Uma dúzia de novidades
Conheça 12 marcas jovens e independentes que estão despontando na moda nacional.
Faz parte da história de ELLE apoiar novos talentos da moda nacional. Neste momento não teria como ser diferente. Em um cenário econômico caótico e incerto, investir em pequenas grifes também é uma forma de apoiar a comunidade local – algo que deveria ser praticado sempre que possível. O tema, aliás, é assunto frequente em muitas das nossas pautas. Pensando nisso, fomos atrás de 12 marcas que vêm chamando a atenção do mercado com criações autorais, inovadoras e bastante desejáveis. Confira:
A. Rolê
Foto: Marina Benzaquem
Com apenas dois anos de vida, a marca de Luiza Gil, a A.rolê, já tem como alguns de seus fãs ninguém menos que Pabllo Vittar, Urias, Luísa Sonza e Magá Moura. Fato que ajuda explicar porque você já deve ter visto algum de seus macacões, luvas e blusas de gola alta pelo seu feed do Instagram. “Trabalho principalmente com tecidos elásticos para deixar a anatomia humana em evidência”, explica ela, sobre a silhueta justa de suas peças.
Nascida em Porto Alegre, Gil é formada em produção de moda pela Universidade de Palermo, na Argentina, e passou por diversas áreas do mercado, como marketing digital e consultoria, antes de montar a própria grife, em 2018. A ideia de fundar a marca surgiu ao seu mudar para São Paulo, em 2017, e perceber uma brecha no mercado: “Como fazia produção de moda, percebi que tinham peças que eu queria e nunca encontrava. Foi aí que comecei a pensar em produzi-las eu mesma”.
Gil curte passar horas na janela de casa, observando o movimento. É sua maior fonte de inspiração. “Acredito que as respostas são muito mais simples e estão muito mais perto do que a gente acha. Elas estão nos meus amigos, nas ruas”, completa. “Minha marca é jovem, mas não tem idade. Quero despertar sentimentos de liberdade e adaptabilidade nas pessoas. Quero que elas vejam minha roupa e pensem em algo novo.”
Sem se guiar pelas estações do ano, os lançamentos da A.rolê acontecem em drops e vão de acordo com as vontades do momento. “Agora, decidi criar uma coleção especial de esporte e uma para ano novo”, antecipa a estilista. “Vou explorar elementos novos como ferraduras, brilhos e plumas, pois acho que a situação está muito difícil e merecemos esse momento lúdico.” As encomendas (de famosos ou não) de peças sob medida também são muito bem-vindas.
Artur Malta
Foto: Divulgação
Peças funcionais com pegada esportiva são as principais características da marca Artur Malta, estilista mineiro que comanda sua grife homônima há cerca de três anos. “Sempre tive uma ligação forte com o esporte, meus pais viajaram o mundo para andar de bicicleta e de moto, meu irmão é piloto da Yamaha, então tenho essa noção da roupa útil desde muito cedo”, conta ele. “Também sou filho de costureira e sempre vi de perto o ofício. Além disso, nossa família teve uma loja de tecidos em Belo Horizonte, nos anos 1990.
O histórico familiar foi determinante nas escolhas de carreira de Malta. Formado em moda pela FUMEC, o estilista lançou seu próprio negócio logo após apresentar seu TCC. As vendas começaram via Instagram e seguem assim desde então, com pequenos lançamentos que acompanham seu próprio timing de produção. “É muito difícil seguir o calendário tradicional quando você é uma empresa pequena, então lançamos na medida em que fazemos os produtos”, diz ele, que preza por uma cadeia produtiva transparente e sustentável.
Recentemente, o estilista abriu um ateliê em Lagoa da Prata, sua cidade de origem, para incentivar produtores e artistas locais. “São pessoas que conheço há anos e que estão empolgadas com o conhecimento que estão recebendo e trocando conosco.” A mudança para o interior ainda abriu caminho para Malta descobrir novos materiais, como as cabaças de abóboras secas. “Comecei a experimentar com elas em acessórios e nas próximas semanas vamos lançar uma linha toda feita com o material”, diz ele. Outra frente importante para sua label é o upcycling: “Pego roupas esportivas da minha família e crio peças novas, sempre com a ideia de fazer algo prático e útil para o dia a dia e ao mesmo tempo chique.”
