Nem só de gim vive a água tônica

O Gim Tônica está perdendo espaço para outros drinques da moda, mas não é por isso que você deve esquecer de vez do refrigerante com quinino. Desconstrua o conceito e faça o casamento da água amarga com destilados, licores, vermutes, amaros. É fácil, rápido e salva o fim de semana.


Três copos com drinques com água tônica e diferentes guarnições
Foto: Lena Sida / Unsplash



Coquetelaria é que nem moda. Se o grito de ontem não sobrevive ao último grito de Paris ou Milão nas passarelas, é hora de correr e pensar nas peças que vão te colocar no centro das tendências. Precisa? Nem sempre. Um guarda-roupa bacana e versátil nem precisa ser gigantesco, permite que façamos combinações espertas com o que temos à mão.

Moda é que nem coquetelaria. O Gim Tônica, veja só, brilhou quase soberano nas noites de calor pré-pandemia e foi perdendo espaço para outras manias. O Fitzgerald – drinque com gim, limão-siciliano e açúcar, servido em copo baixo – virou fenômeno nos bares de São Paulo e desbancou as taças bojudas.

O gim continua em alta. E a tônica, coitada, o que fazer com ela? Assim como quem sabe criar um monte de looks com uma única blusa florida, podemos desconstruir o conceito do G&T e descobrir um mundo de possibilidades com a aguinha gasosa e amarga. Ela vai bem com quase todas as bases alcoólicas – licores, destilados, amaros, vermutes.

“A tônica permite drinques leves, menos alcoólicos e muito refrescantes, em infinitas variações. Dependendo da marca, da fórmula e do tipo de base que se usa, podemos criar coquetéis que brincam com o dulçor ou privilegiam o amargor”, diz a bartender Thays Paiva, residente no Hortus Gastrobar, de Blumenau, e parceira da vodca Kalvelage.

A técnica de misturar com tônica é quase sempre a mesma do highball, estilo de coquetel fácil e rápido de fazer. Dependendo do grau de açúcar da base ou mesmo da tônica, você pode colocar um tiquinho de sumo de limão – taiti ou siciliano – para equilibrar a receita. Frutas e ervas, usadas de maneira elegante, muitas vezes finalizam bem esses coquetéis altos. 

Sim, altos. A taçona bojuda é um acessório que não frequenta mais as bocas de quem está em dia com as tendências etílicas, muito menos o bico de quem se manteve fiel à tradição. O copo alto sempre foi e sempre será a forma clássica de servir highballs e um bartender mais nerd sugerirá seu uso. 

Não é só questão de moda ou pura decisão estética. “O copo alto é sempre a melhor opção para os drinques carbonatados. Ele retarda a diluição do gelo e segura a perlage da tônica ou de qualquer outro elemento gasoso, mantendo o coquetel gelado e borbulhante por mais tempo”, diz Thays. De qualquer forma, quem cuida do seu copo é você. Se quiser taça, às favas com as tendências.

Só não vale querer transformar samambaia em avenca. A principal característica da água tônica é o amargor, vindo do quinino. Ele deve estar presente, nunca disfarçado. Se essa não for sua parada, melhor partir para outros refrigerantes ou mesmo água com gás para compor os tragos altos. Hoje há ótimas e inúmeras opções de ingredientes no mercado, não apenas coca, guaraná e soda limonada.

Para quem quer maneirar nas calorias, outra advertência: algumas marcas exageram no açúcar para mascarar o amargor. “Não podemos esquecer que a tônica é um refrigerante – com água, gás e açúcar – e que é legal maneirar no consumo, se o caso é manter a linha ou manter o nível de glicose em dia.”

O que vai bem com tônica

Bartender despeja líquido transparente em copo com gelo

Foto: Michael Odelberth / Unsplash

Licores

Todos os licores de frutas serão bons companheiros da tônica. Se você tem uma garrafa encostada no canto do bar, pode começar a fazer experiências. Só não valem licores leitosos, como chocolate, coco ou doce de leite, pois não vão bem mesmo com os carbonatados – fica tipo siri com Toddy.

