Queda de cabelo na pandemia: quais as causas e como tratar
Estresse, resultado de mudanças de hábitos, consequência do Covid-19 ou impressão errada? Dermatologistas esclarecem tudo o que você precisa saber sobre como seu ciclo capilar pode ter sido afetado nesse período de quarentena
Muitos fios espalhados pelo chão, maior volume se soltando durante o banho, frizz mais intenso que nunca… Nesses tempos de pandemia, muita gente tem notado algumas mudanças no cabelo que parecem estar associadas a um maior volume de queda dos fios. Perceber essas alterações é o primeiro passo para ir atrás de solução.
No entanto, será que você realmente está com esse problema ou só tem passado mais tempo observando detalhes que o entra e sai acelerado de casa antes não lhe permitia dar atenção? As dermatologistas Paula Amorim, responsável pelo núcleo de tricologia da clínica Juliana Piquet, e Andrea Frange, da clínica Luciana Garbelini, especialista em Tricologia pelo Hospital do Servidor Público Municipal, respondem as principais dúvidas sobre o assunto.
Falsa sensação de queda de cabelo
De acordo com as especialistas, muitas das pessoas que procuraram os consultórios dermatológicos no início da pandemia se queixando de queda de cabelo tiveram, na verdade, uma impressão equivocada da situação. “Ficando mais em casa, mais enclausurados, alguns passaram mais tempo observando como funcionava o cabelo. Na hora de limpar, viam que havia mais fios espalhados pela casa e se incomodavam, aí veio à tona esse assunto”, explica Paula.
Ela aponta que já existem estudos que comprovam que essa percepção, na maioria dos casos, era. O que acontece é que, em vez dos 50 a 100 fios que perdemos naturalmente todos os dias cairem enquanto caminhamos na rua ou na empresa durante o trabalho, eles passaram a cair apenas em casa, concentrando maior volume. “Outra questão seria o intervalo maior entre as lavagens. Muita gente começou a fazer mais uso do shampoo seco e passou a lavar com menos frequência, aí, durante o banho, teve essa mesma sensação de mais cabelo solto”, complementa Andrea.
Queda de cabelo por estresse
No entanto, as mudanças de hábito e o estresse provocados pela pandemia podem ter, sim, afetado a saúde capilar de parte da população, causando uma condição conhecida como eflúvio telógeno agudo. Mas, nesses casos, a queda de cabelo só deve ter sido notada cerca de três meses após o organismo ser afetado. “Os fios têm um ciclo bem certinho. Para cair, primeiro ocorre um gatilho, depois eles ainda precisam de um tempo para sair da fase anágena (de crescimento) e entrar na telógena (de queda). Isso dura, em média, de 2 a 4 meses”, explica Paula.
A fase anágena costuma durar de 3 a 6 anos, mas o eflúvio telógeno agudo encurta esse tempo, acelerando a chegada da fase de queda. Segundo as especialistas, foram diversas as mudanças no estilo de vida em geral, desde o começo da quarentena, que podem ter provocado esse quadro. “Pode ser por conta de estresse, de alterações no padrão de sono – alguns dormindo menos, outros indo dormir supertarde para acordar mais tarde ainda –, de mudanças na alimentação, por parar de fazer exercício físico…”, exemplifica.
A boa notícia é que ninguém precisa se desesperar por isso, já que costuma ser uma situação provisória. “O organismo consegue se recuperar sozinho porque tem um tempo de preparo até o cabelo cair. Para todo fio que cai, um fio novo já está nascendo embaixo. Ninguém fica careca por causa do eflúvio telógeno agudo. Ele não provoca calvície, mas uma troca capilar mais acelerada. Isso é muito importante de enfatizar porque é um medo que as pessoas costumam ter”, pontua Andrea.
Covid-19 causa queda de cabelo?
Outro gatilho para o eflúvio telógeno agudo é o próprio Covid-19. Paula conta que já existem trabalhos que associam a infecção em si a uma queda de cabelo mais intensa, principalmente em pacientes que tiveram febre. “Esse processo inflamatório que gera o aumento da temperatura corporal libera várias células inflamatórias que favorecem a saída da fase anágena para a telógena”, explica.
“Às vezes, é difícil descobrir o que provocou o gatilho, mas no caso dos pacientes de Covid-19 fica mais claro”, diz Andrea. Segundo a dermatologista, pessoas que sofrem outras infecções, internações ou até mesmo influenza também costumam notar o aceleramento de queda dos fios nos meses seguintes. O uso de antibióticos e medicações fortes também podem causar o eflúvio telógeno agudo, assim como outras doenças, perda de peso e cirurgias. “A gente fala em estresse e logo pensa no psicológico, mas ele também pode ser físico – e qualquer alteração na sua normalidade é considerada um estresse orgânico e pode acelerar a troca de cabelo”, ressalta.