Augusta Paris
Foto: Divulgação
A brasiliense Carolina-Augusta Neumann sempre foi fascinada por figurinos. Tanto que decidiu cursar cinema em Buenos Aires e se especializar no assunto. “Passei cinco anos lá até me mudar para Paris, em 2013, para estudar na École de la Chambre Syndicale de la Couture Parisienne e aperfeiçoar meus conhecimentos”, diz ela. Na capital francesa, a ideia inicial era trabalhar no teatro e cinema, mas a realidade foi um pouco diferente. “Comecei a produzir roupas para o curso e as pessoas gostaram muito, especialmente do trabalho elaborado de alfaiataria, e começaram a fazer pequenas encomendas”, lembra. Nasceu assim a Augusta Paris.
Vegana há 15 anos, Neumann aproveitou o lançamento para se aprofundar em ações de sustentabilidade. “Comecei a explorar tecidos biodegradáveis, algo raro na época. Quase ninguém fazia”, explica ela. “Todo o processo é feito com artesãos para desenvolver uma alta-costura francesa bem acabada, mas com o etos do século 21, incluindo questões sustentáveis e de praticidade”.
Com duas coleções por ano, composta por 8 ou 10 peças, a Augusta Paris não tem pretensões de crescimento megalomaníaco. “Trabalho o design para que ele seja perene, crio séries limitadas, todos os itens são numerados e únicos. Quando algo faz muito sucesso, mudo a cor ou o tecido, sempre utilizando o que tem em estoque.” O trabalho de sourcing da grife vai dos botões aos tecidos, que também podem vir das sobras de coleções passadas como de outros estilistas mais comerciais. “É sempre uma surpresa e é muito legal, porque cada roupa tem uma história, faço diversos testes até que surge alguma coisa, nunca sei no que vai dar, é um processo bem natural”, conta ela.
Greg Joey
Foto: Karla Brights
São várias as razões que levam uma pessoa a querer fazer roupas e viver disso. Para o paulista Lucas Danuello, da Greg Joey, trata-se um processo de cura. Cada coleção – até o momento já foram quatro – surge de suas vivências pessoais, que vão de observações da vida cotidiana a dramas familiares. A mais recente, é sobre mortalidade e saudade. “Isso se desenrola, por exemplo, através dos plissados, como marcas do tempo nos tecidos”, explica o estilista.
“Sempre gostei de roupa, de me vestir e da imagem de moda. Desde muito cedo leio livros e revistas, meus pais foram muito livres em relação a isso, me deixaram experimentar”, conta ele. Seguindo seu sonho, se mudou para São Paulo, em 2013, para cursar moda na Faculdade Santa Marcelina. Contudo, após a formatura, em 2016, surgiram os primeiros obstáculos profissionais. “Quando você está estudando te vendem uma outra imagem da indústria. Foi um período meio estranho de adaptação, tanto que fui trabalhar em uma galeria de arte.”
No um ano e meio que ficou longe da moda, Danuello não parou de receber incentivos dos amigos, como a estilista Rafaela Caniello, da Neriage. “Nesse meio tempo decidi montar a Greg Joey”, diz. “Foi um começo bem solto, produzi algumas peças em um tecido que já tinha, todas em tamanho único, bem experimental mesmo.” Mas deu certo, e não demorou muito para surgir uma demanda.
Hoje, a marca – que tem seu nome inspirado numa famosa sex tape que rodou o mundo nos anos 1990 – aposta em pequenas coleções, produzidas de acordo com a demanda. “Trabalho com tecidos fluidos e leves, gosto de movimento e shapes amplos, que podem se adaptar a qualquer corpo, mas também aceito encomendas específicas e vendo bastante dessa forma”, conta ele.
Kumara
Foto: Divulgação
Fundada em 2019 por Ametista Kumara, a marca surgiu da forte conexão com trabalhos manuais cultivados pela estilista desde a infância. “Meu pai é artesão, sempre produziu mandalas tibetanas, acompanhei de perto seus processos, tanto no desenvolvimento como na parte de vendas”, conta ela. Nascida em Pirenópolis, em Goiás, Kumara começou a se aventurar na crochetaria em 2015. “Fazia biquínis, vendia para amigas e isso rapidamente tomou uma proporção maior. Nasceu assim sua primeira label, a Amaranto, vendida diversos estados brasileiros.
