Na Maison Margiela, John Galliano fala de sonho sem esquecer da realidade

Em continuidade à coleção de alta-costura, estilista segue imerso nas referências de pesca, agora em versão simplificada e mais comercial.


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Foto: Divulgação



Em julho do ano passado, quando John Galliano apresentou seu primeiro desfile-documentário para Maison Margiela, ele falou sobre a importância dos experimentos da alta-costura como base para os avanços do prêt-à-porter. Nesta segunda-feira, 04.10, ele deu exemplos práticos disso com o verão 2022 da grife.

Apresentada em vídeo, a coleção é um desdobramento do filme de terror lançado meses antes para a linha Margiela Artisanal. Aqui, porém, apesar da atmosfera distópica, a mensagem é levemente mais otimista e menos obscura. Os cenários ainda são apocalípticos: um parque de diversões abandonado, um rio seco e uma vila inundada.

Se as imagens lembram cenas recentes do caos climático ao redor do mundo não é por acaso. Galliano, atual diretor criativo da marca, disse ter se inspirado no sonho das pessoas jovens. E, sabemos bem, anda um tanto difícil sonhar nos dias de hoje – pelo menos de maneira não alienada ou puramente escapista. Daí esse mundo caindo aos pedaços, no qual um grupo de jovens se adapta para viver, se transformar e ainda se divertir.

Assim como no inverno 2021 de alta-costura, o principal tema continua sendo as roupas de pescadores. Um dos principais destaques é a bota de borracha biodegradável, feita por meio de impressão 3D. Em amarelo, vermelho e azul, elas apresentam algumas gotas nas solas como se estivessem derretendo. Os tricôs também assumem protagonismo, lembrando padronagens e texturas de viés naútico. Alguns casacos são decorados com iscas de pesca e outros são cortados para lembrar uma rede. Tudo feito com técnicas de upcycling.

Tratando-se de Margiela, a desconstrução é onipresente em quase todos os looks. Dos tricôs esgarçados à alfaiataria com uma série de aberturas e modificações. Rola aina uma alta dose de romantismo erótico, assinatura conhecida de Galliano que vem ganhando cada vez mais espaço na atual empreitada. Daí as transparências, o underwear à mostra, os babados, estruturas de corset, os brocados e jacquards e toda uma carga histórica em cada look (com destaque especial para o vestido acetinado da foto 58).

Para quem anda meio desconfiado do clima otimista que vem aparecendo meio alienadamente nessa temporada, Galliano oferece uma resposta bem contundente. Fala de sonho sem ignorar a realidade, de celebração sem esquecer do pesar, de individualidade dentro do coletivo e ainda sai na frente com uma moda rica em detalhes, qualidade de design e atenção às práticas mais sustentáveis.

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