Mais do que estilista: empreendedor
Ser um bom estilista, ou ter uma boa ideia para criar uma marca, são os primeiros passos para ter sucesso no mercado de moda. Mas há outras habilidades necessárias para tocar um negócio. Conheça a experiência de três empreendedores, e o que eles aprenderam no trajeto
Você sabe como é o dia a dia de um estilista? Quem assistiu à série Halston vai se lembrar das cenas em que o estilista estadunidense monta seus ateliês, um maior e mais luxuoso do que o outro; ou pensa e repensa looks e decide quais tecidos quer usar. A cada nova etapa, o espectador não o vê preocupado com planilhas de fluxo de caixa, nem contas a pagar. Ainda que cobrado por resultados, sua função parecia tão somente a de uma mente criativa. Bem, se tinha alguém que gostava de inventar – e de esbanjar –, era Mr. Halston!
O que inicialmente parecia uma profissão dos sonhos se mostrou, ao longo da série – fiel à vida real – um obstáculo. O problema era que, entre uma excentricidade e outra, a conta não fechava. O mundo mudou desde então, e a era do empreendedorismo pede muito mais do que grandes investidores que banquem devaneios criativos, ou de viralizações bombásticas em rede social, para fazer um negócio realmente se transformar em case de sucesso.
Então vale responder a pergunta com a qual este texto começa. Fora dos stories, como diz o meme do Instagram, o dia a dia de um estilista pode ser tomado por questões burocráticas, muito mais do que as criativas. É o caso da estilista Fernanda Yamamoto, que tem 12 anos de carreira, loja própria, coleções anuais regulares e mais de dez participações no São Paulo Fashion Week.
Entre as tarefas que fazem parte do cotidiano da estilista estão mapear fornecedores, pensar preços, pagar contas, fazer o planejamento financeiro, gerenciar equipe, definir prazos e estabelecer cronograma. “Na prática, o tempo que dedico a essas questões é maior do que o despendido na coleção”, conta Fernanda, que chama a atenção para um aspecto peculiar dos negócios de moda: ter que lidar com dezenas de fornecedores – de tecidos, aviamentos, oficinas, etc. Negociar – e não só com eles – também é uma tarefa do estilista, e uma habilidade que vai obrigatoriamente ser desenvolvida no dia a dia.
Papel e caneta calculadora na mão
O terreno da negociação pode parecer mais acidentado para o empreendedor iniciante, principalmente se a essência do negócio for on-line, onde tudo acontece mais rápido. Criador da marca de camisetas T-Shirt Factory, o empresário Eduardo Derrico lembra que, no início, em 2014, encontrou diversos experts sem nenhuma expertise. Ele havia estampado uma camiseta, sem grandes pretensões, com uma frase em homenagem a seu ídolo, Beyoncé. Passou a reproduzir a peça a pedido de amigos, até que o influenciador Hugo Gloss apareceu publicamente vestindo a roupa. Do dia para a noite, a marca – que praticamente não existia – aconteceu. Estruturando-se às pressas, e sem experiência, ele precisou tomar cuidado dobrado para não cair em armadilhas. “Muita gente quer se aproveitar desse momento mais frágil para vender produtos e soluções que a empresa não precisa”, revela. A saída foi pedir indicações de amigos e conhecidos até encontrar fornecedores e prestadores de serviço confiáveis.
No caso da também empreendedora do ramo de camisetas Karina Gallon, da Peita, o empecilho inicial foi negociar com homens, que ora não a levavam a sério, ora desmereciam o produto, ora negavam-se a negociar preços – segundo ela, o mesmo não acontecia quando quem estava do outro lado da linha era uma mulher.
Em coro, os três entrevistados, com três experiências distintas e diferentes tempos de estrada, afirmam que enfrentaram muitos percalços no início da empreitada, em diferentes setores da operação. Ouvir críticas negativas, gastar mais dinheiro do que o planejado, entender que o cliente não recebeu o produto como imaginava-se que ele receberia, estar atento a mais de um setor ao mesmo tempo, tomar decisões rapidamente e fazer ajustes nos 45 do segundo tempo estão na lista de desafios formulada por Eduardo, que compara a sua experiência – que envolveu o uso de redes sociais, loja física e e-commerce – como a de quem precisa trocar o pneu do carro em movimento. Valeu a pena: atualmente operando em uma plataforma colaborativa de e-commerce, a marca vende, por mês, 1.500 itens, que vão de camisetas a sanduicheiras de plástico. “Os ‘pepinos’ são diferentes para cada um, mas o que é comum é a importância de estar preparado para enfrentá-los”, opina o empresário.
Bombou, e agora?
Criada há menos de 5 anos, a Peita também é um desses casos de marca que bomba na internet e consegue seguir em frente. A ideia nasceu na manifestação do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de 2017, em Curitiba (PR). Para a passeata, Karina vestiu uma criação própria: uma camiseta estampada no dia anterior com a frase “Lute como uma garota”. A imagem viralizou e os pedidos começaram a chegar 24 horas depois. A até então designer gráfico se desdobrou para fazer as entregas, estampando as encomendas manualmente em serigrafia, até entender, dois meses depois, que aquele não era um complemento para a renda: se quisesse continuar, ela precisaria abrir formalmente uma empresa, processo que enfrentou sozinha durante um longo ano. Atualmente, só de camisetas, vende cerca de 550 pedidos por mês, exclusivamente via e-commerce.
Vale lembrar que as vendas do varejo de moda on-line no Brasil cresceram durante a pandemia – segundo dados do Euromonitor, as compras em e-commerce passaram de 5% para 11% em 2021. Este, portanto, é um bom momento para criar, comunicar e vender on-line.
Plano B
Seja com loja física, seja on-line, você está pensando em começar pra valer? Uma dica de ouro do universo do empreendedorismo é garantir uma rede de segurança, se possível. Eduardo, por exemplo, manteve seu emprego fixo na área de marketing por seis meses, em uma multinacional, até se sentir seguro para alçar voo solo na TSF. Essa era a sua safety net, que lhe permitia manter a mente tranquila enquanto suava para fazer o negócio vingar. A rede de segurança pode ser um dinheiro guardado, um sócio, crowdfunding, trabalhos de freelancer, ou mesmo a ajuda financeira da família.
O fato de o negócio da moda ser cíclico é um outro aspecto importante. Com tempo de experiência e rede de fornecedores montada, é possível se organizar com antecedência, conforme o calendário anual. “Depois de alguns anos, você domina melhor como tudo acontece. Entrar nesse ciclo deixa tudo mais tranquilo, mas não dá para se acomodar. É preciso pensar em novos produtos, e sempre em como otimizar esses processos”, encerra a experiente Fernanda.
Santander + ELLE Consulting
Um dos propósitos da plataforma Santander + ELLE Consulting é jogar luz sobre o empreendedorismo de moda, inspirando e orientando quem sonha em começar um novo negócio, ou já tem um plano em andamento e precisa de suporte para prosperar.
O Santander Brasil é o Banco da Moda porque investe no desenvolvimento e na democratização de soluções financeiras para apoiar o segmento, um dos maiores empregadores do país. O Banco atua na realização dos negócios em toda a cadeia produtiva, desde costureiras, designers e estilistas, até as grandes marcas da indústria e comércios de vendas de roupas, calçados e acessórios como mostramos no #Movimento. As ações em relação à Moda e os patrocínios evidenciam, ainda, valores fundamentais para a instituição, como inclusão, diversidade, sustentabilidade e também empreendedorismo como nos cursos do Santander ELLE Consulting.
A segunda edição do projeto traz uma série de três masterclasses exclusivas, com nomes fortes do mercado. Dominique Oliver (CEO da Amaro) vai falar de estratégias centradas no consumidor e expansão de negócios. A estilista Flavia Aranha retoma sua trajetória para ensinar como criar um ecossistema de impacto positivo na moda. O consultor de negócios Felipe Albuquerque (Santander) mostra as oportunidades do universo digital ao empreendedorismo. Além dos cursos completos, há três palestras gratuitas programadas e reportagens sobre o tema aqui no site da ELLE.
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