Foi a partir dessa primeira experiência que a estilista sentiu o desejo de se aprofundar mais no mercado de moda. Em 2018, ela se mudou para Belo Horizonte com a intenção de se profissionalizar e não saiu mais da cidade. “Queria aprimorar meu olhar e entender o que estava sendo consumido, tanto de conteúdo quanto de produto.” Depois de colaborar com amigos donos de marcas independentes, decidiu renomear a label e explorar novas frentes, como a criação de acessórios.
“O crochê é muito associado ao antigo então quis ressignificar isso com um olhar moderno”, explica. Em São Lourenço, onde viveu uma boa parte de sua vida, descobriu um fio de malha que lhe permitiu novas experiências com a técnica. “Ele tem uma textura diferente que me possibilita criar peças mais estruturadas, de estilo street ou com ar futurista. Além disso, se trata de um resíduo têxtil que a grande indústria deixa para trás, então tem também o viés sustentável”.
A parte chata é que o material impõe algumas limitações. Por não estar disponível em larga escala, não é possível realizar grandes coleções com ele. “Mas é algo que eu gosto. Pensar somente na venda me parece uma coisa do passado. Quero respeitar meu tempo como artesã, fortalecer meu entorno, acompanhar os processos e reconhecer os profissionais envolvidos na produção”, diz. “Quero ser uma marca abrangente e permitir que meus clientes também usem a própria criatividade.”
Lucas Leão
Foto: Giovanna Gebrim
Enquanto alguns estilistas costumam criar sozinhos em seus ateliês, outros preferem o trabalho colaborativo. Ao lado de Jemima Kos e Amanda Mille, o carioca Lucas Leão desenvolve coleções para sua marca homônima em parceria com artistas latino americanos desde 2018. “Esse é o nosso grande diferencial, não temos tarefas específicas, estamos sempre agrupando pessoas diferentes, com outros olhares e que queiram dizer alguma coisa”, conta ele. Além das collabs, a grife também funciona como laboratório de experiências, onde tudo é criado pelo time de inovação e estilo, inclusive as cores. “Nós recebemos os tecidos em branco das empresas parceiras e todas as cores são desenvolvidas digitalmente ou pintadas a mão.”
Processo similar ocorre com os materiais, sempre transformados em algo novo. “Na primeira coleção, fizemos plissados com uma técnica coreana de drapeado, na segunda, trabalhamos em cima do tecido com elástico para criar efeitos 3D e, na terceira, desenvolvemos um corte a laser e um plissado computadorizado.” Na quarta, que será lançada no meio de agosto, Leão vai se aventurar pelo mundo da realidade aumentada, numa colaboração os artistas Gabriel Massan e Lucas Guimaraes. “A gente procura conectar o que estamos fazendo com o nosso entorno e o que está acontecendo no momento, especialmente na política”, explica.
Apesar do pouco tempo de marca, o carioca sempre se envolveu com pesquisa e inovação. “Trabalhava para outras marcas pesquisando texturas, cores e novidades”, relata. Nesse período, rodou por algumas faculdades de moda no Brasil, mas não se encaixou em nenhuma. “Sentia que elas podavam muito o processo criativo”, diz ele, que encontrou no curso da CENTRO-BR com a Central Saint Martins o lugar certo para expandir seu olhar. “Enquanto isso, continuei desenvolvendo projetos com outras empresas, até receber um convite para entrar no projeto estufa do São Paulo Fashion Week, em 2018, e assim nasceu a marca.
Nesses dois anos, Leão já conseguiu chamar atenção do mercado internacional, com direito a um convite para desfilar na Itália. “Foi muito legal expor nosso trabalho lá e levar junto os questionamentos das pessoas que trabalham com a gente.”
Misci
Foto: Luca Oliva
Miscigenação. Esse é o ponto de partida da Misci, marca criada há dois anos por Airon Martin. “Sou de Sinop, no interior do Mato Grosso, quase na divisa com a Amazônia, minha avó é cearense, meu avô é do Pará”, comenta o designer. O início de sua carreira criativa, contudo, foi no design de móveis. Moda nunca figurou entre suas pretensões profissionais. Apesar de gostar de desenhar – principalmente vestidos, quando criança – sempre foi hesitante em se aventurar por esse mundo.
