Esta é a edição número um da ELLE View, nossa primeira revista digital. E se você chegou até aqui é porque acaba de embarcar com a gente nessa nova jornada. A última vez que nos comunicamos pela carta da diretora foi em agosto de 2018, quando a última ELLE impressa foi publicada no Brasil. O tema, ironicamente, era sustentabilidade e a edição havia sido toda fotografada na Amazônia. Na época, não fazíamos ideia do que estava por vir. De lá para cá, foi como se tivéssemos entrado em uma cápsula do tempo – não à toa, tema escolhido para uma de nossas capas. E aqui estamos, em 2020, de volta para o futuro.
2020 – um ano para não esquecer. O primeiro ano do resto de nossas vidas. O ano em que temos morrido e nascido de novo a cada dia, a cada notícia. De repente foi como se nossa vida tivesse sido encapsulada; nosso tempo suspenso; nossos sonhos, congelados. Em nossas casas-casulo, nos reconectamos com o passado, com as pessoas, redescobrimos memórias, reviramos fotos antigas, procuramos poesia nos livros e nas pequenas coisas, voltamos a praticar algo que já nem lembrávamos que sabíamos.
Enquanto experimentamos esse novo presente, nunca projetamos tanto um futuro, nunca desejamos tanto um mundo melhor, nunca esperamos tanto rever nossos amigos e retomar nossos hábitos externos. Entre o tempo e nossos sentimentos, duas palavras: contato-contágio, como diz a obra do artista Jan. M.O., que inspirou o tema desta edição.
Nas matérias a seguir, você vai encontrar análises que tentam explicar essa nossa obsessão pelo contato, seja indo ao espaço ou mergulhando nas profundezas do oceano (“Contatos imediatos”), seja também olhando no espelho (“Por que beleza ainda importa tanto?”) ou simplesmente colocando a cara no sol. Em “A pele do futuro”, vai entender que não é de hoje que a moda interpreta o amanhã, mas que agora é preciso ir além das questões estéticas e definir práticas de sobrevivência para essa indústria sem excluir as pessoas. Em “Me leva”, o repórter Gabriel Monteiro nos guia por um tour pela cultura pop brasileira e sua relação com extraterrestres e afins.
Por fim, “Já tô com a roupa de ir” é um convite para embarcar com seu melhor look no primeiro disco voador que surgir, porque como diz Elis Regina “alô, alô, Marciano…a crise tá virando zona, cada um por si, todo mundo na lona”…
E se a realidade está pesada demais e a imaginação teima em não decolar, viaje na nossa capa interativa. Uma cápsula do tempo criada pela repórter Isis Vergílio e pelo diretor de criação Luciano Schmitz, que convidaram artistas de diversas áreas a pensarem uma mensagem que gostariam de mandar para o futuro. O resultado é um belo compilado de 24 cartas em áudios, vídeos e imagens gravadas por nomes como Elza Soares, Criolo, Linn da Quebrada, Johnny Massaro, Karol Conka e também por nossa editora de moda Suyane Ynaya. Um registro histórico de nosso tempo, que faz com que, apesar de tudo, “nossa vida se torne um poema translúcido”, como disse meu cunhado, Rogério Skylab, em um verso que encontrei guardado na minha própria caixa de memórias.
Um beijo e até já.
Susana Barbosa