O sapato Mary Jane voltou!

Com apoiadores como Marc Jacobs e Dua Lipa, o calçado clássico está de volta e de cara nova.


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Foto: Divulgação



Quando Julia Toledano lançou a sua marca, ao lado de Olivier Leone, as maiores tendências de calçados giravam em torno dos tênis. Esse, no entanto, não era bem o seu interesse. Frustrada por nunca encontrar o clássico perfeito, a designer decidiu olhar para as construções arquitetônicas, com saltos robustos e silhuetas de plataforma, e fazer dessa a sua assinatura. Deu certo. Em pouco mais de dois anos, a Nodaleto, sediada em Paris, alcançou uma façanha rara: criar um produto de luxo imediatamente reconhecível, em um curto espaço de tempo.

Seria mentira afirmar que o tal feito dependeu apenas da qualidade e inovação de suas peças. A etiqueta faz parte de uma geração de marcas que aprendeu cedo a conectar o produto ao marketing. As campanhas ousadas, a coragem de encarar as mídias sociais como de fato elas são e a construção de um relacionamento simbiótico com os seus seguidores foram decisivos. Tudo isso, porém, não faria sentido sem os Bulla Babies.

De salto grosso e bico ligeiramente quadrado, o grande hit da etiqueta pode ser considerado uma versão atualizada da tradicional Mary Jane, aquele sapato de boneca ou colegial bastante clássico. “Esse é o campeão de vendas, desde a primeira coleção”, revela Julia, em comunicado divulgado à imprensa.

Dua Lipa aparece ao lado de Bella Hadid cal\u00e7ando uma Mary Jane.

Dua Lipa calça Mary Jane da Nodaleto em parceria com a Heaven. Getty Images

Se estivéssemos nos anos 1960, Twiggy, certamente, também os calçaria. Em 2021, porém, são vistos nos pés de Dua Lipa, Bella Hadid e Marc Jacobs. O último, aliás, se tornou fã da Nodaleto a ponto de convidá-la para uma parceria com a Heaven, sua marca voltada para a Geração Z. “Não poderíamos ter sonhado com uma colaboração melhor. Marc foi um designer definidor dos anos 1990 e 2000 e revolucionou o luxo”, comentou Olivier Leone, co-fundador da etiqueta de calçados, em entrevista ao WWD.

As décadas mencionadas por Leone são importantes para entender o retorno desse tipo de calçado. Naquela época, versões espalhafatosas de Mary Janes, com plataformas e saltos altíssimos, marcou toda uma geração. Basta lembrar das Spice Girls ou dos club kids mais ousadas da cena underground de Nova York e Londres.

Em sua origem, porém, o clássico modelo de sapato sinalizava formalidade na mesma medida que doçura. Era feminino, sem abdicar dos atributos estéticos conservadores. Agora, porém, ele recupera os ares rebeldes de vinte e poucos anos atrás, com um pouco mais de informação de moda e até sofisticação.

O velho é novo de novo

Você deve se lembrar quando Alice cai na toca do coelho e chega à um novo mundo psicodélico, também conhecido como o País das Maravilhas. Nos pés, ela calça um par de Mary Janes. Ela, no entanto, não é a única personagem importante para a história do modelo. Reza a lenda que o nome veio do quadrinho Buster Brown, escrito pelo cartunista estadunidense Richard Felton Outcault, em 1902. Na história, uma menina chamada Mary Jane usava sapatos baixos com uma pequena tira na frente, e é daí que vem seu nome.

Mas, ok, voltemos a Alice. Acompanhado por um vestido rodado azul claro, o visual da personagem era cravado em uma inocência que inspiraria o arquétipo da moda, atravessando as décadas do século 20. Foi ela quem tornou as Mary Janes, criadas para atender a necessidade da existência de uma opção feminina formal, em uma instalação permanente da cultura popular.

Desde então, todos, de Mary Quant a Yves Saint Laurent, Rei Kawakubo e Coco Chanel, capitalizaram o estilo. A última, em especial, se tornou uma ávida defensora do modelo. Após as Mary Janes emergirem em escala internacional, a estilista francesa foi uma das primeiras a reconhecer a capacidade de experimentação na simplicidade do modelo. A etiqueta seguiu evoluindo seu design e, a partir da entrada de Virginie Viard na direção criativa, em 2019, ele foi resgatado com ainda mais vigor.

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Marc Jacobs, inverno 2021. Foto: Divulgação

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Miu Miu, verão 2022. Foto: Divulgação

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Chanel, verão 2022. Foto: Divulgação

O momento parece conveniente. Há mais de um século, Mary Janes tem sido um ícone escolar. Embora voltar às aulas, hoje, não se assemelhe em nada com o mundo pré-pandêmico, as tendências da moda colegial têm se mantido estáveis. Enquanto as minissaias aumentam sua popularidade, os coletes de tricô viralizam no TikTok e as meias até o joelho à la Cher Horowitz são revividas, o tal sapato também tem o seu momento.

Você, no entanto, pode esquecer o que costumava associar ao modelo. Tradicionalismo? Infantilidade? Feminilidade extrema? Tudo isso parece ter ficado para trás. Das marcas de luxo às emergentes, a moda parece empenhada em tirar a poeira do calçado e trazê-lo de volta à popularidade. Apesar de nunca ter morrido de fato, hoje ele parece particularmente novo, envolvido em solados tratorados e adornos grosseiros, contrariando a sua maciez infantil.

Prova disso é a versão da Dr. Martens. A marca, que se tornou sinônimo de rebeldia, desenvolveu a sua Mary Jane sem abdicar de seu espírito punk. A Versace também não fica para trás. O novo hit da italiana é como a evolução do modelo, evocando a sensualidade em um salto de espessura e curvas. Já para a Miu Miu, é tudo sobre cores inusitadas, e para a Gucci, os homens também deveriam experimentá-la.

A própria Mary Jane, provavelmente, ficaria impressionada com as tantas novas interpretações feitas no calçado que leva o seu nome. Enquanto isso, os alunos que imploravam por um par de Converse ou Vans, talvez, olhem com outros olhos para o sapato de seu uniforme regulamentado. Se Mary Janes são boas o suficiente para Marc Jacobs, elas também são para nós.

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