Casa de Criadores anuncia Instituto visando democratização e descentralização da moda

Com conselho composto por André Hidalgo, André Carvalhal, Neon Cunha, Dudu Bertholini e Dudx, a escola gratuita promete trazer provocações e subversões ao mercado.


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A Casa de Criadores, semana de moda fundada por André Hidalgo em 1997, sempre foi um celeiro de novos nomes da indústria nacional. Mais experimental e provocativo, o evento abre espaço para marcas independentes, autorais e que instigam provocações. Agora, é hora de passar o conhecimento adiante. Nesta quinta-feira, 25.11, foi lançado o Instituto Casa de Criadores, uma plataforma de ensino de moda com objetivo de descentralizar e democratizar o acesso à informação.

“Essa vontade é reflexo e resultado de uma discussão e constatações de bastante tempo”, fala Hidalgo. “Começa pela vocação da Casa de Criadores, que sempre foi essa. Falamos tanto em ser plural, diverso, em abraçar, ter todos os corpos e corpas, nada mais natural que a gente tentasse um caminho que passasse pela educação. Queremos transformar a vida das pessoas. Por que ficar restrito ao nosso universo se podemos ampliar e trazer outras pessoas para a mesa?”, questiona ele.

Com um conselho composto pelo escritor e pesquisador André Carvalhal, a ativista e artista Neon Cunha, o estilista e stylist Dudu Bertholini e o artista e diretor criativo Dudx, o Instituto oferecerá cursos gratuitos e processo seletivo pensado de forma não-excludente.

“Esse processo será online, aberto para todo o Brasil, no mês de dezembro (ainda sem data definida). Não vamos adotar os mesmos critérios acadêmicos usados em outras faculdades e universidades, até porque a gente entende que eles são super elitistas”, fala Dudu, para reforçar o recorte socioeconômico na seleção. Diferentemente de um vestibular, o que vale aqui são as vivências, experiências, bagagem, desenvoltura e vontade de fazer diferente.

Constatar como o ensino no Brasil e no mundo exclui grupos periféricos e corpos dissidentes é essencial para começar a entender por que este Instituto é importante para a formação técnica dessas novas vozes. “Não tem nenhum outro conselho em que uma mulher preta trans esteja dando esse tom junto a outros nomes. É um time que já tem pessoas negras, que discute identidade de gênero, sexualidade, intersecção. Mais do que isso, são pessoas com comprometimento e interessadas em fazer moda para além de uma construção mercadológica”, diz Neon Cunha.

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Desfile de Jal Vieira.Foto: Agência Fotosite

As aulas serão em módulos semestrais, com encontros com grandes nomes do mercado de moda e da arte. Tudo online, por enquanto. Com isso, a ideia é permitir que mais pessoas possam participar do programa. “Pensamos em ter um espaço físico no futuro próximo, mas, de qualquer forma, seria um espaço de troca e de pesquisa. O curso online sempre se manterá, porque queremos que ele seja o mais amplo possível.”

Sobre o conteúdo pedagógico, Dudu explica que serão dedicados a “professores, experiências e vivências que pensam a moda por um viés sociopolítico transformador, que entendam a urgência e o potencial do mercado na atualidade”.

“É um trabalho de envolvimento para um despertar criativo”, complementa Neon. “Estamos muito abertos para esse processo. A gente precisa entender o que as pessoas estão buscando, o que elas querem. Não é só uma oferta. Há uma ideia de troca constante. Agora, nós temos condições de desenvolver um espaço com essa propositura. Acho que essa é a maior importância, a democratização real da moda diante de tanta omissão de políticas públicas nessa seara”, finaliza ela.

A próxima edição da Casa de Criadores acontece nos dia 09 e 10 de dezembro, com desfiles digitais e presenciais. Fique ligado para mais informações.

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