Quer se vestir como as skatistas? Você não é a única

Os fabricantes de uniformes olímpicos estavam sob pressão para oferecer algo memorável às skatistas em Tóquio. É justo dizer que tiveram sucesso e, agora, é difícil não ficar ao menos um pouco obcecada pelos visuais.


origin 989
Foto: Getty Images



Após a volta da estética emo e a ascensão de um novo pop-punk, parecia faltar ainda um outro elemento para a nossa Avril Lavigne interior ser canalizada por completo. No entanto, graças às Olímpiadas, isso já não é mais um problema. O skate acaba de realizar a sua estreia como esporte olímpico nos jogos deste ano em Tóquio e, sem surpresas, as atletas da modalidade chamaram atenção não apenas por suas habilidades como também por seus estilos. Se você ficou com vontade de se vestir como elas, saiba que não é a única.

A verdade é que, quando se trata de skatistas, não se podia esperar outra coisa. Durante os últimos 50 anos, as roupas usadas pelos adeptos da prática – de camisetas gráficas a tênis clássicos – tiveram um impacto incontestável no inconsciente coletivo, se desdobrando na cultura popular. O efeito se evidenciou especialmente a partir da década de 1990, quando o skate deixou de ser um esporte de nicho para se tornar um fenômeno global. Desde então, a cada era, o estilo relacionado à modalidade passou por mudanças variadas, claro, mas os fundamentos permanecem os mesmos.

image 1226

Campanha da Vans inspirada na cena dos anos 1990.Foto: Ari Marcopoulos

Lá atrás, Jantzen, Hobie e Hang Ten eram as marcas oficiais dos adeptos. Porém, à medida que a subcultura progrediu, outras entraram em cena, como Vans, Converse, Alva e Nike, definindo o visual do skate por gerações inteiras. A última, aliás, foi a responsável pelos uniformes das skatistas do Brasil, Estados Unidos, Japão e França nessas Olimpíadas. Acontece que, para isso, a empresa tinha um pequeno-grande desafio: um bom skatista detesta uniformidade.

Na verdade, não só isso. A própria inclusão do skate nos jogos olímpicos dividiu opiniões. A ideia de uma modalidade, nascida nas ruas da cidade e movida por um espírito subversivo, inserida agora em um ambiente corporativo e institucionalizado não faz sentido para alguns. Mas, discordâncias à parte, a Nike pareceu atenta à conversa. Em uma suposta tentativa de acalmar essas inquietações, a etiqueta estadunidense capturou os fundamentos skatistas e mostrou que os atletas ainda seguem no controle.

A solução foi desenvolver um visual para cada federação, ao mesmo tempo em que a etiqueta forneceu aos skatistas espaço suficiente para que eles tivessem seus próprios kits personalizados. “Cada um pôde acessar ao catálogo e criar o seu próprio visual, misturando os produtos desenvolvidos por nós”, explicou o designer Donavan Harris em comunicado divulgado à imprensa.

A Nike também conversou com os atletas para entender como as peças poderiam colaborar em seus desempenhos. O calor era uma grande preocupação 一 as competições de skate acontecem ao ar livre durante o período mais quente do calendário japonês. Isso, no entanto, já não foi um desafio para a marca: “queríamos que as roupas parecessem com as que um skatista usa normalmente, mas incorporadas à melhor tecnologia oferecida”. Dito e feito: nas camisas, há fios que absorvem a umidade e elevações que impedem o tecido de grudar na pele.

Diante de um esporte frequentemente associado a figuras masculinas, não há nada mais legal do que ver mulheres dominando seus skates, principalmente quando as mulheres em questão são, na verdade, ainda meninas. O pódio do skatepark nas Olímpiadas não poderia ter sido mais jovem: Momiji Nishiya, de 13 anos; Rayssa Leal, também de 13; e Funa Nakayama, de 16. A brasileira, que já conquistou o país com seu talento e confiança, exibiu manobras em uma calça cargo afivelada e uma pilha de pulseiras trançadas no braço.

O visual totalmente branco usado pela japonesa Aori Nishimura, de 19 anos, também impressionou as mídias sociais. O cabelo platinado da garota ainda brilhava contra a pista de concreto. Da mesma idade, a belga Lore Bruggeman ganhou pela estética minimalista do combo infalível calça baggy e camisa polo, e pela dose coolness injetada com os acessórios.

Cada skatista parecia sair da pista do bairro e, entre uma camiseta dobrada e um boné invertido, a autenticidade reinava. Essa sempre foi a premissa do skate. Quando Avril Lavigne apareceu no início dos anos 2000, usando calças utilitárias e camisetas largas, ela funcionava como uma alternativa à indústria. A cantora, claro, alcançou o mainstream, mas, mesmo comercializada, parecia manter ainda um nível de autonomia raramente concedido a artistas femininas. Era como se Avril tivesse uma permissão imaginária para ocupar uma posição à margem da cena pop, sendo uma quase melhor amiga para as garotas que se sentiam diferentes.

Prestes a completar 20 anos, “Sk8er Boi”, um dos maiores hits da canadense, segue sendo cativante e, certamente, nunca houve um melhor momento para resgatar também a sua estética. A atenção por parte do público significa que, agora, o visual de uma skatista já não está mais limitado a apenas quem sabe realizar um kickflip perfeito. Certa ou errada 一 depende para quem você perguntar 一, é fato que, depois da inclusão do skate nos jogos olímpicos, muitas garotas ao redor do mundo, inspiradas pela fadinha nacional e pelas outras atletas, irão comprar não só calças cargo como também um skate para começarem a praticar.

ONDE ENCONTRAR?

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes