A trajetória de Phoebe Philo, patrona do female gaze na moda

Na direção criativa da Chloé e da Celine, a designer britânica influenciou a indústria com seu olhar sobre a forma de se vestir da mulher contemporânea. Agora, após 4 anos de pausa, ela retorna com uma marca própria que leva seu nome.


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Foto: Dave J Hogan / Colaborador



Phoebe Philo se formou em design de moda na Central Saint Martins em 1996. No ano seguinte, foi trabalhar com Stella McCartney na Chloé, assumindo o posto de diretora criativa em 2001. Ela foi a primeira estilista de uma grande grife a tirar licença-maternidade. Muito ligada à família, tirou dois anos sabáticos até retornar como diretora criativa da Céline em 2008. Phoebe foi responsável por criar uma identidade específica para a grife francesa, que liderou por 10 anos.

Acompanhe a sua trajetória a seguir:

A origem de Phoebe Philo

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Phoebe Philo e Stella McCartney em evento de abertura de loja da Chloé em 1999 Foto: Ron Galella / Getty Images

Filha de pais britânicos e criada em Londres, Phoebe Philo nasceu em Paris, onde viveu até os dois anos. Interessada em montar seus próprios looks desde pequena, gostava de customizar suas roupas na adolescência, o que só se intensificou ao ganhar uma máquina de costura aos 14 anos.

Estudou design de moda na Central Saint Martins, escola de londrina de onde saíram nomes como Alexander McQueen e John Galliano. Foi em sala de aula que conheceu Stella McCartney, e se tornaram grandes amigas. Em 1997, um ano depois de se formar, mudou-se para Paris para atuar como assistente de design de Stella, que havia acabado de assumir a direção criativa da Chloé.

Phoebe Philo na Chloé

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Desfile da Chloé na Semana de Moda de Paris em 2005 Foto: FRANCOIS GUILLOT / Getty Images

Em 2001, Phoebe substituiu a amiga, que decidiu abrir sua própria etiqueta, assumindo as rédeas criativas da Chloé. A grife se tornou um sucesso comercial em suas mãos, com uma imagem de moda poderosa em que reinava o effortless chic – ou, em bom português, a elegância sem esforço.

Nesse período, criou a it bag Paddington, lançada em 2005, que passeou com muitas celebridades, como Halle Berry e Nicole Richie. Também inseriu na casa francesa o jeans de cintura alta, vestidos baby-doll e a sandália anabela de madeira.

Uma curiosidade é que Phoebe Philo foi a primeira estilista de uma grande grife a tirar licença maternidade na história. Ela se casou com o galerista Max Wigram, em julho de 2004, e Maya, sua primeira filha, nasceu no final daquele ano – fazendo com que a designer ficasse de fora por uma temporada, em 2005.

No ano seguinte, se despediu da Chloé alegando que queria passar mais tempo com a família.

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Phoebe Philo carrega a filha Maya em seu retorno à Semana de Moda de Paris ao lado do marido Foto: Michel Dufour / Getty Imaginas

A era Phoebe Philo na Céline

Foram dois anos sabáticos – que abrangeram o nascimento de mais um filho, Marlowe – até que aceitou o posto de diretora criativa da Céline. O ano era 2008, e a marca estava sendo relançada no mercado, ainda contando com aquele acento agudo na primeira letra “e”.

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Look preto com tênis Stan Smith foi o look oficial de Phoebe Philo por anos Foto: Michel Dufour / Getty Images

O combinado era que ela lideraria a grife parisiense de sua residência, em Londres, com total controle criativo. Paralelamente, se tornou membro do conselho da LVMH, holding francesa da qual a Celine faz parte. Phoebe foi responsável por desenhar uma identidade muito específica para a casa fundada por Céline Vipiana, em 1945, e originalmente pensada para produzir calçados infantis sob medida.

Discrição, com detalhes que pareciam uma surpresa muito bem-vinda, além de roupas mais racionais, que atendiam as demandas de suas clientes, foram algumas de suas assinaturas dentro da Céline. Phoebe ainda olhou bastante para o universo esportivo e fez um casamento dele com a alfaiataria, desenvolvendo uma roupa que virou uma espécie de uniforme para o cotidiano, priorizando o conforto sem deixar de ser luxuoso.

