Patricia Bonaldi: “Em situações de vulnerabilidade busquei soluções criativas”
Nome por trás de uma das marcas nacionais mais desejadas aqui e lá fora, a estilista compartilhou sua história de empreendedorismo e deu dicas para as marcas apoiadas no segundo encontro do #MovimentoELLE 2022
Patricia Bonaldi foi a convidada do segundo encontro do #Movimento 2022. Nome por trás de uma das marcas nacionais mais desejadas aqui e lá fora, a estilista compartilhou sua história de empreendedorismo e deu dicas para as marcas apoiadas pelo projeto. “O Instagram não conta o backstage do negócio e esse tipo de encontro é uma oportunidade única de falar desse dia a dia, que é o que interessa e o que gostaria de dividir com vocês”, disse ela.
Natural de Uberlândia, MG, Patricia começou a empreender cedo, aos 18 anos. Ao lado do marido, passou três anos no Japão trabalhando para juntar dinheiro e investir no próprio negócio. Desde então, foram diversos os obstáculos para alcançar o sucesso que sua marca PatBo colhe hoje, e se tornar um dos nomes mais influentes da nova geração de moda. “É um mercado difícil, requer muito amor e dedicação”, comentou. “Trabalhamos em um setor, onde é preciso se reinventar a cada seis meses e isso pode ser exaustivo”.
Um de seus maiores desafios foi com a gestão de pessoas e da empresa em crescimento. “Enfrentamos problemas de planejamento, falta de gestão, calendário e fluxo de caixa”, revelou. “Não sabíamos o que fazer com aquilo, mas chegando em uma situação de vulnerabilidade, busquei soluções criativas”. Uma delas foi trazer uma consultoria de negócios da faculdade Dom Cabral e implementar um plano estratégico de crescimento para reorientar a bússola do business. “Se não há como contratar uma consultoria, a mensagem é gestão, desde o primeiro dia, e um bom RH”, indicou.
Na conversa, a estilista também deu dicas sobre como desbravar o mercado internacional de uma forma certeira. Abaixo, você confere essa e outras dúvidas das marcas que participaram do segundo encontro do #Movimento com Patricia Bonaldi:
Como foram os primeiros passos para a exportação?
Patricia Bonaldi: Antes de mais nada, é preciso ter um negócio mais amadurecido. Exportar não é apenas ter um produto desejado, mas também ter logística e muita preparação, pois você pode perder tudo por causa de uma letra errada na etiqueta. Foram três anos para que a Saks começasse a comprar a PatBo, por exemplo. Há um processo de observação para entender se você é uma empresa séria e se terá condições de atender a demanda, por isso é necessária uma estrutura muito madura no Brasil, tanto de produção como de marca. A minha sugestão é buscar uma consultoria especializada nisso, com pessoas que possam te mostrar caminhos de oportunidade para o seu negócio lá fora.
Como você lida com o gerenciamento de tempo?
Patricia Bonaldi: Ainda é uma questão pra mim, apesar de já ter melhorado bastante. No começo eu não almoçava, passava mal de fome, tinha crise de nervoso por causa disso e hoje não acredito que seja algo sustentável. Cheguei no limite físico e emocional, e precisei adotar outro estilo de vida. Hoje faço ioga, tenho uma alimentação super saudável, me exercito diariamente, medito e me priorizo muito mais. Preferi priorizar outras características do negócio e acredito que com uma boa estrutura é possível ter esse espaço para si, mas também é importante saber delegar.
Como funciona a sua estrutura hoje?
Patricia Bonaldi: Tenho departamentos de marketing e estratégia trabalhando juntos. Na PatBo, respiramos isso. Também tenho uma estrutura de varejo bem definida, com duas supervisoras que cuidam das lojas, além de um departamento de merchandising, que é muito importante. Nele estruturamos preço, fazemos pesquisa de mercado, mix de produtos e reposições. É um plano feito dentro do estilo, mas com um olhar de negócios, dados e informações – assim conseguimos definir o plano de faturamento e desenvolver uma coleção de maneira mais focada. Nosso administrativo fica em Uberlândia, engloba umas 10 pessoas junto da contabilidade e a Dom Cabral faz programas mensais em todos os departamentos para fortalecer a gestão.
Seu marido está com você desde o início e é seu sócio. Como funciona esse trabalho em família?
Patricia Bonaldi: Quando há pessoas próximas ou parentes na empresa, é muito importante fazer uma governança, definir bem as funções de cada um, porque empresas familiares envolvem muito emocional, então há dois lados: existe confiança, mas pode gerar ruídos, então é necessário se organizar para preservar essas relações e o negócio.
Como você equilibra o business com a direção criativa?
Patricia Bonaldi: Tenho essa crise toda vez que estou virando uma coleção e, ao mesmo tempo, lançando outra, montando estratégia de marketing, etc. Quando você é dono do negócio, esse jogo é constante, então o que me ajuda é ter pessoas atuando nos pontos onde não sou tão boa. Se não é possível contratar um gerente sênior, tenha pelo menos um assistente, alguém que pegue algumas demandas. Delegar pode ser difícil, mas não será pior que um burnout e não conseguir ir em frente. Por isso, tenho estruturado cada vez mais a minha empresa para andar sozinha. Tenho que ter o direito de me ausentar, seja por qualquer motivo, então é preciso estruturar a empresa para ela ser menos dependente de você.
De onde vêm suas inspirações?
Patricia Bonaldi: Elas não vêm de uma maneira linear, eu viajo muito e sou um patchwork de ideias. Com o trabalho manual, é tão mais fácil se inspirar porque tudo que você faz fica incrível, uma simples flor bordada já é espetacular. Acho que o próprio fazer a mão já é uma inspiração por si só, e o tema acaba não sendo tão importante pra gente que tem essa técnica. Mas, é claro que exploramos caminhos criativos e os meus vêm dessas viagens, vou juntando ideias a partir de tudo que me rodeia, sou muito intuitiva e sinto que o processo manual nos permite essa liberdade.
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