Para o retorno ao escritório, Miu Miu encoraja uma atitude mais sensual

Miuccia Prada encurta saias, aposta na cintura baixíssima e repensa o uniforme de trabalho.


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Fotos: Getty Images



Se o desfile da Prada, em Milão, foi todo sobre sexo, o verão 2022 da Miu Miu, a linha mais jovem da estilista, é todo sobre se sentir sexy em ambientes de trabalho. É um assunto polêmico, ainda mais quando lembramos que alguns espaços corporativos, dominados por homens, podem ser bastante predatórios e tóxicos. Mas a desconstrução começa por aí mesmo.

O apreço de Miuccia Prada pelo estudo de uniformes não é novidade. Esse é um assunto que aparece com frequência em seus trabalhos, principalmente na Prada, já que a Miu Miu é, como a própria disse, a marca em que ela prefere se divertir, ser menos cerebral. De novo, a desconstrução em jogo.

A pergunta que parece que a estilista parece fazer é: “quais são as novas regras de vestimenta para o ambiente de trabalho pós-pandemia?” Ainda não chegamos lá, mas as discussões sobre qual será a etiqueta correta já vem rolando há algum tempo.

Junto dessa revolução e reformulação do espaço de trabalho e dos seus códigos de vestimenta, nota-se que a estilista traz para a mesa também o empoderamento desse look sexy. Apesar de desfilar só modelos femininos, eles também são um recado para qualquer homem que cruze seu caminho: não é mais – e há muito tempo já não é – aceitável que a roupa usada no escritório seja algum tipo de desculpa para o assédio. E a mulher da Miu Miu sabe muito bem disso, usa a roupa como arma.

No novo esquema de escritório pensado pela estilista, é permitida – e encorajada – muita pele à mostra, cinturas baixíssimas com as calcinhas aparecendo pelo cós (com o logo da Miu Miu, claro), sutiãs de fora, blazers encurtados, minissaias com a largura de um cinto, suéters e pólos arregaçadas para virarem tops. Tudo no melhor estilo dos anos 2000, tendência que vem crescendo já faz um tempo.

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Para quem não se sente confortável de mostrar tanta pele, há também camisas amplas, conjuntos de saia midi e suéter larguinho e uma brincadeira com meias altas e mocassins. Nas entradas com mais cara de happy hour, vestidos curtos bordados – clássicos da Miu Miu –, jaquetas e saias de couro estonados e slip dresses com aplicações. Tudo com a cara jovem que a etiqueta gosta.

Apesar da polêmica envolvida – principalmente nos looks de cintura baixa, que são o terror para quem viveu o começo dos anos 2000 –, fato é que Miuccia curte trazer um toque de ironia às tendências da vez. Nas notas do desfile, a estilista escreve: “é tão normal, mas para mim ainda é tão estranho. O estranho não é estranho mais”.

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Mas será mesmo? Numa coleção que fala tanto em desconstruções, faltou aplicar tais conceitos sobre a imagem que representa essa moda. O casting de modelos magérrimas, com barriga negativa, é desconfortável de ver e mostra uma imagem quase antiga, mais alinhada com o que estávamos acostumados como padrão de beleza, muitos anos e discussões atrás.

É importante pontuar que, junto à tendência Y2K que vem dominando as passarelas, há também a discussão sobre a beleza e aceitação de corpos não-padrão. Tudo o que foi mostrado na passarela, como a cintura baixíssima, os ossos do quadril saltados e os torsos inteiros de fora, não depõe a favor desse ideal de beleza mais inclusivo – e até reforça a maneira opressora que essas peças apareceram há 20 anos.

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