Igor Dadona estreia na SPFW

Um dos principais nomes da nova geração de estilistas da moda masculina mostra uma evolução consistente e muito bem-vinda em nova coleção.


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Igor Dadona já estava introspectivo antes da pandemia. “Estava mais recluso, isolado, precisava um pouco disso. Aí, veio a Covid-19 e fui realmente forçado a ficar quieto. Tanto que comecei a desejar o completo oposto”, diz ele em uma conversa dias antes de sua estreia na SPFW, nesta quinta-feira (24.06). Para quem não conhece o estilista, ele era um dos destaques da Casa de Criadores e expoente da nova geração de designers de moda masculina.

A mudança de eventos aconteceu quase que por acaso. “Vontade eu sempre tive”, confessa sobre o desejo de desfilar na maior semana de moda da América Latina. “Porém, desde o começo do ano passado, estava um pouco perdido, sem saber para onde ir, o que fazer. Fiquei pensando se continuaria numa fashion week ou se faria apresentações por conta própria.” Na dúvida, decidiu ficar o ano passado em off, longe das passarelas – o que acabou acontecendo por forças maiores.

E aí, vieram as inquietações do isolamento pandêmico. Para além do nível pessoal, Igor sentiu falta de se expressar profissionalmente por meio de um desfile. Ele já havia conversado com Paulo Borges, fundador e diretor criativo da SPFW, há algum tempo e retomou o assunto no fim de 2020. “Foi tudo muito rápido e até um pouco inesperado”, fala.

A coleção, contudo, já estava na sua cabeça faz tempo. Ainda em 2019, fez uma compra de tecidos mais sofisticados já pensando em um novo momento para sua marca homônima. “Seria a primeira vez que trabalharia com esse tipo de material.” São lãs inglesas com aspecto acetinado, rendas e bordados de pedraria, ambos manuais, e muita zibeline – que já havia aparecido em sua última apresentação e, agora, volta estampada.

Essa materialidade é seu grande destaque desta temporada. O lado lúdico e delicado do estilo de Igor segue presente, porém de uma maneira muito mais elaborada, madura até, mas sem perder a jovialidade. A coleção é rica em detalhes, e num nível nunca visto antes em seus trabalhos prévios. Mostra evolução não só pessoal e profissional, como também em termos mais amplos de moda masculina. Ainda mais depois de tanto tempo trancados em casa, de camiseta velha e calça de moletom – e já um tanto cansados daquela obsessão com o streetwear.

Só é uma pena que o vídeo tenha ficado um tanto escuro. O filme mostra a coleção por meio de alusões à saúde mental, solidão, sonhos delirantes e autoconhecimento. E, de fato, essas trajetórias nem sempre são das mais claras. Geralmente, é bastante nebulosa, tipo navegar em águas turbulentas sem conseguir avistar terra firme. Em termos de narrativa e construção de imagem faz sentido. Os efeitos em stop motion, o cenário todo de papelão, assinado por Edgard de Camargo, são bons exemplos de como tirar um filme de moda do lugar comum ou da monotonia. Numa coleção tão rica em texturas, detalhes e tecidos primorosos, fez falta um pouco de cor e mais nitidez nas imagens. Ainda bem que temos imagens. Recomendamos muito sua contemplação.

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