Os coquetéis com licores de frutas vermelhas ou de pêssego podem ser guarnecidos com fatias de morango, com amora ou com framboesa. Para o limoncello, uma das bases preferidas de Thays, por sua alta refrescância, também vale a harmonia por semelhança: um gomo ou uma casquinha de limão-siciliano torcida no topo. 

Agregar limão aos coquetéis com licores é uma pedida para quem quer equilibrar o drinque, cortando um pouco a sensação de açúcar. Se o seu lance é dulçor na veia, dispense o limão e seja feliz.

Destilados brancos

Vodca, tequila, cachaça, rum… Vale fazer experiências com diversos destilados sem passagem por madeira e diferentes tipos de tônica. O resultado quase sempre é bem refrescante e, mais uma vez, a imaginação voa.

A vodca, por ser neutra, aceita bem a companhia de tônicas saborizadas. Na tônica com tequila, você pode agregar um pouquinho de limão e uma pitada de sal, para trazer ao trago as características do modo tradicional de beber o destilado de agave. A cachaça pode ter notas florais e frutadas e aceita uma tônica mais picante, com gengibre ou especiarias na fórmula. O mesmo vale para o rum.

Para guarnecer os drinques brancos, rodelas, gomos ou casca de limão são bem vindos. Raminhos cheirosos, como os de alecrim, hortelã, tomilho, sálvia, manjericão ou orégano fresco, também podem perfumá-los. Rodelas de pepino, que trazem frescor e perfume, também guarnecem bem os brancos. Duas ou três, no máximo, para não virar salada.

Destilados amadeirados

Uísque escocês, bourbon, rum envelhecido e cachaças escuras que passaram por carvalho ou amburana combinam com tônicas com menos teor de açúcar, para quem quer drinques mais secos. “A tônica ressalta o amadeirado dessas bebidas”, diz Thays.

Para a guarnecer os amadeirados, a laranja-baía é uma das melhores opções (qualquer outro tipo de laranja vai arruinar seu coquetel). O limão-siciliano também pega bem. É sempre legal dar uma torcida na casca dos cítricos sobre o copo, antes de servir, para que liberem os óleos essenciais e perfumem os drinques.

Vermutes e amaros

Vermutes ou aperitivos são especialmente indicados para a mistura com água tônica, ainda mais para quem gosta de drinques puxados para o amargor. Os vermutes tintos, apesar de terem notas amargas, também têm dulçor. Alguns amaros, idem. Por isso, vale a dica de agregar um pouco de suco de limão, se preferir cortar o açúcar do coquetel.

Dá para escolher vários tipos de vermutes tintos ou marcas de amaro como Cynar ou Artichoke San Basile, Campari, Amaro Montenegro, Amaro di Angostura, Amaro Stomatico, Fernet Branca ou Fernet San Basile, Jägermeister, Brasilberg, Paratudo e opções mais suaves, como o Aperitivo Ramazzotti Rosato e o Aperol. A lista vai longe…

A laranja continua sendo boa companheira para esses drinques tônicos, mas tente variar com ervas e outros elementos de aroma. O Cynar Tônica com um pouco de limão, guarnecido com um raminho de hortelã, é uma das pedidas mais baratas e gostosas que a gente pode inventar num fim de semana sem grana. “É refrescante e tem um paladar aberto”, comenta a bartender.

Na linha clara, vinhos fortificados e aperitivos à base de vinho branco dão o tom. Porto branco seco com tônica, mistura apelidada de Portônica, é hit em Portugal. Vermute branco seco é bom para quem quer suavidade e pouco açúcar. O aperitivo Cocchi Americano, com amargor acentuado, mas também uma boa dose de dulçor, cria um tônico bem complexo.

Para vermutes e amaros, vale também o serviço no copo baixo. Como essas bases são mais complexas em aroma e sabores, você pode diminuir a quantidade de água tônica para obter coquetéis mais potentes.

