Nalimo une minimalismo a herança indígena em desfile

Dayana Molina apresenta moda com influências ancestrais e andinas em meio a cenário de floresta e rios da Amazônia


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Fotos: Gustavo Paixão



Antes de América Latina, eu sou Abya Yala, nordestina e andina, um misto de coisas que germinou em terras invadidas.” A frase, proferida pela estilista no fashion filme da Nalimo, resume bem o que Dayana Molina faz com sua moda, usando-a como instrumento de visibilidade da causa indígena.

“Abya Yala, na língua originária, significa América Latina. Nesta coleção, inserimos um pouco do que era esse continente antes da colonização”, explica a designer. Diferentemente de seu último desfile, as imagens do vídeo, que encerrou o primeiro desta edição da Casa de Criadores, são todas gravadas na natureza. Especificamente, na Amazônia, entre rios e montanhas, o que levou as peças para mais perto de suas referências.

Apesar de ser uma estilista indígena e que advoga pela causa, Molina apresenta uma moda minimalista, nada caricata e desprendida dos códigos indumentários que se poderia esperar de uma moda feita sob esses pilares. Shapes amplos e quadrados em linhos orgânicos e tons sóbrios aparecem misturados aos trabalhos em fibras naturais, feitos em terras guaranis.

“Minha moda comunica aquilo que eu quero sem ter grandes informações. A ideia é justamente tirar esse estereótipo. Não vou ficar fazendo grafismos. Vivo numa cidade grande, transito entre vários lugares. Esses códigos clássicos cabem num ritual, numa situação que vivencio no particular. Como estilista, quero mostrar meu talento e minha voz de outra forma, não essa caricatura do que é ser uma estilista indígena“, diz.

Os pontos altos da coleção são quando esses códigos se fundem com as memórias afetivas, como o poncho peruano usado por seu avô, que no filme é trajado por uma modelo com o rosto pintado de urucum, ou na estampa principal da coleção, feita com desenhos de mulheres importantes da sua vida, como a avó, a irmã, uma amiga e a mãe. Tudo de forma nova e fresca.

“A coleção é feita 100% por mulheres, criando, bordando, desenvolvendo, costurando. Faz muito sentido ela trazer essa força matriarcal”, afirma. Uma das bolsas de cestaria da coleção, aliás, foi desenvolvida a seis mãos por três gerações da família.

Essa estética mais limpa não cancela a importância de uma voz indígena em uma semana de moda como a Casa de Criadores. Inclusive, só amplifica-a. Sua equipe, composta por 80% de indígenas, é a prova disso.

“A gente traz esses corpos como protagonistas não só no desfile. A moda tem essa tendência de só representar por meio de modelos. Na Namilo, desde a estilista, a assistente e o maquiador até a pessoa que criou a trilha, somos todos indígenas. Estamos ocupando esses espaços”, finaliza.

 

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