Brina Blum / Unsplash

A costela de adão é uma das plantas decorativas mais queridas, por causa de suas folhas esculturais, com recortes e buracos. Tanto é, que ela já virou estampa de tecido para roupas e decoração. A lógica da propagação da costela-de-adão é parecida com a da jiboia – a diferença, aqui, é que em geral a costela é uma planta de porte maior, e muitas vezes já tem raízes mais desenvolvidas soltas no ar.

Quando for podar a costela-de-adão, preserve na parte cortada, que vai gerar a muda, pelo menos duas folhas e uma raiz. Neste caso, por ser uma planta de porte maior, não se preocupe em enraizar na água. Pode plantar diretamente na terra – só cuide para que seja uma terra úmida, como as que podem ser compradas em lojas de plantas.

Cuide da muda com atenção, mantendo a terra úmida mas nunca encharcada, e rapidamente a planta vai dar sinais de que está crescendo, com novas folhas e novas raízes aparentes.

Como fazer mudas de samambaias

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Como fazer mudas de samambaias hannah grace / Unsplash

Samambaia é um nome popular para um grupo que conta com mais de 14 mil tipos diferentes de plantas. Pode colocar nessa lista a avenca, as rendas portuguesa e francesa, e, claro, todas as samambaias que você chama por esse nome: samambaia de metro, americana, prateada, havaiana…

Para reproduzir ou tirar mudas de samambaia, o processo é um pouco diferente. Ela tem, debaixo da terra, o que chamamos de “touceiras”, como se fosse um emaranhado de raízes de plantas que nasceram muito perto umas das outras.

Tire a samambaia do vaso, limpe o excesso de terra das raízes e, com as mãos, separe as touceiras, preservando as folhas. Não tem problema se algumas raízes se partirem no processo. Aí, basta replantar a parte que foi separada em um vaso, e a planta original em outro vaso, ambos com terra úmida e rica em matéria orgânica – procure na loja de plantas por terra vegetal com húmus de minhoca, por exemplo, ou substrato para samambaias.

Como fazer mudas de orquídeas

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Como fazer mudas de orquídeas

Aqui, algo que pode te surpreender: “Quando você compra uma orquídea na floricultura ou no supermercado, muitas vezes vem mais de uma planta no mesmo vaso”, conta Anderson. Então multiplicar orquídeas pode ser moleza. Espere terminar a floração, e aí tire do vaso. Delicadamente, separe uma planta da outra, e então replante cada uma em um substrato próprio para orquídeas. Elas vão crescer, cada uma em seu vaso, e dar novos ramos, hastes e flores.

Algumas espécies de orquídeas, como as Dendrobium, conhecidas popularmente como Olho de Boneca, e as Phalaenopsis, popularmente chamadas de Borboletas, dão brotos aéreos, com raízes expostas. Você vai identificar pela cor branca das raízes. Espere que elas se desenvolvam até ter três ou mais raízes, e então retire com cuidado da planta “mãe” e plante no substrato.

Como fazer mudas de suculentas

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Como fazer mudas de suculentas Fallon Michael / Unsplash

As queridinhas suculentas, que são decorativas e simples de cuidar, também são muito fáceis de reproduzir. Agora, esqueça tudo o que você aprendeu sobre as outras plantas. “Aqui, basta retirar uma folha da suculenta e deixar que ela fique sobre a terra, no vasinho”, explica Cristhian. A terra deve ser mais arenosa, aqui: misture metade de areia (não pode ser da praia!) e metade de terra vegetal. Não precisa enterrar, nem molhar demais. Só deixe ela lá, em paz.

Em alguns dias você poderá ver que uma nova planta nasce a partir da ponta da folha que foi arrancada. A folha “mãe” seca, enquanto a planta “filha” cresce. Inclusive, se você prestar atenção, isso muitas vezes acontece por acidente: uma folha quebra e cai no solo, e um tempo depois você tem uma planta novinha em folha – literalmente.

Como fazer mudas de espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata)

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Como fazer mudas de suculentas Cody Chan / Unsplash

A espada-de-são-jorge é uma planta bastante resistente e fácil de propagar. De forma semelhante às samambaias, ela também pode ser reproduzida por meio de divisão de touceira. Basta ter cuidado para não danificar o rizoma, parte do caule que cresce debaixo da terra horizontalmente.

Você pode plantar a espada-de-são-jorge diretamente na terra ou enraizar na água, como se faz com as jiboias. Lembre-se da importância de trocar a água com frequência e que, quando possível, é melhor usar a filtrada.

Como fazer mudas de temperos e comestíveis

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Como fazer mudas de temperos e comestíveis Roman Averin / Unsplash

As plantas comestíveis, como manjericão, alecrim, cebolinha também são simples de reproduzir, mas têm suas particularidades. O manjericão pode ser enraizado na água, como as jiboias. Para isso, já sabe: corte um pedaço do caule, preservando algumas folhas. Prefira cortar onde o caule já está mais lenhoso. Em poucos dias ele enraiza.

O alecrim, por sua vez, deve ser cortado e plantado diretamente na terra. “Ele é mais bruto, e na água costuma apodrecer antes de enraizar”, explica Anderson. A cebolinha pode ir da tábua de corte direto para o vaso, também. Pegue a pontinha que não usamos para cozinhar, e enterre na terra, deixando a parte verde para fora. Rapidinho ela brota. Se você tiver um vaso com várias cebolinhas e quiser fazer mudas, aí a técnica é a da divisão de touceiras, como a da samambaia.

Aliás, tudo o que brota na sua cozinha pode ir para o vaso com terra e assim você já vai montando a sua hortinha caseira: gengibre, alho, cebola, cenoura, batata… dependendo do tamanho do vaso – ou se você tiver quintal e chão de terra – você pode até colher mais batatas, gengibres ou alhos depois de alguns meses.

E se eu matar a planta?

Se depois de toda essa aula você se aventurou a fazer mudas e não deu muito certo, calma. Primeiro, tenha um pouco de paciência. “A planta é um ser vivo, que responde às mudanças como ela quer, e nem sempre isso é como você espera”, alerta Anderson. Por isso, não existe receita de bolo para cuidar de planta. Tudo é experiência.

Se a jiboia não soltou raízes, pode ser só questão de tempo. A luz, o clima, a qualidade da água, o ritmo da planta: tudo pode alterar o resultado final. Mude as variáveis, tente outra vez. Anderson sugere: “Crie uma rede de amigos que também curtem plantas e troque experiências, converse com o funcionário da floricultura, aos poucos você aprende”.

Outra dica preciosa do diretor da Escola de Botânica: esqueça o mito da pessoa que tem o “dedo verde”. “Isso não existe. Todo mundo que sabe cuidar de plantas, sabe porque tem experiência nisso. Não desistiu logo de cara, insistiu e foi aprendendo”. Então, já sabe: para ganhar o título de pessoa boa com plantas, talvez algumas verdinhas morram pelo caminho. Mas tudo bem. Como aprendemos, elas são superfáceis de multiplicar.

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