Como escolher sua água tônica

Copo alto com muito gelo e bebida cor de âmbar

Foto: Stanislav Ivanitskiy / Unsplash

 

 

Clássicas e básicas
As águas tônicas Antarctica, Schweppes e Prata são fáceis de encontrar nos mercados país afora. As duas primeiras trazem bastante açúcar. Já a Prata, mais equilibrada, é indicada para quem quer maneirar na doçura. Menos conhecida, a St. Pierre, um tantinho carregada no amargor, é uma dica de Thays Paiva.

Fever Tree
A marca inglesa é considerada por muitos bartenders a rainha das tônicas. “São mais caras, mas a qualidade que entregam vale o investimento”, diz Thays. Mediterranean é mais básica, mas conta com botânicos como tomilho e alecrim na fórmula. Indian traz aroma de laranja e vai bem com os amadeirados. Aromatic é bem complexa, com cardamomo, pimenta e gengibre.

Wewi
A marca orgânica brasileira, além da tônica clássica, tem outras duas versões indicadas para quem gosta de inventar moda. A Ginger Tônica também é boa para destilados com madeira, sobretudo o rum. A Tônica Rosé, com adição de açaí, vai superbem com licores de frutas vermelhas ou com destilados brancos, quando se quer cor no copo.

London Essence
As tônicas da London Essence, outra marca inglesa, têm fórmulas cheias de aroma. Indian Tonic vem com extrato de limão, óleo de lima e amargor sutil. Blood Orange & Elderflower tem óleos cítricos de laranja sanguínea (uma espécie vermelhona) e o cheirinho de flor de sabugueiro. Grapefruit & Rosemary é só traduzir: toronja e alecrim.

Riverside
A marca brasileira, também bastante respeitada pelos bartenders, tem duas receitas. A Original tem adição de laranja amarga californiana e a Siciliana, aroma de limão-siciliano. Ambas são elaboradas com quinino da Amazônia, segundo a empresa.

202
A 202 Tônica, marca de um rótulo só, foi criada pelo chef Marcos Lee e destinada a quem gosta de intensidade. Tem uma dose extra de quinino, para quem é dos amargos, e aroma de flor de sabugueiro.

Baixas calorias
Há várias opções com pouco ou zero açúcar no mercado, mas Thays alerta: “algumas têm um forte sabor residual de adoçante”. Para saber qual seu nível de tolerância ao gosto de edulcorante, só provando. A versão normal da FYS tem 45% menos açúcar e a marca também conta com um rótulo zero, ambos com aroma de limão siciliano. A Riverside Light tem 29% menos calorias em relação à versão normal. Prata, St. Pierre, Antarctica e Schweppes têm produtos zero açúcar. 

Receita-base de um coquetel com tônica

Pessoa segura copo alto com bebida transparente e rodelas de limão

Foto: Timur Weber / Pexels

Depois de conhecer todas essas opções, é hora da parte prática! Thays dá uma receitinha que pode ser montada com várias bases e completada com o tipo de tônica (ou outros gasosos) de sua preferência. Seguindo a técnica correta, não há como errar. Se não gostar, há um mundo de ideias à frente para testar.

Ingredientes

45 a 60 ml de base alcoólica
10 a 15 ml de suco de limão (opcional)
Água tônica (cerca de 125 ml) para completar

  1. Modo de fazer
  2. 1. Coloque gelo até a boca no copo alto. Isso é de extrema importância, pois ajuda a manter a bebida bem gelada até o último gole.
    2. Sirva a dose de álcool preferida.
    3. Despeje o suco de limão, se for o caso de usá-lo.
    4. Despeje a água tônica com a boca da garrafa ou da lata bem próximas ao copo. Thays ensina que, quanto menos contato o elemento gasoso tiver com o ar, menos bolhinhas vai perder.
    5. Mexa suavemente com a colher de bar, de baixo para cima.
    6. Finalize com a guarnição adequada – uma ou duas, no máximo. Fica combinado que tascar um monte de perecoteco no drinque também é beeeem década passada.

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