Trash une upcycling e veia colaborativa para resistir

Em parceria com cinco marcas, estilista Dyony Moura apresenta trabalho de transmutação têxtil e reaproveitamento em prol da construção de ateliê.


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Fotos: Rafa Kennedy



A máxima de que ninguém faz nada sozinho parece ter sido elevada nesta Casa de Criadores. Pudera. Em tempos difíceis como os de hoje, uma das únicas saídas para sobreviver é se unir e se apoiar nos nossos, criando redes de colaboração. Já falamos aqui sobre a Rede Ateliê TRANSmoras, de Vicenta Perrotta, e de seu modelo que une upcycling e aceleração de marcas. Ele é o mesmo que guia a TRASHrealoficial.

Se em outras searas isso soaria como cópia, aqui ressoa como homenagem. A marca de Dyony Moura já fez parte do coletivo de Perrotta, apresentando sua coleção ao lado da estilista em 2019. Com a mesma veia colaborativa, ela convidou para seu desfile na Casa cinco marcas e designers, que dividem os holofotes e mostram seu potencial. “Se não fosse dessa forma, não teria como esse trabalho ser executado”, explica Moura.

 

Cada marca convidada trabalhou dentro de sua expertise, mas sempre norteadas pelo upcycling e a transmutação têxtil. No que coube à Namoradinhas do Brasil, por exemplo, as peças têm modelagens bem justas e foram pensadas para o corpo travesti, que demanda outras medidas.

“Geralmente, compramos roupas femininas, mas o ombro às vezes é estreito ou a cava fica fora do lugar. Então, criamos roupas modeladas para esses corpos dissidentes”, comenta. Por sua vez, a Roupas Lara, especializada em moletons, empresta o streetwear composto por tecidos e peças de reúso, com modelagem ampla que leva em consideração os corpos fora do padrão.

No momento do vídeo em que o jeans é o foco, a marca Biomba sobe ao palco e apresenta seu trabalho de reaproveitamento dos tecidos, colocando como estrela uma jaqueta feita de calças jeans usadas. A Arrogant, de Nilo Cavalcanti, é uma marca de lingeries com modelos pensados para ‘acuendar’ as partes íntimas, e, neste desfile, a calcinha virou sutiã em uma peça conceitual. Por fim, a Marginal Style, do designer de moda Trindade, estreia pichando e pintando parte das roupas.

A ideia era reafirmar o estilo de cada marca, mas sempre sob a direção criativa de Dyony. Todos os tecidos e as peças desse processo de upcycling e transmutação foram garimpados pela estilista no intuito de explorar o reaproveitamento de materiais e colocar em prática a vontade de criar em cima do descarte.

A real é que, se já está difícil para marcas pequenas de estilistas brancos e cis, a situação para designers transexuais, travestis e negros beira o impossível. No desfile, batizado de Levante, Moura pede ajuda por meio de um financiamento coletivo para pagar os profissionais a ajudaram a criar essa coleção, mas também para as próximas que estão por vir.

“Estamos com uma atuação maior em São Paulo por causa da Casa de Criadores e pela movimentação que temos feito na cidade. Esse dinheiro vai nos ajudar a construir um ateliê, com máquinas industriais e espaço para as pessoas trabalharem, e fazer a equipe crescer.”

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