Carta da editora

Às mulheres que movem o mundo.

Carta da Editora

Entre o cansaço típico de fim de ano, o apodrecimento cerebral (leia a matéria de Milene Chaves), proporcionado pela avalanche de notícias e feeds sem fim (e quase sempre sem nenhuma importância) e a vontade de fazer uma revista incrível, a última opção, felizmente, segue vitoriosa por aqui. E isso, claro, não é mérito meu, longe disso. Revista é coletivo. É trabalho de muitas mentes, mãos e, com sorte, corações apaixonados. Trabalho de equipes dedicadas a escutar, encantar, vender (sim, sem o time comercial nada disso seria realidade). E esta View, de dezembro/janeiro, está repleta de gente que resolveu fazer diferente nos seus campos de trabalho e, a despeito das dificuldades, deu e dá o melhor de si, porque de fato gosta do que faz.

Começando pelas capas, é impossível não pensar em desafios. Como elencar dez mulheres (apenas) que transformaram suas vidas e têm ajudado a transformar o mundo via o que fazem? Mais: como juntá-las, conciliar agendas, programar viagens necessárias e contar com os imprevistos? (A lei de Murph nunca falha.). O momento de escolha de capa, em uma revista, normalmente já é o que mais desperta emoções, divide opiniões e dá aquele frio na barriga (pelo menos, na minha) até que tudo tenha sido clicado. Multiplique então por dez, neste caso.

Foram algumas reuniões e muitas trocas com o time eclético da ELLE Brasil para chegar aos nomes, cujas histórias você lê aqui: Elayne Baeta, a escritora que me foi apresentada por Lelê Santhana e depois me fez chorar na Flip ao ouvir seu discurso numa premiação, Thai de Melo, que eu achava que já conhecia, mas não fazia ideia, Isa Silva, a estilista que abriu caminhos e levou axé para as passarelas, Maira Gomez, a indígena que caiu no radar de Gustavo Balducci, nosso editor de arte e antena pop, Samanta Alves, que veio de Madureira para a redação de ELLE via Giuliana Mesquita, Bianca Andrade e Camila Coutinho, dois exemplos unânimes de mulheres que abriram as portas e os portais da internet, Rosa Saito, a modelo que nossa diretora editorial, Susana Barbosa, fez questão de ver na lista, Bia Souza, medalhista olímpica de ouro, que emocionou o Brasil, e Gaby Amarantos, cantora e embaixadora informal da cultura amazônica.

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Referências enviadas a mim por Elayne Baeta, que, além de escritora, ilustra e ensina a gente sobre tanta coisa.

Mulheres de diferentes regiões do país, diferentes idades e backgrounds, mas com uma coisa em comum: mulheres que perseguiram e insistiram nos seus sonhos, agarram oportunidades e mostraram que é possível desafiar o status quo. É possível vender literatura sáfica. É possível desfilar aos 73. E, sim, é possível subir num palco sozinha sem nunca ter estudado teatro.

Fotografadas em dois dias, quase 30 horas de estúdio, em um trabalho realizado por uma equipe incrível – Hudson Rennan, nas fotos, Marcio Banfi, no styling, Angélica Moraes, na beleza, Camila Guerreiro, nos vídeos –, cada uma delas me ensinou mais um pouquinho sobre a potência feminina, a fragilidade das primeiras aparências e a felicidade que é viver num mundo (com muitos problemas ainda, eu sei) em que é possível ver na capa de uma revista de moda mulheres trans, pretas, lésbicas, indígenas. Quando comecei a trabalhar na área, em 2006, isso nem era debatido. E não é que a imprensa ficou mais consciente da noite pro dia. É que elas abriram o caminho e nossa única opção foi correr atrás. Ainda bem.

Nesta edição especial (pra mim, a mais aguardada, sempre), além de trazermos os perfis dessas potências, fazemos o tradicional balanço de dezembro, com retrospectivas na moda e na cultura, e contamos também quais são as palavras que melhor definiram o ano, segundo publicações especializadas – o brain rot do começo deste texto tá lá, sem dúvida nenhuma.

Pra terminar, arriscamos previsões, tarefa muitas vezes ingrata numa era tão volátil e incerta quanto a nossa. Mas uma coisa aprendi nesses anos de imprensa: a curiosidade não mata o gato, ela desperta instintos jornalísticos! E curiosidade e vontade de aprender e de compartilhar é o que não falta na ELLE. Apostas lançadas (e muito bem apuradas, é claro).

Muito obrigada pela sua companhia nesses últimos meses e instantes de 2024. Que sigamos juntos, atentos e fortes em 2025.

Um beijo,
Renata