Morre Thierry Mugler, icônico estilista dos anos 1980 e 1990

Do fetichismo ao vestido de gotas de Kim Kardashian, no MET 2019, o designer francês era conhecido por seus designs esculturais com forte dose de apelo sexual.


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Foto: Richard Bord / Getty Images



Quase uma semana após o falecimento do jornalista e editor de moda André Leon Talley, a indústria da moda perde outro ícone: o estilista Thierry Mugler. A notícia foi confirmada pelo seu empresário Jean-Baptiste Rougeot.

Conhecido por seus desfiles espetaculares e designs com apelo fetichista, Manfred Thierry Mugler desenvolveu a sua sensibilidade artística por meio da dança e da fotografia. Nascido em Estrasburgo, na França, em 1948, entrou para o Ballet of the National Rhine Opera aos 14 anos. Foram seis dançando profissionalmente e, consequentemente, aprimorando a sua compreensão sobre performance.

Em paralelo, em 1966, passou a frequentar a Escola de Belas Artes. A partir das habilidades desenvolvidas por lá, começou a desenhar suas próprias roupas. Aos 24, Mugler se mudou para Paris, trabalhando como fotógrafo profissional e como vitrinista de uma boutique, a Gudule. Não demorou para que ele começasse a desenhar as roupas que lá eram vendidas, atuando como designer freelancer também em lojas de Londres, Milão e Barcelona.

O surgimento da marca Thierry Mugler

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Desfile de Thierry Mugler para a Primavera 1983 Foto: Daniel SIMON / Getty Images

Mugler lançou sua primeira linha de roupas em 1973, a Café de Paris. O estilista tunisino Azzedine Alaïa logo se juntou a ele, ajudando a criar um visual que combinava a estética punk com os clássicos ternos de ombros largos inspirados nos uniformes militares franceses, resultando em um visual sofisticadamente urbano. Essa parceria seguiu até o final dos anos 1970.

Em 1974, o estilista recebeu apoio financeiro para abrir a sua própria empresa, a Thierry Mugler. Dois anos depois, Melka Tréanton, uma influente editora de moda da época, ajudou a lançar a sua carreira ao exibir seu trabalho em um evento da Shiseido, no Japão. Sua primeira loja em Paris veio em 1978, mesmo ano em que lançou sua linha de roupas masculinas.

Os anos de glória

Seu primeiro desfile aberto ao público foi em 1984, apresentado para mais de 6 mil pessoas – metade delas, pagantes. Ali, ele mostrava seu talento para transformar a passarela em um espetáculo. Foi uma decisão inovadora em uma época em que a informação era pouco acessível e a moda de elite era altamente exclusiva. Esse formato acabou sendo adotado por outros designers posteriormente.

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Thierry Mugler prêt-à-porter, primavera/verão1992 Foto: Pool ARNAL/GARCIA / Getty Images

Ao longo dos anos 1980 e 1990, o trabalho de Mugler conquistou grande triunfo comercial, tornando-o um estilista renomado internacionalmente. Seus designs esculturais eram verdadeiras obras de arte, sempre inovadores e iconoclastas. Lendas como Naomi Campbell, Linda Evangelista e Cindy Crawford eram estrelas de seus desfiles performáticos, encarnando arquétipos fantásticos com doses certeiras de erotismo.

Em 1992, ele fez sua estreia na alta-costura. Para ocasião, chamou cerca de vinte costureiras para criar peças únicas articuladas em torno do espartilho, retomando a figura da ampulheta, que havia sido abandonado com a força do oversized nos anos 1980. Botas de salto alto, gargantilhas, coletes de montaria e o uso recorrente de couro e borracha em seus trabalhos demonstravam a sua clara inspiração fetichista.

O perfume Angel

Em 1990, Thierry Mugler decide expandir seus negócios e abre sua linha de fragrâncias. Seu primeiro lançamento, Angel, chega em 1992. Mugler pediu ao perfumista francês Olivier Cresp que criasse algo que ressoasse a todos, ligado à suavidade e à infância, ao mesmo tempo em que trouxesse um apelo sensual, dando vontade de devorar quem o utilizasse.

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Foto: Reprodução

Após 600 experimentos, Cresp consegue atingir o objetivo, criando o primeiro perfume gourmand (que remete a ingredientes utilizados na culinária) da história. Seu aroma marcante leva notas de mel, chocolate, baunilha, caramelo, patchouli e sândalo.

O frasco, em formato de estrela azul celeste e talhado como um diamante, foi desenvolvido pelo ateliê Verreries Bross. A proposta inusitada agradou mais que o esperado, fazendo do Angel o ícone de uma geração. Angel Men (1996), Alien (2005), Mirror, Mirror (2007) e Womanity (2010) são outros perfumes da Thierry Mugler que se destacam.

Em 1997, a empresa de cosméticos Clarins se torna principal acionista da marca, suspendendo a linha de roupas e focando apenas nas fragrâncias. Em 2002, Mugler se aposenta, muda para Nova York e desaparece dos olhos do público, colocando sua energia criativa na produção de figurinos, incluindo colaborações com o Cirque du Soleil.

Consultoria artística de Thierry Mugler para Beyoncé

Mugler fez um breve retorno aos holofotes em 2009, ao se tornar consultor artístico de Beyoncé e desenhar os figurinos da turnê I am…. A cantora ficou fascinada pelo seu trabalho após ver um espartilho na exposição Superheroes, no Costume Institute, do Metropolitan Museum of Art, em Nova York.

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Thierry Mugler assinou os figurinos da turnê I am... da Beyoncé Foto: Jemal Countess / Getty Images

O designer foi responsável pela criação de 58 looks usados pela diva pop. Além disso, dirigiu três segmentos da apresentação, incluindo o final, e orientou outros detalhes, da iluminação à coreografia.

Thierry Mugler veste Kim Kardashain

Em 2019, outra breve pausa na aposentadoria como estilista para desenvolver um look para Kim Kardashian. Estamos falando do icônico vestido de gotas usado pela estrela no MET Gala daquele ano. Um espartilho de látex se agarrava ao seu corpo, como um vestido molhado, e cristais frisados pendiam remetendo à água escorrendo. A peça levou oito meses para ficar pronta e deu o que falar.

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O vestido de Kim Kardashian no MET 2019 foi desenhado por Thierry Mugler Foto: Mike Coppola/MG19 / Getty Images

Mesmo mostrando que ainda sabe ser surpreendente provocante como estilista, Thierry Mugler realmente retornou à aposentadoria e, de uma forma geral, permanece bastante recluso. Atualmente, ele prefere ser chamado pelo primeiro nome, “Manfred”.

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