Nova coleção de João Maraschin retoma foco no tempo e em moda responsável
Estilista gaúcho radicado em Londres chamou atenção durante a semana de moda de Londres e agora estreia e-commerce próprio.
Da última vez que conversamos, João Maraschin acabara de voltar ao ateliê que alugou dias antes de Londres entrar em lockdown. Após meses de quarentena, ele pôde, finalmente, retomar os trabalhos e ideias que apresentou em fevereiro, durante a London Fashion Week. O desfile em questão marcou o lançamento oficial de sua marca homônima. A coleção, inspirada nas obras do artista plástico José Leonilson e produzidas de acordo com práticas responsáveis ambiental e socialmente, foi muito bem recebida, mas a pandemia complicou sua produção e comercialização.
João, contudo, trabalha de acordo com o próprio tempo. Seu pensamento e abordagem criativa têm um timing outro e prazo de validade bem mais longo do que o padrão do mercado. “A gente passa um tempo tão grande no desenvolvimento que é injusto deixar essa pesquisa morrer em seis meses”, disse ele, em uma das entrevistas à ELLE. “Existe tanto trabalho por trás, acredito que vale a pena dar continuidade às ideias”, continua.
Recém-lançada, sua segunda coleção é um bom exemplo disso. Trata-se de uma evolução do que foi mostrado na semana de moda de Londres. “Ela também fala de Leonilson, porém é mais política e comunicativa”, explica João. A comunicação, no caso, se dá por meio da colaboração dos integrantes de sua equipe e as bordadeiras com mais de 70 anos com quem trabalha em Itabira, no interior de Minas Gerais.
Vestido com bordados feitos a partir de desenhos de integrantes da equipe de João Maraschin.
Calça de crochê feita de borracha de câmara de pneu de bicicleta.
Durante os meses de quarentena, o estilista chamou seus funcionários para uma reunião no Zoom e pediu para que cada um desenhasse algo que lhes fosse importante. Cada ilustração, então, virou um bordado. Os hábitos dos tempos pandêmicos também foram responsáveis por outra novidade: o reaproveitamento da borracha. Especificamente, aquela usada para fazer câmaras de pneu de bicicletas.
“Comecei a pedalar mais para me locomover pela cidade e meu pneu acabou furando umas cinco vezes”, conta João. Durante uma das visitas a bicicletarias, perguntou sobre o destino das câmaras danificadas e percebeu que poderia dar outra finalidade que não o descarte a elas. Vem daí os cintos, sandálias e peças de crochê feitos com a borracha.
Outra novidade, são os tricôs, crochês e macramê feitos por um grupo de artesãs de sua cidade natal, Caxias do Sul. Os fios utilizados vieram de descartes de tecelagens locais. E tudo já à venda em seu novo e-commerce.
Tricô feito a partir de descartes de tecelagens brasileiras.
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