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A primeira coleção da Celine assinada por Phoebe Philo foi apresentada na PFW Verão 2010 Foto: Getty Images

Por último, mas não menos importante, ela foi uma das responsáveis por desenhar um tipo de imagem sexy que se relaciona muito mais com o poder de uma mulher do que com o seu corpo. Seus designs combinaram luxo com praticidade e facilidade de uso, sendo facilmente traduzidos da passarela para o cotidiano.

Em seu tempo na Céline, criou vários itens de desejo, dentre eles, a tote bag Luggage, inspirada no formato banal de uma sacola, mas com design inteligentemente elegante e funcional. O casaco camelo, a camisa com estampa de lenço, as padronagens com pinturas artesanais, as calças de seda que se acumulam nos tornozelos e sandálias Birkenstock forradas de pele foram outras peças que marcaram o trabalho da estilista na maison francesa. E é bem provável que você já tenha visto uma dessas tendências por aí.

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Celine na Paris Fashion Week Inverno 2011 Foto: Dominique Charriau / Colaborador

Até mesmo o visual da própria estilista britânica virou tendência. Sabe aquele look pretinho básico, com um modelo de tênis branco da adidas, o Stan Smith? Ele pegou demais e foi o uniforme de Phoebe Philo durante anos.

A grife anunciou que iria pular a semana de moda de inverno 2012 porque a estilista estava grávida. Em abril daquele ano, nasceu o terceiro filho de Phoebe, Arthur. Ela seguiu por mais cinco anos no comando criativo da casa francesa até que, em 2017, anunciou a sua saída. Foram dez anos de Céline. Tempo o suficiente para apresentar uma visão de roupa que não só marcou um jeito diferente de vestir muitas mulheres, como também inspirou uma série de novos designers a fazer parecido ou mesmo copiar.

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As estampas foram um dos marcos de Phoebe na Celine Foto: Karl Prouse/Getty Images

Hedi Slimane entrou no lugar sem vontade nenhuma de revisitar os arquivos da colega, retirando até mesmo o acento de Celine e emprestando o seu DNA bem específico para a casa. Essa foi a deixa para que vários designers abocanhassem a parcela de mercado abandonada por ela, como Daniel Lee, na Bottega Veneta, Mary-Kate e Ashley Olsen, na The Row, e Peter Do.

Antes da despedida e ao longo de sua carreira, Phoebe Philo arrematou dois prêmios de melhor designer britânica do ano, com o British Fashion Awards, além de um CFDA de melhor designer internacional. Em 2014, apareceu na lista de 100 pessoas mais influentes do mundo todo da revista Time.

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Phoebe Philo sabe trazer a sensualidade pelo poder e não pelo corpo da mulher Foto: Michel Dufour / Getty Images

O retorno de Phoebe Philo com marca própria

Foram três anos e meio longe das passarelas até que, em julho de 2021, anunciou que estava de volta e como proprietária majoritária de uma marca própria de roupas e acessórios, a Phoebe Philo Studio. Durante o tempo afastada, foram muitas as especulações envolvendo o seu nome. Uma parcela acreditava de pé junto que ela ia assumir a Alaïa, enquanto outros apostavam mesmo era que a Chanel iria contratar a estilista.

Mas a verdade é que ela vai comandar um negócio próprio, uma marca construída do zero. “Estou ansiosa para voltar e ter contato com o meu público. Ser independente, governar e experimentar de acordo com os meus próprios termos é extremamente significativo para mim”, disse no comunicado oficial à imprensa.

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Na carta, ela ainda lembra que a relação com o grupo LVMH, enquanto esteve na Céline, sempre foi muito construtiva e, por isso, fez uma reconexão natural com o conglomerado, que terá uma participação minoritária na empresa. Assim, o grupo francês investe, mas deixa a estilista como a grande dona do negócio que, de acordo com a própria, “é focado em qualidade e design excepcionais”.

Em um post no Instagram publicado no dia 9 de fevereiro de 2023, a designer anunciou que primeira coleção da Phoebe Philo será lançada em setembro. As expectativas estão altas desde que o anuncio foi feito, tanto por parte da sua comunidade de fãs autointitulada “Philophiles”, quanto por toda a indústria da moda.

Reportagem atualizada em 9 de fevereiro de 2023.

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