REIF recicla roupa, poesia e imagem em filme que não existe

Projeto colaborativo de Marcelo Alcaide apresenta drop de coleção contínua na Casa de Criadores e fanzine com tiragem limitada.


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É difícil escrever a palavra “novo” quando se trata de construir qualquer comentário sobre a Reif, embora tudo nela seja. A grife… (não, melhor seria projeto multiplataforma)… apresentou o filme (também não, foi um trailer de um filme que não existe)… de sua nova coleção… (muito menos, porque todos os looks são reedições de outros, doados por estilistas independentes)… na Casa de Criadores – ufa, o evento é esse.

Tentar encaixar em linhas retas essa ideia do diretor criativo português Marcelo Alcaide não resume a função de sua marca projeto, porque o fundamento é exatamente rever, por meio de reúso de peças antigas, o processo linear de confecção e distribuição de moda. Ele, que fez da Reif.Life uma plataforma que também engloba festas e pontes entre artistas, apresentou o novo drop da coleção Reif Non como um hiperlink para o espectador buscar fora da tela seu desfile em formato PDF.

Estileras, Fkawallys, Hydra, Yves Tumor e Ecocore assinaram essas roupas num passado recente e que, com a nova roupagem fotografada por Cassia Tabatini, ganharam as páginas de um fanzine publicado como desfile. Em vez do vídeo, o papel, porque para a Reif o mundo carece de sensações táteis, a aproximação física vetada pela pandemia. Cerca de 200 cópias serão distribuídas.

Nas páginas, os looks aparecem distorcidos, em meio aos poemas que, também reciclados, intervêm uns nos outras com rabiscos e revisões, em um autêntico upcycling de palavras ordenadas em pequenos versos do tipo haikai, os poemas curtos de três linhas cuja origem é japonesa.

Apresentadas em formato experimental e comercializadas não para engordar os caixas das dezenas de artistas que participam da história, mas sim doar o dinheiro para instituições que cuidam de pessoas desassistidas, as roupas da Reif são veículos de transformação, não de manutenção do status quo.

Assim como no drop passado, a Cartel 011 venderá as peças dessa coleção contínua, que nunca acaba e aparece reciclada a cada estação, nova em folha. Ou melhor, renovada em folhas.

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