Millie Bobby Brown: “Se você quer ver mudanças, você deve fazer barulho”
Em entrevista à ELLE, a atriz, que acaba de lançar uma parceria com a Vogue Eyewear, conta sobre como se envolve em suas colaborações e fala também sobre mídias sociais, juventude e o poder transformador da educação.
Em 2016, com apenas 11 anos, Millie Bobby Brown se transformou em um fenômeno global quando Stranger Things chegou ao catálogo da Netflix. Desde então, a britânica não parou. Atualmente, aos 16, além de dar continuidade às novas temporadas da série, Millie também divide o seu tempo protagonizando outros projetos como atriz, ocupando novos espaços no cinema ー como o de produtora ー, cumprindo seus compromissos como embaixadora da UNICEF, supervisionando os lançamentos da sua linha de beleza, colaborando com marcas, estrelando campanhas e, finalmente, tentando dedicar algumas horas de sua semana para ser apenas uma adolescente normal.
Ao lermos uma agenda como essa, dá para perceber que não são apenas as personagens interpretadas por Millie que são jovens mulheres corajosas. Ela, em sua vida atarefada, com constantes novos desafios e envolta de uma grande pressão e exposição, também é. E foi na intenção de celebrar a sua autenticidade que a Vogue Eyewear convidou a artista para ser o novo rosto da marca. Em sua própria Capsule Collection, desenvolvida em colaboração com a etiqueta, Millie dividiu a sua visão de mundo por meio das lentes de estilo. Os óculos foram apresentados em uma campanha que encoraja garotas e mulheres a serem reais, acreditarem nelas mesmas e serem sempre fiéis ao que pensam.
Em entrevista exclusiva à ELLE por telefone, Millie nos conta mais sobre o desenvolvimento dessa parceria e também fala sobre a sua relação com as mídias sociais, o que espera para a juventude, o poder transformador da educação e como é a experiência de, no fim das contas, ser uma garota em um espaço ocupado por adultos.
Você parece gostar muito de moda e, como atriz, deve entender que a moda também pode ser uma forma de arte, de expressão e de diversão. Como é sua relação com ela?
Eu sempre gostei de moda. Adoro roupas confortáveis, mas também curto experimentar novas versões de mim mesma, sempre buscando respeitar o meu estilo, claro. A moda é mais um tipo de linguagem e uma ferramenta que permite a expressão e a comunicação, ela está totalmente conectada com o meu trabalho como atriz. Além de, individualmente, sempre representar uma possibilidade para explorar a autenticidade e personalidade de cada um. Assim é como eu enxergo, e quero sempre inspirar garotas a também terem essa mesma visão positiva.
Você tem uma marca de beleza e sabemos que, na era das redes sociais, nós temos nos cobrado em relação à nossa aparência. Como você lida com isso?
Me preocupo em entender que eu não preciso estar nas redes sociais o tempo todo, eu que eu posso sair por aí e viver coisas únicas sem depender de maquiagem. E essa é a verdade. Eu não uso maquiagem o tempo todo e por isso tento passar uma visão sobre a beleza real. As mídias sociais podem ser um lugar muito negativo, em que meninas podem sentir que não têm poder ou, então, que precisam ter a aparência de uma outra pessoa. Isso pode fazer muito mal para nós já que essa relação de influência com o digital nem sempre é saudável. Na minha marca, a gente tenta construir uma comunidade, onde garotas e garotos possam se sentir como eles mesmos e possam entender que a perfeição vai além do que nos é ensinado e do que vemos no Instagram.
Campanha da linha assinada por Millie para a Vogue Eyewear.Foto: Divulgação
Você é o novo rosto da Vogue Eyewear e acaba de fazer uma colaboração com a marca. Como está sendo essa parceria?
Essa parceria foi muito especial porque eu sempre tive uma paixão por óculos de sol. E me juntar à Vogue Eyewear, uma marca que sempre admirei, foi uma oportunidade incrível. Juntos, a gente construiu um conceito que influencia as mulheres a serem reais e, por isso, cada óculos foi nomeado com uma palavra de auto-afirmação e amor próprio. Pensar nisso e participar dessa linha significou muito para mim. O resultado ficou a minha cara e a campanha ficou muito divertida.
Essas parcerias entre artistas e marcas têm sido ainda mais constantes ultimamente. Como você se envolve com as suas colaborações?
Depende do que eu estou interessada no momento mas, em todas as minhas colaborações, eu me comprometo a encorajar a autenticidade. Para essa parceria com a Vogue Eyewear, por exemplo, tudo se deu de uma forma muito orgânica porque realmente é uma marca que eu amo e um acessório que eu amo. Então, pude conversar com o time, explicar o que eu imaginava e participar de todo o processo. Eu me senti muito criativa.
Para muitos jovens, entender a profissão que querem seguir é algo incerto e que vem acompanhado de dúvidas, o que é completamente normal. Mas, para você, esse processo parece ter sido diferente. Quando passou a ter tanta certeza do que queria?
Sim, eu realmente descobri a minha aptidão ainda muito nova. Sempre fui apaixonada por atuar e, ainda criança, já era muito lúdica e adorava performar. Tive o privilégio de ser encorajada a continuar e a atuação acabou se tornando a minha prioridade. Sempre foi o que eu mais quis fazer e agora é a minha carreira para a vida, isso é incrível e eu sou muito grata. Stranger Things foi um marco enorme e foi quando entendi que esse seria o meu destino. Mas, antes das pessoas me conhecerem, eu já estava trabalhando. Atuo há cerca de oito anos, mas não conseguia grandes trabalhos. Agora, as pessoas me vêem e acham que tudo aconteceu muito rápido mas, para ser sincera, não foi exatamente assim.
Sabemos também que nem sempre levam os jovens a sério. Como é a sua experiência em sets de filmagem sendo tão nova?
Eu acredito muito que, se você quer ver mudanças, basicamente, você deve fazer barulho. É extremamente desconfortável sentir que não estão nos levando a sério como jovens e, ainda mais, como jovens mulheres. Eu quero ser vista igualmente, quero ser tratada como colega de trabalho. E eu também preciso ter oportunidades iguais às de um garoto ou de um homem. Em situações em que eu sinta que eu não estou conseguindo um lugar na mesa, eu falarei um pouco mais alto e mostrarei como a minha visão é tão importante quanto a do garoto que está ao meu lado. E isso é o que eu aconselho a todas as garotas.
Então, é sobre não ter medo de usar a sua voz, certo? A juventude vem tendo um engajamento ativo em pautas que, supostamente, não são para a nossa idade.
O que eu digo sobre isso é algo que me apaixona. Os jovens precisam ter um lugar na mesa em um espaço seguro para se sentirem fortalecidos porque, para a criação de um novo mundo, a gente precisa da nova geração. Temos pessoas incríveis, como a Malala, que estão lutando pelos direitos das crianças. Temos jovens cineastas que estão mudando a televisão e o cinema. Temos ativistas que estão abrindo espaços. E é assim que as coisas começam a mudar. Mas, eu sou só uma, e tenho apenas 16 anos, então, não cabe apenas a mim ou aos jovens, esse precisa ser um movimento coletivo.
“Em situações em que eu sinta que eu não estou conseguindo um lugar na mesa, eu falarei um pouco mais alto e mostrarei como a minha visão é tão importante quanto a do garoto que está ao meu lado. Isso é o que eu aconselho a todas as garotas.”
E a pauta da educação, em especial? Você está sempre falando sobre ela, até mesmo por ser a embaixadora da Boa Vontade da UNICEF. Por que essa é uma causa tão importante para você?
Porque a base de tudo é a educação. Os líderes mundiais têm medo porque eles também entendem qual seria a força disso. Quando nós sabemos do que estamos falando e quando as informações se tornam democráticas, coisas acontecem. Eu sou muito grata por ter acesso e quero que todos ao redor do mundo também tenham. É um direito, mas não são todos que estão tendo essa mesma oportunidade. Espero que cada um receba a educação que merece para que possa realizar o que desejar em sua vida. E por isso estou sempre falando sobre.
Campanha da linha assinada por Millie para a Vogue Eyewear.Foto: Divulgação
Essas suas falas são de muita coragem e todas as personagens que você já interpretou são mulheres corajosas. O que você aprendeu com elas?
A Eleven e a Enola, em especial, me ensinaram muito. Enola me mostrou como é ok estar sozinha. Eu acho que, principalmente na nossa idade, a gente costuma ter muito medo disso e, no meu caso, por eu fazer parte dessa indústria, sempre foi algo que eu lutei contra. Mas o enredo e a trilha sonora do filme me mostraram um outro lado. Antes de estarmos ao lado de pessoas, o que, claro, é divertido, a gente também precisa estar bem com as nossas próprias companhias. É algo que eu ainda estou aprendendo e tentando lidar.
Enola Holmes é o seu mais recente trabalho e, nele, a sua personagem recebe vários conselhos. Você já recebeu algum conselho que te marcou? Você pode contar também como foi participar desse filme?
Eu estou sempre recebendo conselhos, mas os melhores são da minha mãe. Ela é a melhor. E esse filme tem uma história muito especial. Eu já tinha lido os livros quando era criança e lembro de ter ficado obcecada, então, eu adorei fazer, tem muito das minhas memórias afetivas e eu realmente amo o enredo. E, dessa vez, ainda foi diferente porque, além de atuar, eu também produzi junto à minha irmã mais velha. Foi uma experiência incrível, estou orgulhosa do resultado e amando ver que as pessoas também estão amando.
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