Carta do editor

Ao vivo, do jardim da vida

“Florals for spring? Groundbreaking”, diz, ironizando, a personagem de Meryl Streep em O Diabo veste Prada (2006). A editora-chefe da fictícia revista tira sarro de um de seus funcionários quando, durante uma reunião de pauta para a edição seguinte, ele sugere florais para a primavera. De fato, concordo com ela: nada mais óbvio do que isso. No entanto, se ela conhecesse Nathalie Edenburg, Miranda Priestly talvez pensasse diferente.

Isso porque a modelo, joalheira e artista plástica se apropria desses elementos da natureza em seu trabalho recontextualizando-os, criando sentidos cada vez mais complexificados a partir deles. Duas pequenas flores, em suas mãos, viram fones de ouvido sem fio. Dois lírios-de-calla se transformam em um par de binóculos. Um crisântemo pode explodir de sua boca a qualquer momento. Sua língua pode se metamorfosear na pétala de uma orquídea. Misturando corpo, planta e tecnologia, Nathalie fala sobre um tipo de reconexão que é a antítese das movimentações agitadas da hipermodernidade, comandada pela ideologia do Vale do Silício. E é por isso que é ela a estrela e cocriadora da capa desta edição da ELLE View, que, já como tradição, se dedica 100% à beleza.

Com a ajuda da maquiagem do beauty artist Daniel Hernandez e a cada clique do também veterano Paulo Vainer, Nathalie se amalgamava com diferentes espécies de flores. O resultado são imagens de impacto, que tocam naquele raro espaço comum entre a beleza e a arte. Acredito que algo bastante similar acontece no outro editorial desta edição. Fotografado pelas irmãs Takeuchi e com a beleza assinada por Branca Moura, um paradoxo poético se desenha: enquanto as fotos da capa falam de fincar os pés no solo terrestre, essas defendem o argumento do sonho, da viagem até a Lua, do caminho entre as estrelas. Em uma interpretação livre e corajosa da maxitendência dos cristais na maquiagem (um hit nas passarelas internacionais das últimas temporadas), embarcamos para um planeta em que o brilho é a palavra de ordem.

Ainda sobre a ponte entre a beleza e a arte, a reportagem de Natália Guadagnucci explica como o mercado de cosméticos tem se aproximado dos espaços museológicos, das galerias e dos coletivos de artistas independentes. Depois de tanto tempo se apoiando em celebridades para vender mais produtos, as marcas ensaiam uma nova e mais refinada associação para dar um boost em seu capital cultural. Aliás, falando em estratégias de marketing pioneiras, diretamente de Paris, conversei com ninguém menos que Anastasia Soare, fundadora da Anastasia Beverly Hills, uma das primeiras empresas de maquiagem a investir de verdade nas redes sociais, e que, ao comemorar 25 anos de história, colhe os numerosos frutos dessa iniciativa.

Outra notável entrevistada é a atriz Jenna Ortega, a estadunidense que protagoniza a série Wandinha (2022), da Netflix. Por aqui, ela revela todos os seus segredos de beauté. Aliás, entre as nossas páginas digitais você também descobre os produtos favoritos dos editores de beleza de ELLE ao redor do globo – o resultado do ELLE International Beauty Awards deste ano já está on! 

Como se não bastasse, finalmente estamos publicando o projeto “O caminho para o autoamor” feito em parceria com o designer britânico William Richardson. No final desta edição da ELLE View, você vai descobrir uma plataforma multimídia e interativa que está sendo desenvolvida, organizada, desenhada e programada há dois anos. Ali, fizemos uma curadoria muito especial com os conteúdos publicados na nova era da ELLE sobre autoestima, autoamor e autoconfiança. Um espaço digital em que você sempre vai encontrar uma nova ferramenta para te ajudar na sua própria jornada. Não deixe de conferir! Por fim, que em 2023, assim como a Nathalie na capa desta edição, a gente desabroche cada vez mais para o mundo.

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Foto: Paulo Vainer