Batsheva retorna à passarela da NYFW subvertendo clássicos

Vestidos de ares campestres (ou quase) e com profusão de babados e mangas bufantes foram desfilados por homens, mulheres e pessoas não-binárias.


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Fotos: Getty Images



Batsheva Hay começou sua carreira na moda ao questionar por que não encontrava os vestidos que via nos brechós em marcas de ready-to-wear. Em 2016, ela decidiu recriar uma peça da designer Laura Ashley que havia encontrado em uma loja de segunda mão e, já que teria que pagar uma costureira, fez algumas mudanças: adicionou uma gola Peter Pan, acinturou a silhueta e transformou as mangas retas em bufantes. Comprou alguns tecidos no eBay (o que ela ainda faz, até hoje) e mandou fazer três vestidos.

Mãe de dois filhos e dona de um lar judeu ortodoxo, Hay gostava de como vestidos comportados, com toque retrô e ares campestres, tipo os usados no século 19, eram transformados quando usado por mulheres fortes como Courtney Love. Ela adotou o estilo no próprio guarda-roupa, e, após muitos elogios pelas ruas do Upper West Side, enquanto passeava com seus filhos, nasceu a Batsheva.

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Desde então, são os mesmos conceitos, gostos e silhuetas que compõem o DNA da marca – e que conquistaram toda uma legião de fãs. Parte do sucesso vem justamente da subversão de códigos clássicos por meio de tecidos de upcycling e de uma comunicação que deixa evidente que as definições de feminino e masculino caíram por terra.

E seu retorno às passarelas da NYFW é um grande reforço disso tudo.

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Hay coloca toda uma sorte de pessoas na passarela improvisada entre as mesas do Serendipity, um restaurante em Uptown com estética similar às suas criações. A proximidade dos modelos com o público traz um ar familiar à apresentação, meio reunião de amigos. Algumas das modelos, aliás, eram clientes: homens, mulheres, pessoas trans e não-binárias, adolescentes, idosos, altas, baixas, magras e gordas.

Volumes, babados, golas Peter Pan, meias tie-dye, calças capri, tricôs com ar de segunda mão, vestidos náuticos estampados e poás completam a cacofonia de elementos vistos por muitos como antigo, mas que, nas mãos da estilista, se tornam novos. Se não pelo design, pelo discurso, pelo processo de feitura e, principalmente, por quem os veste.

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E isso tem sido algo recorrente nesta edição da semana de moda de Nova York. Boa parte das marcas que desfilaram até o momento, optaram por apresentar roupas bem próximas de suas próprias identidades ou estilos já bem conhecidos, do que inovar ou ousar em termos de design. Por outro, assuntos urgentes e relevantes, antes quase que completamente ignorados, como questões ambientais e identitárias, agora se mostram no centro das atenções de muitos criadores. Sinais do tempo que chama.

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