
Se você sempre se sente correndo contra o tempo, com a adrenalina lá em cima, como se tivesse que escapar de um leão por dia, saiba: você não está sozinho. Somos campeões em ansiedade no mundo. Sim, o Brasil tá em primeiro lugar, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), e, infelizmente, batendo recorde atrás de recorde – no ano passado, o país registrou mais de 470 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais, o maior número desde 2014. Pudera. Soma-se a policrise mundial com características específicas daqui, como desigualdade social, com dinheiro quase sempre curto, violência generalizada e vida online chegando a mais de nove horas por dia (e dá-lhe comparação com o vizinho). E parece mesmo difícil manter a serenidade. Mas uma das coisas que tenho aprendido, com a vida e com a poesia, é que abraçar todas as emoções, boas e ruins, a fim de conseguir elaborá-las, ajuda as tempestades a passar (sem minimizar sofrimento, afinal, em se tratando de saúde mental é preciso toda ajuda especializada).
Não à toa nesta View, trazemos duas personagens de capa que têm lutado contra os próprios demônios, abraçado as sombras, e servido de exemplo para quem estiver disposto a olhar sem prejulgamentos esquisitos. Internada duas vezes e com a vida pessoal escrutinada, Lina Pereira, mais conhecida como Linn da Quebrada, divide com a repórter Rafaela Fleur os desafios que batem à porta quando nos deparamos com quadros depressivos. “Eu sempre achei que dava conta sozinha, que era autossuficiente. Trabalhava, cantava, entregava, mas em casa não conseguia nem lavar roupa nem cozinhar. Acolher ajuda foi fundamental. Aceitar a terapia, a psiquiatria, entender que às vezes o corpo precisa de ajuda química também.” Caminho parecido com o trilhado por Ellen Milgrau. “Pra mim, é paciência e resiliência. Um dia de cada vez. É clichê dizer ‘vai passar’? Sim, mas passa. A questão é o que você faz enquanto não passa. Rede de apoio, exercício, sol, ajuda especializada. Isso é essencial”, afirma à jornalista Juliana Franco.

Arte também ajuda, nem que seja pra salvar um instante. Motivo pelo qual convidamos a artista plástica Nathalie Edenburg, criadora do projeto How Do I Fell Today, para fazer uma interferência nas capas que você confere este mês. “ Como disse Louise Bourgeois, ‘a arte é garantia de sanidade’”, diz.
De olho em outras telas, as digitais, também trazemos aqui um guia prático para não mergulhar no caos das redes sociais, com depoimentos de profissionais e experts, para ajudar você a navegar nesse mar de pixels com mais tranquilidade, na medida do possível. Conselho número um? Saiba que elas são apenas um dos aspectos da vida atual, e não sua vida inteira, mesmo que você trabalhe com isso.
E, sim, o trabalho, muitas vezes, pode nos adoecer (é preciso estar atento!), mesmo quando ele parece aquele dos sonhos. Em Burnout-core em evidência, o repórter Eduardo Viveiros relembra casos célebres da moda, em que o combo trabalho em excesso + cobrança massiva deu ruim, péssimo, em alguns casos. Relembre para não compactuar com isso.
Mas, se não faltam razões em 2025 para nos “enlouquecer”, boas soluções podem estar mais perto do que se imagina. É com grande otimismo que recomendo o texto de Vivian Whiteman sobre a perseguição da alegria, a matéria de Gustavo Balducci sobre livros que curam (bem diferente de autoajuda, que fique claro), e a de Daniela de Jesus sobre hobbies coletivos. Bônus: um passo a passo para deixar sua casa mais quentinha, mais acolhedora.

Por fim, assim como a arte, acredito que bom humor de qualidade ajuda. Então, quando tudo parecer muito complicado (e uma hora vai, chega pra todo mundo), lembre-se do texto de Roberta D’Albuquerque, Parece que foi o eclipse, e tenha certeza de que não está fácil pra ninguém, nem para os terapeutas! É dando as mãos e levantando as bochechas em boas risadas que sairemos mais inteiros dessa montanha-russa chamada vida.
Um beijo e até a próxima edição,
Renata Piza