“Vim de uma família majoritariamente de mulheres, mas ainda assim pautadas pelo machismo”, diz. Suas primeiras investidas profissionais foram no direito e na medicina, mas, em 2015, a falta de recursos mudou o rumo das coisas. “A grana deu uma apertada e me mudei para São Paulo para procurar emprego.” Nesse período, Martin desenvolveu mobiliários em diferentes estúdios, como o de Paulo Alves, e se matriculou em um curso de design do IED SP (Istituto Europeo di Design). “Quando chegou o momento de apresentar o TCC, em 2018, aproveitei para criar uma marca que pudesse se materializar em outras coisas que não apenas móveis.”
Desde então, o designer trabalha com temas anuais para a Misci, divididos em duas coleções e algumas cápsulas. E aí vale tudo: roupas, móveis e até instalações. Sempre priorizando a matéria prima brasileira. “Faço tudo aqui, gosto de seda, algodão, linho, produzo os botões com borra de café prensada e resinada, papel reciclado, até ureia animal já usei.” Também há colaborações com artistas plásticos como Paula Scavazzini, Thais Geburt e Luiza Caldari, com quem co-criou uma linha de blazers. “Misturo o que vem de fora com o que é genuíno do Brasil, fazendo minhas próprias leituras.”
A alfaiataria despretensiosa e sofisticada é um dos destaques da marca, que também acaba de lançar seu primeiro modelo de bolsa. “Minha ideia sempre foi criar uma estética modernista, porém mais humana”, diz o designer. Outras novidad é a primeira loja da marca, em Pinheiros, com inauguração prevista para os próximos meses.
+ @misci__
Nove
Foto: Hadassa e Emily Baptista, Athos Henrique
Quando começou a costurar, aos 12 anos de idade, o mineiro Athos Henrique não fazia ideia do que era a indústria de moda. Natural de Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, deu seus primeiros passos rumo ao mercado na instituição Cidade dos Meninos. “Eles tinham cursos profissionalizantes e comecei com informática, mas não deu muito certo”, lembra o estilista, há dois no comando de sua própria marca, a Nove. “Minha mãe sabia que eu desenhava e me incentivou a fazer um curso de costura”, continua ele. A experiência foi tão boa que Henrique repetiu o mesmo curso mais duas vezes, engatou outro de lingerie e não parou mais de se aperfeiçoar no ofício.
Em 2013, ele entrou para o programa de aprendizagem do Senai e começou a acompanhar eventos como o Minas Trend Preview, onde assistiu um desfile da Apartamento 03, seu primeiro amor fashion. “Foi chocante, chorei de emoção e decidi que tinha que trabalhar com eles. Não dei paz, ligava todo dia.” Algum tempo se passou até surgir uma vaga de pilotista na grife. “Eu sabia costura básica e fui na cara de pau fazer o teste, montei um vestido, não ficou maravilhoso, mas o Luiz Cláudio, estilista da marca, gostou de mim e me contratou como assistente.”
De lá para cá foram inúmeras experiências nas principais etiquetas mineiras, entre elas Gig, Coven e Printing. “Queria entender como essas marcas faziam seus processos, sou muito ansioso então não ficava muito tempo em um só lugar”, comenta o Henrique. Essa movimentação o trouxe a São Paulo, em meados de 2016, para trabalhar com o stylist Rodrigo Polack. “Achei que não queria mais ser estilista, então fui tentar produção de moda.” Na capital paulista, mudou de ideia. “Via muita roupa e não acreditava que aquele era o produto que marcas que eu admirava estavam vendendo. Foi o momento em que tive a certeza que deveria ser estilista.”
Henrique voltou para Minas no ano seguinte e começou o Projeto Nove, uma espécie de reality show no Instagram, em que cada episódio mostrava o desenvolvimento de uma peça específica, como um vestido de casamento, por exemplo. “No terceiro episódio, surgiu uma demanda maior pelas roupas e comecei a executar a primeira coleção, lançada em dezembro do ano passado”. Hoje, a Nove funciona como um laboratório de moda, onde técnica e qualidade se misturam a histórias, pesquisas e conceitos mil. A primeira parte de uma trilogia de lançamentos inspirados em resistência, liberdade e escapismo já está sold out e o restante deve ser lançado até setembro.
