Estamparia Social discute papel da moda em tempos extremos

Recorde de frio em São Paulo fez Robson Sanchez desistir de coleção e criar moletons para distribuir a moradores em situação de rua. Vídeo com resultado da ação foi exibido na Casa de Criadores.


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Não foi difícil a decisão da Estamparia Social de não apresentar uma coleção, mas sim um produto com impacto social como o modelo de moletom distribuído a pessoas em situação de rua. Não daria para esperar menos dessa marca que qualifica egressos dos presídios de São Paulo, usando a moda como ferramenta de transformação. Com o recorde de frio na cidade, o coordenador do projeto, Robson Sanchez, pegou o dinheiro que tinha no caixa para entender como poderia ajudar.

“Qual é o papel da moda na sociedade? E o das marcas na moda?”. Foi com essas duas perguntas e um depoimento de Gilberto Gil que o vídeo da Estamparia Social tomou forma. “Nós não viemos para ser uma potência hegemônica, viemos pra ser uma potência solidária”, disse o ex-ministro da Cultura em um registro antigo.

Sanchez também questiona a prática ainda vigente em algumas marcas do varejo de estocar roupas, e até queimá-las, em vez de doar para quem precisa.

Para o vídeo, exibido na Casa de Criadores, a Estamparia Social também convidou o cantor Dexter, que compartilha sua vivência e critica as políticas assistencialistas insuficientes do governo durante a pandemia.

Em conversas com o padre Júlio Lancellotti, Sanchez, por fim, decidiu investir em moletons para distribuir pelas ruas da capital paulista. Neles, lê-se “Não Estamos no Mesmo Barco”, frase que destaca a situação que se tornou ainda mais gritante com a pandemia e o governo Bolsonaro.

Segundo levantamento da Estamparia Social e do próprio Lancellotti, a população de rua aumentou 144% no último um ano e meio. E, para Sanchez, é hora da moda agir. “Nós não estamos no mesmo barco mesmo. Alguns estão de iate, outros a nado e sem boia. Precisamos trazê-los para o nosso barco.”

Com a campanha, além dos 360 moletons estampados em serigrafia pelos estudantes do projeto, foram doados 125 cobertores e 100 cestas básicas. A ideia é manter a campanha até o frio acabar e, depois, atacar outros problemas que estão sendo discutidos com o padre. “Não vamos conseguir agasalhar São Paulo inteira. Chegamos em poucas pessoas, somos uma empresa pequena e não somos famosos. Mas, cabe a nós tentar mudar essa moda cafona e elitista”, resume Sanchez.

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