Cintura decorada: a volta das belly chains
Tendência hit dos anos 2000 retorna da moda praia à de luxo e sem restrições de corpos.
Já era de se esperar, né? Afinal, se a cintura baixa, as borboletas cobertas de strass, as blusas frente única, os óculos máscara e os tops mais do que cropped voltaram a despertar desejo, por que seria diferente com as belly chain ou chain belt? Sim, estamos falando daquela famosa (ou infame para alguns) correntinha presa na cintura despida que marcou a moda dos anos 2000.
Como as outras tendências que mencionamos acima, o acessório ressurgiu com o tsunami nostálgico da estética da virada do milênio, o tal estilo Y2K, promovido por uma série de jovens nas redes sociais, com destaque para o TikTok.
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Inicialmente, o retorno do cintinho de corrente chegou num contexto mais praiano do que urbano. Uma possível explicação é o fato de os body chains, uma versão mais complexa da peça que cobre todo o torso já estar bem disseminado dentro e fora das passarelas. Assim, elas eram uma opção descomplicada para momentos mais casuais. Kylie Jenner, Jade Picon e Bruna Marquezine foram algumas das famosas que não tardaram a adotar o visual.
Com o passar do tempo – e bem pouco tempo –, versões mais sofisticadas começaram a dar as caras , inclusive entre marcas de luxo. A Jacquemus foi uma das primeiras e com muita propriedade. É que a marca tem uma quedinha especial pelo estilo praiano do sul da França. Na passarela, porém, o acessório chegou bem fininho, meio discretão, combinado a um conjunto de peças de algodão com corte de alfaiataria.
Jacquemus, inverno 2020. Foto: Divulgação
Chanel, verão 2022. Foto: Divulgação
Chanel, pre-fall 2022. Foto: Divulgação
Depois, na temporada de verão 2022, foi a vez da Chanel. Numa coleção nostálgica dos anos 1980, as belly chains, bem semelhantes às alças de corrente da bolsa 2.55 foram usadas para decorar maiôs e tailleurs. E assim continuou nas estações seguintes.
Por mais que pareça saído de um videoclipe da Britney Spears, o acessório faz parte da expressão cultural e identitária de diversos povos. “Os primeiros registros vêm da África, principalmente de países como Egito, Nigéria e Gana, onde são usados até hoje como símbolo de status, feminilidade e fertilidade”, diz Carla Lemos, autora do livro Use moda a seu favor.
Segundo a consultora de estilo Rafaella Arrais, as belly chains também aparecem em trajes típicos da Índia e do Paquistão. “Em algumas culturas, as cores e materiais têm significados e intenções diferentes. Eles são usados conforme a necessidade de cada mulher em determinado momento, como o uso de pedras turquesas para trazer sabedoria ou do vermelho para amor e paixão”, diz a especialista.
Rihanna. Foto: Getty Images
Atualmente, a simbologia do acessório está muito ligada aos waist beads. São cordões de contas que são amarrados na cintura de uma forma que não podem ser retirados sem serem partidos. Mulheres de religiões de matrizes africanas usam os cordões para aumentar a fertilidade, enaltecer a sua feminilidade e, em alguns casos, para ter mais autoconhecimento sobre o tamanho de seu corpo. No Tik Tok, o termo “waist bead” tem mais de 46 milhões de visualizações.
No início do século 21, o acessório entrou para o tapete vermelho nos corpos de artistas do hip hop e R&B, como Aaliyah e o trio do Destiny’s Child. As belly chains eram o par perfeito das cinturas baixas e das blusas cropped que dominavam as tendências da época.
Jennifer Lopez. Foto: Getty Images
Devyn Garcia em editorial da ELLE US. Foto: Cass Bird/ELLE
Mas se, duas décadas atrás, a peça só era vista em corpos magros, agora não é bem assim. Do mesmo jeito que outros elementos do estilo Y2K foram ressignificados, as belly chain também se desprenderam de algumas limitações. Nos últimos anos, os movimentos do corpo livre ganharam força e abriram a possibilidade de que a gente não precise, mais uma vez, se enquadrar em um padrão ou tamanho diminuto para poder usar as roupas que do momento.
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Uma pessoa gorda, com a barriga saliente e cintura larga, pode adornar o seu corpo com as belly chains de forma muito mais livre e sem culpa. “A gente pode escolher jeitos de usar o belly chain que não necessariamente tenham a conotação de evidenciar o corpo magro. Nenhum corpo deveria ter ‘exclusividade de uso’ de qualquer coisa que seja”, diz Rafaella Arrais.
Para Janaina Souza, consultora de imagem e stylist e integrante do RCNI Brasil – Rede de Consultoras Negras de Imagem –, mesmo que uma tendência dos anos 2000 volte, nem tudo o que ela representa deve retornar junto. “A estética Y2K, no geral, apresenta questões mais delicadas em pessoas que queriam seguir a moda, mas eram intituladas como fora do que, infelizmente, ainda é considerado padrão ou belo”, diz ela. “Tendência boa é aquela que abraça e acolhe todos os corpos.”
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