Petrvs Figueira
Foto: Divulgação
Nascido em Belém, no Pará, Petrvs Figueira passou grande parte de sua infância desenhando monstros e super-heróis. “Meu pai trabalhava em uma empresa de reciclagem de papel e tinha acesso fácil ao material, então sempre me deu muito suporte para ilustrar e investir no desenho”, lembra ele. “De alguma forma, quando criava esses personagens, já estava trabalhando com moda, pensando na concepção dos trajes e no que era a construção de uma roupa.” Na adolescência, a conexão com o grafite e diferentes intervenções artísticas urbanas lhe deram a certeza do caminho que iria trilhar. Aos 20 anos, começou a criar figurinos para grupos de dança locais.
Em 2006, ele já havia esboçado uma marca própria, a Roleta Russa, que estreou na passarela do concurso Criando Moda do Shopping Iguatemi Belém e venceu na categoria estilista revelação. Na mesma época, a Universidade da Amazônia (UNAMA) havia acabado de lançar um curso de moda e Figueira não pensou duas vezes na hora de prestar o vestibular. “Como tinha curiosidade e muita ansiedade por me envolver no mercado, comecei a trabalhar no varejo e, depois que me formei, em 2010, fui bater na porta de algumas marcas.” Sempre mirando o streetwear, o estilista encarou diferentes funções em grifes locais até fundar sua marca homônima, no final de 2013.
A vivência na periferia de Belém é uma das principais fontes de inspiração para as coleções, também são influenciadas pelo esporte e pelo lifestyle das grandes capitais da moda como Londres e Nova York. “As interferências desse ambiente isolado geograficamente acabam se conectando com aquilo que enxergo como moda global. Busco uma identidade street e cosmopolita, mas com raízes amazônicas”, explica ele, que trabalha apenas com tecidos naturais e processos artesanais não-poluentes. “Não utilizo matéria prima animal e isso não é nem o ponto principal, mas simplesmente o que acredito que toda marca que está na Amazônia deveria fazer.”
Com um desfile anual desdobrado em pequenas coleções ao longo do ano, Petrvs Figueira está com diferentes projetos engatilhados até o final de 2020, entre eles o lançamento de uma essência e a abertura de um ponto de venda físico, que ele apelidou de PDX: “É um novo ponto de experiência que abriremos ainda esse mês em um dos estúdios de tatuagem mais conceituados de Belém, o Paulo Tattoo Studio”, entrega.
Projeto 01
Foto: Divulgação
Criada em 2017, a marca nasceu de uma paixão mútua das amigas Vanessa Gabardo e Paty Hirozawa por design e moda. Nascidas em Curitiba, a dupla trilhou caminhos diferentes até se conhecer. Enquanto Vanessa criava roupas moderninhas com direito a regulagens para suas bonecas, Paty rabiscava croquis e montava os looks das amigas para as festas do colégio. Em meados de 2012, seus caminhos se cruzaram quando ambas entraram no curso de design de moda do Senai. Antes do encontro, as duas passaram pelo mesmo curso de design gráfico. “Acho que esse aprendizado inicial foi essencial para nós sermos o que somos hoje, da forma como lidamos com o produto até a comunicação da marca”, diz Hirozawa.
A ideia de lançar um negócio juntas surgiu aos poucos. “Cada uma estava trabalhando para uma marca em Curitiba, sem grandes liberdades criativas e com muitas frustrações”, lembra Hirozawa. Quando chegou a formatura, sentiram que precisavam fazer algo, mas não sabiam bem o que. “Fizemos um curso de modelagem no Instituto Orbitato e foi um momento decisivo”, completa. Durante o período de imersão técnica, desenvolveram algumas peças em moulage separadamente, mas que funcionavam muito bem no mesmo look. “Uma vez pediram que a gente trouxesse nossas referências e levamos as mesmas imagens”, conta Gabardo, sobre o match que deu origem a grife.
O moodboard recheado de inspirações de streetwear, alfaiataria e do universo esportivo conduz as criações da Projeto 01 até hoje. “Queremos desenvolver peças inteligentes e curingas, mas não necessariamente básicas”, define Hirozawa. “Gostamos de explorar dobraduras, tecidos tecnológicos, que não façam bolinha na hora de lavar, por exemplo, ou que sejam hidro-repelente”, acrescenta Gabardo. O processo criativo é um constante ping-pong entre as duas, que preferem respeitar um timing de slow fashion na produção. “Cada roupa é um projeto, levamos muito tempo para pilotar, então não faz sentido descartar esse trabalho depois de 6 meses”, diz Vanessa sobre os lançamentos, que ocorrem por meio de pequenas cápsulas ao longo do ano.
