Em meio à escuridão, Silvério oferece uma possibilidade de enxergar

Marca paulistana se inspira nas sombras para criar sua coleção de estreia na SPFW.


CzoRueFD origin 34



Está tudo caótico, é verdade. A luz no fim do túnel parece cada vez mais distante. Parece que tateamos no escuro em busca de um clarão, de vacina e de respostas para um genocídio brasileiro. Mas nem sempre ficamos totalmente às cegas nas sombras. Essa foi a aposta de Rafael Silvério, fundador de sua marca homônima. Sua estreia na SPFW, por meio do Projeto Sankofa, foi brilhante e ao mesmo tempo sem luz.

Sua inspiração foi justamente o entendimento de como enxergar na escuridão. Segundo o estilista, ”no escuro conseguimos exercitar o ato de escutar, silenciar e compreender. São coisas importantes hoje. Tem ainda o lugar da perda: todo mundo, nesse processo, passou pela ausência de algo ou de alguém, então falar sobre isso é importante”. Para ele, a ideia de que tons escuros são malignos é uma ideia ainda baseada em estereótipos racistas, então a procura foi romper com essa concepção.

A cor predominante é o preto. Na modelagem dos seis looks, o que vemos é a falta: de uma manga, uma gola ou outro detalhe. Para dar movimento às peças, foi trabalho um mix de texturas. No filme fashion, que Rafael considera uma experiência muito diferente e nova para os designer, tons de rosa são incorporados na iluminação. Durante sua trajetória no Sankofa, ele foi amadrinhado por Vitorino Campos.

Além de estilista na Silvério, Rafael faz a gestão do Projeto Sankofa, junto a Natasha Soares. Em sua visão, a ação foi um oxigênio para o evento, que já acontece há 26 anos, mas pouco ou nada se atentava para questões raciais. ”As participações ainda não representam o quanto somos em população, mas talvez seja o SPFW mais negro do que nunca se viu”, diz o estilista nascido e radicado em São Paulo.

Rafael acredita o projeto ”reverência quem veio antes”, e cita Isaac Silva como exemplo: o estilista, que fecha as apresentações de hoje, é referência e foi um dos primeiros a apresentar a potência da moda criada por pessoas negras nas passarelas da Semana. Moda essa que é plural e diversa – o que ficou evidente com as coleções dos participantes do Sankofa. ”Apesar de sermos oito marcas, somos mto plurais. Os temas têm congruências mas as perspectivas são distintas”, diz ele. ”Afinal, moda preta é qualquer uma que é feita por uma pessoa negra”, finaliza.

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes