Conheça a estilista brasileira dentro da Louis Vuitton

Fluminense Renata Estefan tem apenas 32 anos e, com pouco mais de dez anos de experiência, já integra time de prêt-à-porter da linha Icon Heritage da maison francesa.


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Conquistar espaço no mercado internacional de luxo parece um sonho distante para a maioria dos jovens brasileiros que ralam nos ateliês para ver seu trabalho reconhecido. Sentar no estúdio da marca mais poderosa do mundo, então, soa quase impossível. Quase, porque uma fluminense conseguiu furar essa bolha.

Nascida em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, Renata Estefan tem apenas 32 anos e faz parte, desde abril, de um grupo seleto de estilistas dentro de um dos times de prêt-à-porter da Louis Vuitton, comandada pelo diretor criativo Nicolas Ghesquière. Foi num dia como outro qualquer, no antigo estúdio em que trabalhava em Paris, que ela recebeu o telefonema responsável por mudar sua vida.

“Quando soube que havia sido escolhida por unanimidade pelos diretores, não contive minha alegria. Era um sonho de uma vida se tornando realidade e eu corria pelas salas, sem saber se chorava ou se sorria”, relembra Renata, admitindo que perdeu a concentração naquele dia.

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A estilista fluminense Renata Estefan, em Paris.Foto: Divulgação

A escolha da grife não foi aleatória. Com graduação pelo Senai-Cetiqt, do Rio, mestrado na conceituada Central Saint Martins of Arts and Design, de Londres, escola que formou estilistas como John Galliano e Stella McCartney, ela também havia passado pelo ateliê da Hermès, onde trabalhou com a estilista Nadège Vanhée-Cybulski.

A Central Saint Martins entrou no radar da designer também pela oportunidade de estudar com Louise Wilson, um dos maiores nomes do ensino de moda mundial. Foi ela quem a selecionou enquanto ainda dirigia o curso de mestrado da instituição. A professora morreu em 2014, pouco depois da chegada da aluna brasileira, que afirma ter tido tempo de ouvir, “nos poucos segundos que estive com ela”, as impressões de seu ídolo sobre o trabalho.

Uma ex-aluna da escola, aliás, ajudou Renata no início da carreira. Quando fazia o mestrado, decidiu pedir ajuda à marca de Stella McCartney em um e-mail, respondido dois dias depois com uma encomenda. Era da própria Stella e acompanhava, além de um bilhete, uma caixa com rolos de tecido. Só assim ela pode desfilar suas criações na semana de moda de Londres, para orgulho da instituição em que estudava.

VESTIBULAR DE LUXO

Os holofotes começaram a virar suas luzes naquele momento para a estilista, que hoje trabalha na equipe de cinco designers da linha Icon Heritage, uma divisão da Louis Vuitton especializada em peças que passam de geração em geração e é capitaneada pela diretora criativa Laura de Colla.

“Por estar sempre em desvantagem [por ser brasileira], tive de fazer muito mais nas entrevistas. Meus colegas europeus chegavam com um caderninho debaixo do braço, um portfólio de 20 páginas. Já eu, chegava com uma mala, dessas pequenas para avião, uma mochila nas costas e mais algo na bolsa. Era tudo que eu tinha feito para provar que valeria a pena me contratar.”

As entrevistas para entrar na equipe da Louis Vuitton tiveram um tempero a mais porque foram feitas com personalidades da marca, como Jane Whitfield, braço direito de Nicolas Guesquière, e a própria de Colla, que havia acabado de chegar da Dior depois de trabalhar ao lado de Maria Grazia Chiuri.

O vestibular de luxo ocorreu em uma sala muito pequena onde se ouvia três línguas ao mesmo tempo: francês, inglês e italiano. Renata não teve que responder perguntas, só mostrar tudo o que poderia fazer, revelar o nível de seus desenhos e o gosto impresso na moda que seria capaz de criar.

“O sonho de todo jovem designer é entrar para uma equipe de uma marca desse nível. Eu sei que sou brasileira, que estou competindo com franceses, com ingleses, com italianos, com estadunidenses. Não tenho a menor dúvida que sou a última da lista. Todas as nacionalidades possuem algum tipo de preferência frente a nossa”, diz a estilista.

Ela tem uma ideia pessoal sobre os motivos dessa dificuldade e críticas de sobra ao país natal. “O Brasil não faz acordos para jovens talentos, não tem incentivo financeiro. Estamos burocraticamente em desvantagem em relação a todos. Temos muita pouca informação sobre portfólios, sobre processo criativo e estamos sempre criando como se estivéssemos uma estação atrás da Europa.”, dispara Renata.

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Coleção de Renata Estefan para a conclusão do curso de mestrado na Central Saint Martins.Foto: Divulgação

BASTIDORES

Agora, ela consegue exercitar essa liberdade em um andar em que trabalham todas as equipes de moda, num total de 40 pessoas. O ambiente é ilustrado com muitas cores, livros de moda, logos da marca por todos os lados, e, claro, garrafas de champanhe do grupo LVMH.

No dia-a-dia, ela conta, pesquisa imagens de inspiração para achar referências que ninguém encontrou ainda, trazendo elementos desconhecidos. “Por isso, pesquisamos em livros, em fontes que a maioria das pessoas nem chega perto. Deixamos as pesquisas na internet por último. Todos os dias, desenhamos e redesenhamos peças, provamos as que estão em andamento, corrigimos problemas, achamos soluções. Mas os melhores momentos para mim são dentro da sala principal, onde acontecem as provas de roupa”, confessa. E é quando começam esses fittings que ela se diverte como se estivesse em um cenário de filme.

“Presencio momentos históricos. Não me esqueço de um dia, em que queria congelar aquela cena. A diretora estava sentada em uma cadeira e, na sua frente, havia uma modelo com um micro-vestido. Em volta dela e da modelo, estavam outras oito pessoas, entre modelistas e costureiras, tentando ao máximo descobrir e corrigir o problema do vestido. A seriedade, o cuidado e o nível de conhecimento de todos, focados em achar a solução, me impressionou. Atrás deles haviam ainda dez pessoas com pranchetas na mão para anotar as informações que eram discutidas por aquelas pessoas de pé”, relembra, relacionando a cena a uma cirurgia realizada por médicos.

“O nível de exigência em uma marca como essa é muito alto. Eu sei que, quando dá errado, temos que consertar, sem pânico. Ou então fazer como eu já fiz várias vezes: ir para o banheiro, se permitir entrar em pânico por 3 minutos, sair e fingir que está tudo sob controle”, brinca a estilista.

SONHO DE TWEED

Engana-se, porém, quem achar que ela encerrou sua trajetória. Renata Estefan quer mais e não esconde que esse mais tem um nome tão suntuoso quanto a marca para a qual desenha.

“Desde pequena sempre sonhei em trabalhar na Chanel. Com 13 anos, comecei a estudar francês dizendo para minha mãe que precisava aprender a língua para dirigir a marca um dia”, recorda a estilista.

O desejo pela grife não parece segredo para ninguém, porque em todos os lugares em que trabalhou, a designer afirma, os colegas sempre diziam torcer para que ela, um dia, conseguisse realizar o desejo. “Parece ironia do destino, porque sei que é a marca mais difícil do mundo para se entrar. Eles são silenciosos, fechados. Eu não sei como, nem quando, mas se tem gente lá dentro, é porque tem uma porta. E eu vou achar essa porta”, revela Renata.

“As pessoas me perguntam, o que você vai sentir ao entrar na Chanel? Eu já imaginei isso tantas vezes. Simplesmente vou me sentir como se tivesse voltado para casa.”

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Looks de coleção desenvolvida por Renata Estefan.Divulgação

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