A moda funcional e responsável de Artur Malta
Estilista mineiro tem os esportes como ponto de partida da sua criação e, agora, se volta para as técnicas de upcycling.
Artur Malta, 29, é o caçula de três irmãos e o único que não pratica esportes. Sua irmã é do crossfit, o irmão, piloto profissional e os pais, além de viajar constantemente de moto, são ciclistas. “O jeito que encontrei de viver o lado esportista foi por meio dos tecidos, das texturas”, fala ele, de seu ateliê na sua cidade natal, Lagoa do Prata, no interior de Minas Gerais.
Há cerca de quatro anos, Artur comanda a marca homônima que tem a funcionalidade como uma de suas principais características. O motivo para tanto tem a ver com a vivência familiar. “Sempre os acompanhei e admiro muito como as roupas que usam são bem construídas.” Ele explica, por exemplo, como os uniformes usados no motociclismo têm adaptações, enxertos, deformações corporais, tecidos e materiais feitos para proteção e isolamento térmico.
“Isso me chamou a atenção e comecei a conversar mais com eles para entender o que precisavam usar e por que”, fala ele. Vem daí as modelagens inspiradas em itens esportivos para dar utilidade e versatilidade extra à regatas e vestidos de tricô, casacos e blusas de crochê e alguns itens de alfaiataria. “Logo que comecei a marca, um dos valores que eu queria manter era de uma roupa adaptável aos turnos. Pensamos no esporte como uma qualidade que permite essa adaptabilidade, de algo que pode ser usado de manhã, de tarde, de noite, em várias situações.”
Foto: Sérgio de Rezende
Artur foi parar na faculdade de moda meio por inércia. Além de esportistas, seus pais também foram ligados à moda. Sua mãe é costureira e o pai tem um gosto especial para composições de looks elaborados e, às vezes, até fantasiosos. “Isso me fez tomar muito gosto pela roupa e pelo espetáculo”, comenta o estilista. Durante algum tempo, eles também foram donos de duas lojas de tecidos, primeiro, em Lagoa do Prata, depois, em Belo Horizonte, para onde a família se mudou.
“Ao sair do interior, fui atrás do meu sonho de estudar moda e procurei uma faculdade que tivesse pontos fortes no que eu não sabia, como desenhar”, diz Artur. Acabou na FUMEC e ainda passou um período na Universidade Beira Interior, em Portugal, especializada em fabricação têxtil.
Fotos: Matheus Aires
Para o TCC, criou uma coleção em cima do livro História da Feiura, de Umberto Eco. “Era toda branca, com corsets, texturas de lençóis, transparências”, relembra. “Queria falar de como esses conceitos entre belo e feio foram construídos na representação da mulher.” As roupas foram muito bem recebidas e não só academicamente. Logo surgiram pedidos para comercialização de algumas delas. “Não produzi nenhuma e aproveitei para começar a minha marca”, fala.
A ideia era trazer outros valores sempre presentes em suas criações, mas que acabaram excluídas da conclusão de curso por questões de adequação ao tema. Uma delas, como já dito, é a questão da funcionalidade dos trajes esportivos e do activewear. Dessa ideia vem uma das principais matérias-primas da Artur Malta: o algodão. O estilista explica que suas bases são todas da fibra natural para garantir máxima versatilidade e conforto. “E quando usamos algo sintético, tentamos reduzir ao máximo para que não fique algo quente demais.”
Como exemplo, ele cita um bustiê de plástico reaproveitado da quarta e mais recente coleção. “Como é um tecido que não respira bem e esquenta, decidimos fazer algo pequeno e pontual”, comenta. O upcycling, aliás, é um dos principais destaques desse lançamento. “Nós sempre partíamos do desenho para buscar os materiais, porém, devido à escassez e dificuldades financeiras impostas pela pandemia, fizemos o caminho contrário”, diz Artur.
Fotos: Matheus Aires
A ideia inicial era usar algumas sobras de uma loja de tecidos local. “Fomos lá ver o que ele tinha parado e acabamos encontrando todo um universo de possibilidades. Descobrimos uns tecidos antigos que tinham ficado expostos ao sol e ganharam uma estampa natural, outros que ganharam outras tonalidades com a ação do tempo e acabamos nos apaixonando por esse processo.” No fim, 70% da coleção é feita de materiais já existentes, incluindo alguns das antigas lojas dos pais de Artur e peças de coleções passadas.
Os outros 30% são compostos de peças de crochê feitas por uma artesã de Lagoa da Prata, de acessórios do designer mineiro Carlos Penna e da primeira linha de sapatos da marca. Outro destaque são as bolsas. “É nossa aposta pra essa coleção. Elas são metade cabaça e metade tricô”, conta Artur. “Elas foram produzidas num processo bem manual. Fizemos essa curadoria de cabaças saudáveis, tratamos, lixamos, furamos e colocamos os ilhóses. Só depois elas ficam prontas pra ser tricotadas”, finaliza.
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