A montação de Juliana Jabour, na expectativa por dias melhores

Em curta-metragem, a estilista imagina o look das festas no despertar de um mundo em que todos estejam vacinados.


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O vídeo da nova coleção de Juliana Jabour começa com uma voz robótica dizendo que o mundo está em colapso, e a impossibilidade do ser humano viver em comunidade, impedindo o toque, as relações e o amor, fez com que algumas pessoas decidissem se anular. Para tanto, elas dormem. Por anos. E, olha, vontade de fechar os olhos e só acordar depois de vacinado é o que não falta.

Com pegada de cinema, roteiro bem trabalhado e fotografia de impacto, o curta se desenrola sobre o despertar em mundo pós-apocalíptico. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Quer dizer, qualquer semelhança com a expectativa de realidade, afinal ainda estamos em pleno apocalipse, principalmente no Brasil.

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Como muitos de nós, Juliana está ansiosa pelo abraço, por uma vida com mais contato, afeto, festa, amor e montação. E isso é importante para entender a ruptura (ou quase) de visual nessa coleção. Quem acompanha o trabalho da estilista sabe que, nos últimos anos, ela estava bem imersa no mundo do streetwear, combinando proporções oversized e elementos esportivos com alguns detalhes mais sofisticados (além dos babados e prints que tanto ama).

Agora, parece que o jogo virou. “A ideia é ter uma inspiração e atitude de alta-costura adaptada aos hábitos e às atividades banais do cotidiano”, diz Juliana. “Acordar e colocar um vestido cheio de camadas para arrumar a casa, ir na padaria ou no mercado com um modelo com ombros imensos, babados mil”, brinca.

Não que todos aqueles elementos de antes tenham sumido. Eles continuam presentes, porém com um verniz de festa. E quase literalmente, já que todos os tecidos têm brilho acetinado. O moletom e as malhas, que antes serviam de base para quase tudo, foram substituídos pela zibeline e aparecem apenas em alguns detalhes. As modelagens, agora com profusão de babados, laços e volumes, crescem em cima de construções bem simples, como hoodies e camisetas. E no lugar das estampas, tons pastel em composições monocromáticas.

Depois da passarela filmada da temporada passada, salta aos olhos a produção audiovisual de Juliana nesta temporada. Até o momento, pode-se dizer que é uma das propostas mais interessantes e bem-resolvidas desta edição da SPFW. A equação entre storytelling, boa visualização do produto, contexto e imagem de moda, foi resolvida com maestria. Além disso, o olhar e roupas da estilista, nesta estação, se alinha perfeitamente ao que estamos vendo ao redor do mundo, em um momento tão incerto e cautelosamente otimista. Afinal, enquanto a vacina não vem e o abraço segue distante, uma montação entre quatro paredes pode ser uma ótima válvula de escape.

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