Mocassim: a história do sapato queridinho do momento
Mais um hit do TikTok está invadindo as ruas, mas a estrada desse calçado é muito mais antiga do que se pode imaginar. Saiba mais sobre sua origem, descubra a sua relação com a moda e confira dicas de como usar.
Pode anotar: se você nunca se pegou paquerando um par de mocassins, é muito provável que isso aconteça ao longo do próximo ano. Esse é o calçado mais quente da temporada de inverno do hemisfério norte e já tem gente por aqui aproveitando o frio prologado para aderir à tendência antes do verão chegar.
Apesar dos designs variados que esse sapato sem cadarços apresenta, os queridinhos do momento são os pretos, de salto grosso, geralmente utilizados com meia, em uma clara referência ao visual preppy dos anos 1950. Como tem sido comum no último ano, o TikTok é o responsável pela ascensão meteórica do interesse nesse calçado. Até o momento, são mais de 40 milhões de visualizações nos vídeos com a tag #loafers, termo pelo qual esse modelo com a sola separada do couro é mais conhecido lá fora – aqui no Brasil fica tudo dentro da aba mocassim mesmo.
“A Gucci, que foi uma das primeiras grifes a incorporar esse tipo de sapato lá nos anos 1950, vem há algum tempo trazendo ele de em seus desfiles. Para mim, isso tem a ver com o fato de ser um item que tem uma proposta de gênero mais fluido”, avalia a consultora de moda e estilo Carol Garcia. Não à toa, os modelos da casa italiana são os mais desejados da rede social de vídeos. Mas a febre é tanta que versões mais acessíveis já chegaram a Shein, marca chinesa famosa por acompanhar as tendências com velocidade recorde e preços baixos.
A origem do mocassim
Par de mocassins, datado de 1875, usado por nativos estadunidenses Foto: Sepia Times / Getty Images
O mocassim é bem antigo e, na sua forma original, era de couro da parte de cima até a sola. Tudo começou com as tribos nativas estadunidenses no século 17, que criaram um calçado com essa estrutura, todo fechado, sem amarrações. A origem do termo é a palavra makasin, que é como se dizia sapato na língua Powhatan, falada por povos que viviam na região da Virgínia.
“Ao longo dos anos, novas características foram adicionadas a ele, como os tassels, as franjas, o amarradinho, as ferragens. É inclusive daí que surgem os loafers, como uma variação do mocassim”, explica a consultora de moda e estilo. Um dos destaques dessa evolução foi o sapateiro norueguês Nils Gregoriusson Tveranger, que criou o modelo Aureland, em 1930, inspirado nos calçados dos indígenas. Não demorou para que seu design conquistasse olhares estrangeiros e se difundisse pelos EUA e pelo resto da Europa.
O termo loafers começou a ser usado para designar os sapatos desenvolvidos pela família Spaulding, no estado estadunidense de New Hampshire, nos anos 1930, e logo se popularizou pelo país para designar esse tipo de calçado. Em 1936, a marca G.H. Bas, ativa até hoje, criou o modelo Weejuns, que tem uma tira de couro vazada cruzando por cima do peito do pé. Ele é mais conhecido por Penny Loafer, uma vez que, por volta dos anos 1950, estudantes de Ivy League criaram a cultura de colocar uma moeda no recorte da faixa como fashion statement.
Mocassim e loafers como item fashion
A combinação de loafer com meia branca começou com estudantes dos anos 1950 Foto: H. Armstrong Roberts/Getty Images
Inclusive, foram esses estudantes estadunidenses que começaram a usar a clássica combinação de mocassim com meia branca na canela. Tênis não eram autorizados dentro das salas de aulas naquela época, então eles encontraram essa alternativa mais informal e confortável, servindo posteriormente de influência para diversas subculturas jovens.
Antes disso, no período entre guerras, eles já eram utilizados por escritores consagrados, como Ernest Hemingway e Henry Miller. “Os mocassins e os loafers já tinham conquistado esse status de calçado moderno e elegante, usado por ícones de estilo”, comenta a consultora de moda e estilo.
Durante os anos 1950 e 1960, era comum ver estrelas de Hollywood com mocassins e loafers nos pés. James Dean, Steve McQueen, Elvis Presley, Audrey Hepburn e Grace Kelly foram alguns dos ídolos que eternizaram esses sapatos nas telonas e ajudaram a ampliar o desejo em torno deles.
“Com isso, os mocassins começam a aparecer em revistas de moda e, em 1953, a Gucci lança uma versão com aquelas ferragens em cima, que são assinatura da casa”, conta Carol. O modelo ficou conhecido como Horse Biti e, inicialmente, era sempre preto. Foi assim que esse tipo de calçado conquistou status de luxo e formalidade, começando a ser usado, inclusive, por personalidades como o presidente estadunidense John F. Kennedy, nos anos 1960.
Audrey Hepburn de mocassins nos bastidores do filme Cinderella em Paris em 1956 Foto: Paramount Pictures / Getty Images
Como incorporar o mocassim ao look
“O mocassim surge em um contexto mais rebelde, mas depois fica bem tradicional, caretinha. Agora, ele retoma um pouco das características daquele hype nos anos 1950”, avalia Carol. Para ela, o grande atrativo é que se trata de um sapato que fica entre o formal e o casual, mantendo o conforto e recuperando um pouco da elegância com a qual muita gente quer se reconectar pós-vacinação.
O legal é justamente como seu efeito varia dependendo dos outros elementos do visual. “Se você coloca um tênis com calça jeans fica muito informal ou esportivo. Com o mocassim, o look ganha um toque de sofisticação”, exemplifica a consultora. Por outro lado, os vestidos tendem a ficar ainda mais femininos quando acompanhados por uma sandália, porém ganham um toque interessante de masculinidade com o tal calçado. “É um modelo bem versátil. Os pretos de couro podem estar em alta agora, mas vale lembrar que existem muitos os estilos, materiais e desenhos para explorar, dá para brincar bastante”, diz.
Inspiração de looks com loafers e mocassim
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