O que rolou na festa de 100 anos de Pierre Cardin
Sobrinho-neto do estilista reedita peças clássicas da grife e arma desfile em Veneza, cidade natal do designer, para apresentar primeira coleção da marca sem seu fundador e pai do prêt-à-porter.
Comemorar 100 anos de vida com um desfile nas dependências de uma de suas propriedades era um sonho de Pierre Cardin. O estilista, empresário e homem visionário que fez do seu nome uma das marcas mais conhecidas do mundo não chegou lá. A estrela de Cardin se apagou no dia 29 de dezembro de 2020, aos 98 anos, no dia em que Rodrigo Basilicati Cardin, seu sobrinho-neto e braço-direito nos últimos anos de vida, completava 50 anos.
Então, para realizar o desejo do estilista fundamental na história da costura, o herdeiro realizou neste fim de semana o desfile Cent, exatamente no dia 2 de julho em que Pierre nasceu, na região de Veneza, entre as águas do Mar Adriático.
O herdeiro e sobrinho-neto de Pierre Cardin, Rodrigo Basilicati Cardin.Divulgação
Para a festa, que durou dois dias, uma passarela foi montada no pátio interno e dentro dos domínios do suntuoso Palácio Bragadin, casa de Rodrigo na cidade. O evento recebeu 300 convidados, sem celebridades ou modelos famosas, no qual estiveram presentes amigos da família e 120 licenciados que produzem em todo o mundo a marca Pierre Cardin.
A nova coleção, feita pela equipe do estúdio Cardin, foi supervisionada pelo sobrinho-neto e recria as silhuetas futuristas do designer, como o vestido trapézio e os detalhes geométricos aplicados em golas de mantôs.
A novidade é o olhar ambiental da coleção. As peças foram feitas com estoques de tecidos da maison, poliésteres reciclados e fibras naturais, mais especificamente de lótus e banana, vindas de uma fábrica cambojana encontrada nas pesquisas de Rodrigo, que, além de pianista, também é designer e engenheiro.
Também é dele a grande novidade visual, o novo modelo da linha de óculos Evolution. O número 9, como foi batizada a peça, saiu em uma edição limitada com 500 pares, já à venda nas butiques Pierre Cardin e em óticas que representam a marca. Eles podem ser encomendados nas óticas brasileiras que trabalhem com a grife ou pelo e-commerce.
Modelo de óculos “Número 9”, da linha Evolution da grife Pierre Cardin.Divulgação
Rodrigo conversou com ELLE sobre o desafio de continuar o legado do tio-avô. Leia trechos editados.
Como acha possível dar continuidade a uma marca que sempre foi comandada apenas por Pierre Cardin?
É impossível, mas tenho minhas possibilidades e meu tio queria que eu desse continuidade com meu talento, com minha maneira de desenhar. Ele formou um time muito forte. Temos muitas pessoas trabalhando com a gente há muito tempo, o que é muito bem-vindo. É evidente que não podemos apenas trabalhar com o passado, mas eu tenho o meu próprio estilo e ele mesmo disse, quando criei os óculos, os móveis ou mesmo um barco,“Rodrigo, pode ser Pierre Cardin, mas eu consigo ver o seu lado, a sua criação”. Ele percebeu isso e eu não tenho porque não acreditar.
E os planos para o futuro?
Pretendo nos próximos dois anos encontrar talentos que possam colaborar conosco. Temos que formar novos estilistas com a sensibilidade para desenhar coleções abstratas como as nossas, mas é importante não forçar ninguém a ser diferente do que eles são. Já estou começando a procurar nos países onde temos licenciados e vamos juntos, minha equipe e eu, conseguir dar uma nova direção ao que esse homem tão maravilhoso construiu.
O estilista Pierre Cardin.Archives Pierre Cardin
Como o sr. sente recebendo o legado de Pierre Cardin?
Muito bem, porque os últimos dois anos passei muito tempo com ele e, no último ano, fiquei ao seu lado dia e noite. Tive tempo para ver as coisas de dentro, a genialidade dele e para perguntar muitas coisas. Agora, finalmente sinto que não é simples e não é claro esse caminho, porque ele fazia tudo sozinho e eu preciso administrar tudo, preciso encontrar ajuda e ter tempo para buscar novas ideias. Esse é o meu desafio agora.
A sustentabilidade aparece como uma prioridade na nova fase da Pierre Cardin? Vendo a coleção Cem, que é toda feita com materiais já existentes e reaproveita matéria orgânica, parece ser um caminho.
Sim. Como engenheiro, entendo de uma maneira mecânica e física o que exatamente temos de fazer para conseguir criar novas maneiras [de criar] e novos materiais sustentáveis. Estamos trabalhando nisso com empresas que eu conheço e pretendo encontrar novas fórmulas de reaproveitar materiais.
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