Diário de muitas paixões

À frente do projeto How do I feel today, Nathalie Edenburg eterniza as emoções que a atravessam todos os dias, sejam as despertadas por uma música ou por um choro de bebê.

Palhaça, cangaceira, mística. Triste blue. Bonita de laço na cabeça, dividida, fragmentada, rainha, encantada, invisível, florescendo, aterrando feito árvore com raiz, interrompida. Numa saia justíssima, corset, numa noite de lua cheia com gatinhos. Olhar para o início do projeto How Do I Feel Today, em 2015, é tentar decifrar por imagens o que estava se passando na cabeça, no corpo e na alma da então modelo Nathalie Edenburg. “Eu comecei a viajar sozinha, a trabalho, muito cedo e encontrei na arte uma forma de me conectar comigo, de preencher um vazio. Uma companheira mesmo”, relembra ela, que começou a rodar o mundo e rascunhar em caderninhos aos 14 anos.

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Nathalie Edenburg em 2015. Foto: Vinicius Longato

Hoje, aos 33 e mãe de duas crianças pequenas, uma recém-nascida, Nathalie retoma o diário visual que começou despretensiosamente e acabou se transformando em missão de vida. “Quando comecei, lá em 2015, ao lado do fotógrafo Rogério Mesquita, eu não tinha nenhuma pretensão de ser artista. Mas descobri a arte como uma ferramenta de autoconhecimento, de autoexpressão. Como disse a Louise Bourgeois, ‘a arte é uma garantia de sanidade’.” 

Desde então, ela já fez uma exposição em São Paulo, no São Paulo Fashion Week, vendeu as obras do ano 1 e, com parte do dinheiro arrecadado, ministrou cerca de 20 oficinas beneficentes para crianças desenvolverem tanto a relação com a arte quanto com os próprios sentimentos. “Acredito que o projeto tem um poder muito benéfico para a saúde. Durante as oficinas, as crianças e os adolescentes respondem à pergunta ‘como me sinto hoje’, num exercício de autoquestionamento, e pintam em cima dos próprios retratos”, explica. “Nós somos artistas, nascemos artistas, só que vamos bloqueando isso ao longo da vida.” 

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Em plena gravidez e depois no puerpério do seu segundo filho, Nathalie tem retratado seu dia a dia, uma década depois, agora ao lado da artista mexicana Izaskun Fernandez. “Encontrei um sócio para o projeto, o Dionísio Garcia, que é mexicano, e trouxemos a Izaskun. A ideia é fazer uma expo agora também fora do Brasil”, antecipa. “Assim como eu, ela tem se autorretratado todos os dias.” 

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E como a Nathalie de agora vem se sentindo?

Abraçada por um cisne, chorando mel, com uma tecla de escape na cara, submersa, com plástico bolha prontinha pra mudança…“Eu comecei aos 22, 23 anos, morava em Nova York, era solteira, vivia como modelo. Hoje, sou uma mulher casada com dois filhos, que retrata, inclusive, o parto. Pintei entre as contrações. (risos) É uma fase muito feliz, mas também muito caótica, né? As emoções são muito intensas, tem a questão da privação do sono, esse cansaço. Mas acho que é uma Nath muito mais madura, inclusive, tecnicamente. São dez anos de prática, afinal.”