Como lidar com o frizz
As especialistas reforçam que quem nunca teve queda de cabelo realmente não precisa se preocupar, pois ela costuma ser autolimitada e, na maioria dos casos, os fios voltam a crescer sozinhos. “Se a pessoa não tiver nenhum problema orgânico, alterações tireóide ou deficiências nutricionais, o próprio organismo vai recuperar esse pelo. Aí vem aquela fase em que os fios ficam mais arrepiadinhos próximo ao couro cabeludo. Muita gente fica incomodada, mas é só a repilação dessa queda aguda que aconteceu”, explica Andrea.
E é nessa fase que uma galera se encontra atualmente. “O cabelo com frizz está a mil. Meus pacientes até falam ‘nossa, estou com uma franja que antes não tinha’ ou ‘meu cabelo está com mullet’. É uma queixa bem comum”, conta Paula. No entanto, por mais que os fios curtos arrepiados incomodem, a recomendação é para que todos tenham paciência que uma hora eles ficam maiores e param de chamar tanta atenção. “É sempre importante entender que aquilo é o cabelo novo. Ele é mais fino, ainda está frágil… Então, nesse momento, é muito importante minimizar ao máximo a exposição à química para que ele cresça com saúde”, destaca a dermatologista.
Andrea desestimula a aplicação de escovas progressivas e de outros tratamentos agressivos com o intuito de “domar” esse cabelinho porque ele tende a se quebrar com muita facilidade, o que pode prolongar o problema. “Uma dica que parece boba, mas ajuda muito, é pegar um pente fino, aplicar um spray de fixação suave nele e massagear esses fiozinhos novos que estão crescendo mais na região da franja para alinhá-los com o resto do cabelo”, conta. Assim, você consegue dar uma disfarçada no arrepiado e se incomoda menos.
Por outro lado, ela reprova o uso das mãos para tentar abaixar esse pelo, devido a oleosidade presente nelas. “A gente vai passando os dedos no couro cabeludo e, consequentemente, piora a oleosidade, aumenta a frequência de lavagem e o uso de detergentes e, por fim, acaba ressecando mais os fios. É um ciclo vicioso que vai piorando o frizz e a estática do pelo”, explica Andrea.
Quem não abre mão do secador também deve tomar alguns cuidados. Paula orienta que ele seja sempre usado em uma temperatura amena e mais longe do couro cabeludo, cerca de 15 centímetros, para não danificar os pelinhos novos. Outra dica é investir em um leave-in para envelopar o fio e deixá-lo mais assentadinho. “Tem bastante produto com ação antifrizz, mas o resultado varia muito de cabelo para cabelo. É tentativa e erro. O importante é ir experimentando até entender o que funciona para você”, recomenda.
Tratamento para queda de cabelo
Mesmo sendo um problema que costuma se resolver sozinho, é sempre importante procurar um dermatologista assim que se percebe um aumento no fluxo de cabelos caindo – tanto para se certificar que se trata realmente de um quadro de eflúvio telógeno agudo, quanto para evitar que esse ciclo capilar acelerado se repita. “O problema é que muitas pessoas ficam ansiosas durante esse processo, achando que vão ficar carecas, e isso só piora a queda”, destaca Andrea.
A especialista pontua que só de explicar aos pacientes que o ciclo de crescimento vai voltar ao normal já costuma fazer diferença, pois isso os tranquiliza evitando novos gatilhos. “Em alguns casos, a gente introduz medicações, vitaminas e produtos tópicos para o couro cabeludo na tentativa de encurtar esse processo e estimular o crescimento do cabelo novo. Mas isso é muito controverso porque não se aplica a todo mundo”, explica. No entanto, se os fios seguem em queda acelerada por mais de seis meses, é preciso ligar o alerta, pois essa condição pode estar se tornando crônica.
Além de oferecer orientações adequadas para lhe tranquilizar, só o dermatologista poderá dar o diagnóstico correto do que está acontecendo. “Não dá para ver o cabelo caindo e falar ‘ah, é o estresse’. Muitas vezes, acabamos identificando problemas na tireoide e até alopecia androgenética, que é um padrão de afinamento dos fios que costumamos notar nesse momento de queda. Você procura o médico porque o cabelo está caindo e descobre outras coisas”, alerta Paula.
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