Studio 64
Foto: Rafael Zuany.
Helena Vieira teve seu primeiro contato com moda através da avó, Valdelice, que trabalhava em uma fábrica de roupas em Salvador, na Bahia, onde nasceu. “Sempre havia muitas peças de alfaiataria em casa, aviamentos e vários materiais. Lembro que pegava os tecidos, fazia amarrações e depois desfilava”, conta ela. Em meados dos anos 2000, descobriu a cena hip-hop norte-americana e se interessou ainda mais pelo assunto. “Foi quando tive meus primeiros DVDs e assistí os clipes do 50cent, da Beyoncé com Destiny’s Child, Ashanti, etc. Fiquei apaixonada.”
Fã de streetwear, passou a consumir labels como Nike e Adidas e bastante fast fashion. Porém acabava descartando muita coisa. “Comecei a perceber como aquelas marcas não atendem às expectativas das mulheres negras em relação à modelagem. Somos curvilíneas e isso não é contemplado, então, aos poucos, me desapeguei de consumir tanto”, diz. Por conta de verba e influenciada pelos amigos, Vieira passou a comprar em brechós e marcas underground de Salvador. Não demorou muito para perceber que poucos apostavam no jeans, uma de suas maiores paixões. “Sempre amei, mas não encontrava nada que me identificasse”, explica.
Ao lado da amiga Luana Vitória, que já possuía uma marca de básicos e moda praia, decidiu montar a Studio 64, há pouco mais de um ano. De início, a dupla garimpou cerca de 10 calças jeans em um bazar de igreja e lançou sua coleção de estreia com 15 peças únicas, todas retrabalhadas. Calças que viraram tops, bolsos se transformaram em biquínis, saias e regatas de patchwork de tecidos. “O que sobrou da primeira venda foi reaproveitado para a segunda coleção e também temos recebido doações de amigos e familiares para as próximas”, conta Vieira, que hoje colabora com mais uma amiga na empreitada, a gestora Thaiane Clarissa.
A marca também faz parte do coletivo Pala, de criatividade plural, e está desenvolvendo duas novas colaborações: uma com o estilista Alexandre Francisco, da Vivão Project, e outra com a label de crochê Ateliê Mão de Mãe, ambas com previsão de lançamento até dezembro.
Yoface
Foto: Divulgação
Já pensou em ter seus óculos feitos inteiramente sob medida para você, de acordo com o tamanho exato do seu rosto, em um processo de impressão 3D que praticamente não gera resíduos? Graças a Ivan Cavilha e sua Yoface, o Brasil será um dos primeiros países a implementar esse processo em escala para consumidores finais. “Estamos no desenvolvimento dessa metodologia, que será feita online, por meio de fotografias”, explica o empresário sobre a novidade da neolabel.
Com experiência de quase 20 anos no setor óptico, Ivan passou por importantes marcas, como Chilli Beans e Absurda, mas não queria repetir tais modelos de negócio em sua própria empreitada. “Trata-se de um processo de produção bastante poluente, com muitos resíduos e sobras”, explica ele, que decidiu criar a própria marca após o falecimento do pai, em 2017. “Tinha acabado de sair da Chilli Beans após um período muito difícil. Decidi dar um tempo, fiz uma viagem para Nova York e lá encontrei referências incríveis que ajudaram a moldar a Yoface.” No Brasil, em janeiro de 2018, começou a arquitetar a grife. A primeira ideia envolvia coleções de roupas, mas, após algumas conversas com parceiros e muito brainstorming, descobriu a maneira ideal de incluir óculos no mix de produtos. “Quando fui apresentado a impressão 3D, entendi que era um processo completamente limpo, sem resíduos, que fazia todo o sentido”, lembra.
Além da veia sustentável e supertecnológica, a Yoface também tem um lado colaborativo, realizando parcerias com artistas, como Marcello Rouggi, e outros estilistas, como Rafael Nascimento, da Another Place. “Com Marcello nos inspiramos em suas obras para construir, à quatro mãos, os óculos que ele desejava.” Com design minimalista, pegada street e sem gênero, a label deve lançar seu serviço de customização óptica a partir de outubro e explorar pontos físicos em 2021. “Queremos propiciar uma experiência não só em produto, mas também apresentar a metodologia 3D, expor pequenas impressoras e trazer esse contato direto para o público”, finaliza.
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