Na Mile Lab, a periferia é o centro

”Meu quilombo / minha inclinação / tenho uma meta a seguir / sou fruto do que chegou pra somar”. Criolo Doido rimou os últimos versos na música Grajauex, e eles representam bem a paulistana Milena Nascimento, cria da zona sul, no Grajaú. Em 2015, ela fundou a Mile Lab, uma marca de streetwear que faz a moda dialogar com as ruas. Mas não com qualquer uma. Seu objetivo é mostrar a potência que existe na periferia, o que foi feito muito bem com a apresentação de sua primeira coleção na SPFW, por meio do Projeto Sankofa.

A jovem estilista buscou a presença da força ancestral no corpo periférico para materializar a coleção, que nomeou de Baobá. ”Meu processo criativo foi olhar para as pessoas que vieram antes de mim. Minha vó, minha mãe e tudo aquilo que elas espelham na minha vida, e o quanto elas espelham no coletivo”, diz ela. Nos looks, o babado é forte. Literalmente, já que nos quatro apresentados vemos muitas formas amplas, volumes e sobreposições.

O tecido principal é o algodão cru, material de tom claro e toque áspero, que se mistura aos outros elementos, como búzios e renda. A última, inclusive, veio direto das cortinas do antigo barracão de sua avó, Dona Arlene. Já no filme fashion, que você assiste na sequência, Milena conta que ”foi um processo de entender como trazer a energia da quebrada para dentro de um estúdio”.

Sua madrinha foi a etiqueta veterana no evento, Juliana Jabour. Para Milena, ela veio ”como uma fada madrinha” e fez a diferença ter o apoio e conselho de alguém experiente. Agora, sobre o Sankofa, a estilista diz que tudo é uma montanha russa de emoções. ”Falando desse lugar da negritude, lidamos com muita dor e traumas. Mas também celebramos juntos, e tem sido forte ver esse movimento de aprender uns com os outros”, compartilha. Daqui em diante, ela acha que as coisas vão mudar na Mile Lab – para melhor. As expectativas são do tamanho dos seus sonhos: gigantes. Mas seu sonhar grande é um verbo imperativo, afinal, ”por mais que eu esteja estreando aqui, o nosso trabalho não é de hoje”, finaliza.

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