A história da calça de cintura baixa, febre absoluta nos anos 2000

Ainda não podemos dizer que o cós na altura dos ossos do quadril está tendo um revival, mas o estilo tem pipocado em alguns desfiles internacionais e conquistado fashionistas. Relembre como ele marcou época.


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Foto: Ray Mickshaw / Getty Images



Hit nos anos 2000, a calça de cintura baixa parece estar vivendo um leve momento de euforia impulsionado pela recente onda de nostalgia que vem ressuscitando elementos simbólicos daquela época. Fashionistas como Bella Hadid, Kendall Jenner e Hailey Bieber, que eram novinhas demais para curtir o estilo durante a sua era de ouro, são fãs do cós extremamente baixo, exibindo o umbigo e os ossinhos do quadril. Fendi, Versace e Balmain foram algumas das grifes que incluíram peças com essa característica fundamental em seus desfiles no último ano.

Ainda não é possível afirmar se as calças, as saias e os shorts de cintura baixa vão realmente voltar com tudo ou se serão apenas pinceladas emocionadas em homenagem à moda do início do milênio. No entanto, é inegável que o corte ousado, quase sempre atrelado à barriga de fora, marcou uma geração e definiu uma era. A seguir, saiba como essa febre surgiu e relembre a sua hegemonia.

Saint Tropez, a irmã mais velha da cintura baixa

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A calça Saint Tropez foi a primeira a mostrar o umbigo Silver Screen Collection / Getty Images

O umbigo ficou escondido por muitos e muitos séculos até o surgimento da calça Saint Tropez nos anos 1960. Lucas Boccalão, editor de moda da ELLE, conta que, antes disso, o gancho padrão era sempre comprido. “A altura do cós tinha normalmente 30 centímetros. O que hoje é considerado cintura alta, naquela época era calça normal”, conta.

Foi só durante os Anos Rebeldes, em que uma juventude pulsante promovia transformações culturais significativas, afetando diretamente a forma de se vestir, que a barriga começou a ser exibida – inclusive no litoral. Reduzindo cerca de 10 centímetros do gancho, surgiram as calças Saint Tropez. O nome fazia referência à cidade costeira da Riviera Francesa, que era point das celebridades e da alta sociedade no verão.

“Essa foi uma grande inovação, porque mostrava uma parte da barriga e descia até depois do umbigo. Começou nas praias, depois foi para as ruas e, aos poucos, o modelo foi se transformando”, recupera o expert. Inicialmente, a Saint Tropez delineava mais o corpo. Nos anos 1970, veio a boca pata de elefante e as opções em jeans, que conquistaram os hippies. E por aí vai.

Alexander McQueen, o pai da calça de cintura baixa

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Kate Moss desfilou de bumster na primeira Semana de Moda de Nova York de McQueen. Catherine McGann / Getty Images

Décadas mais tarde, em 1995, o estilista inglês Alexander McQueen mostrou que dava para abaixar bem mais a altura do cós. Já no seu primeiro desfile, ele apresentou calças para lá de ousadas, que mostravam bem mais que o umbigo. “Não só a cintura na parte da frente era baixíssima, quase aparecendo o início da virilha, como atrás entrava com um decote que mostrava o risco inicial das nádegas. Foi um escândalo”, diz Lucas.

Chamada de Highland Rape, em referência aos estupros cometidos pelas forças inglesas quando invadiram a Escócia no século 18. “Foi um grito contra designers ingleses vestindo roupas escocesas extravagantes”, disse McQueen à revista Time Out em 1997. A família de seu pai era da Ilha de Skye e ele se indignou ao estudar sobre esse período da História.

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Em 1996, McQueen escandalizou a Semana de Moda de New York com as calças apelidadas de bumster Catherine McGann / Getty Images

De fato, o clima sombrio da apresentação, que também era um protesto não-anunciado, chocou a todos. “As roupas eram cortadas no meio, como se alguém tivesse pegado a unha e aberto a peça”, descreve o editor de moda. Ainda assim, o designer decidiu levar o cós polêmico para seu primeiro desfile na Semana de Moda de Nova York no ano seguinte.

Foi quando o modelo marcou para valer e foi apelidado de bumster, que significa “vagabunda” em inglês. “Muita gente considera essa a coleção de lançamento da calça. Foi a primeira vez em jeans, mas McQueen já havia feito antes em alfaiataria com tecido plano”, destaca Lucas. Porém, o que realmente cativou a atenção do público foi a cantora Madonna surgir em um comercial da MTV vestindo um par de bumster.

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McQueen apresentou a cintura baixa já no seu primeiro desfile, Highland Rape, em 1995 Neil Munns - PA Images / Getty Images

A hegemonia da calça de cintura baixa nos anos 2000

O gancho mais curto não só demorou pouco tempo para ganhar as ruas, como acabou meteoricamente se tornando o padrão para calças e outras partes debaixo. Isso graças às it-girls da época, que ditavam toda e qualquer tendência. “No início dos anos 2000, tinha o reality show Simple Life, estrelado pela Paris Hilton e pela Nicole Richie. As duas tinham uma influência gigantesca e foram as primeiras a tornar a cintura baixa em algo enorme”, conta o expert.

Outra que teve o seu visual totalmente atrelado ao modelo e fez milhares de adolescentes desejarem um armário repleto de peças que deixassem o umbigo à mostra foi Britney Spears. O cós baixo estava presente em todos os seus figurinos, nos clipes, nos shows, nos programas de TV. Christina Aguilera, Mariah Carey, Beyoncé e outras cantoras pops também pareciam estar em algum tipo de competição de quem usava a cintura mais baixa e deixaram muitos visuais icônicos com essa marca.

“O John Galliano, que era muito mais mainstream que o McQueen, colocou a cintura baixa em todos os desfiles e campanhas da Dior no início dos anos 2000. Calças, bermudas, minissaias de um palmo de comprimento, tudo começando no osso do quadril. Foi o auge e explodiu para todos os lugares”, comenta Lucas.

Por muito tempo, encontrar qualquer outra variação de calça se tornou uma missão impossível. Das mais justas às mais soltinhas, todo modelo tinha o cós baixinho. Como esquecer da moda da calcinha com barra semelhante à de cueca que só surgiu para que as meninas pudessem deixá-las aparecendo na calça larga, em uma pegada bem Sk8r Boi , da Avril Lavigne? As de tira fininha na lateral também escapavam de propósito, em uma atitude mais provocante, nos shapes bem colados ao corpo.

Foi só por volta de 2009 que outras alturas de cós voltaram a circular, com uma pegada bem retrô e, geralmente, com vários botões na frente. Assim, o antigo gancho padrão passou a ser chamado de cintura alta. “O último suspiro da cintura baixa foi com os emos, que usavam bastante calça skinny com esse cós”, relembra o editor de moda.

As celebridades que amavam cintura baixa nos anos 2000

O momento atual da cintura baixa

Mesmo sem se tornar de fato uma presença marcante nos tempos atuais, apenas pipocando aqui e acolá, as peças de cintura baixa do momento têm características próprias. Nada de calça skinny ou outros modelos mais justos! A aposta agora é em cortes mais soltinhos, com um caimento baggy. Jeans, moletom e até alfaiataria são os destaques. Na maioria dos casos, trata-se de uma calça de gancho padrão – nem curto, nem comprido – usada em um tamanho um pouco maior para ficar caidinha. Vamos seguir acompanhando para ver se essa moda pega de vez, ou melhor, volta com tudo.

A cintura baixa nas semanas de moda recentes

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