Caos no Afeganistão
A situação das mulheres, a covardia dos EUA e o oportunismo ocidental.
O Afeganistão passa por uma crise profunda, que se torna ainda pior com a retirada irresponsável das tropas dos EUA de seu território, saída essa que deixou o país nas mãos das milícias Talibã. O mundo foi obrigado a sair, mesmo que brevemente, do transe e a enxergar certas verdades, fazer certas perguntas sobre a atuação de países ricos, tidos como democráticos, e suas ações tirânicas, pautadas pelo interesse econômico acima de tudo, esteja ele ou não irmanado com seus grandes parceiros usuais: guerras e religiões.
Um bom ponto de partida para pensar essa situação é o escândalo dos termos aceitos pelo governo estadunidense nesse pacto. Embora defenda o território e os negócios dos EUA e aceite libertar mais de 10 mil talibãs que estavam presos, o acordo não inclui uma única garantia de direitos civis para as mulheres e crianças afegãs, sobretudo as meninas.
Para entender como suas vidas foram rifadas depois de 20 anos de ocupação estadunidense no Afeganistão, para entender o que está em jogo em termos de responsabilidade, temos de voltar um pouco na História. O que segue é apenas um primeiro passo introdutório, uma pesquisa inicial que, no entanto, revela pontos importantes para a discussão.
É importante fugir das armadilhas ideológicas de reduzir tudo a questões culturais e de identidade. Como diz Jodi Dean, professora de teoria política, feminista e de mídia em Nova York, em seu livro Camarada: “As próprias identidades são locais cindidos, terrenos em disputa na luta de classes”. Ela completa escrevendo que o fato de alguém se identificar como mulher, por exemplo, não diz nada sobre sua política. Ou seja, é necessário que a isso sejam acrescentadas questões de classe, questões econômicas etc. E será que não podemos estender isso pensando que aqueles que se dizem defensores das mulheres precisam ser muito mais específicos? O mesmo questionamento não valeria para a ideia de democracia?
Como um suposto defensor da democracia como Joe Biden, que tem uma mulher negra como vice, que manja de pronomes, pode se juntar às atitudes de mercenários racistas como George W. Bush e Donald Trump? Por que ele e o governo americano podem entregar um país a milicianos violentos e ainda serem chamados de democráticos?
Hoje mesmo, Biden disse que os EUA ajudarão os afegãos aliados. O que isso quer dizer, se até mesmo informantes do governo foram deixados para trás? Segundo ele, 28 mil pessoas foram tiradas do país. Mas o Afeganistão tem cerca de 38 milhões de habitantes! Para mais contas que não fecham, segue abaixo:
1. Um brevíssimo histórico
Vamos voltar no tempo, sem o que o atual estado de crise humanitária não se explica. O Afeganistão é um país colocado em uma região estratégica, o que está na base de seu milenar histórico de invasões. São muitas, mesmo considerando somente as ocorridas a partir do século 19.
O Afeganistão tem uma longa tradição feudal, longa e ainda não superada. Ainda hoje, algo próximo a 76% de sua população vive em áreas rurais e lida com o legado de suas lideranças constituídas, de suas disputas internas. Fala-se muito da capital, Cabul, mas os embates de poder se dão muito além dela.
Em 1978, o Partido Democrático do Povo do Afeganistão tomou o poder e derrubou o governo de Mohammed Daoud Khan, que havia se constituído após a queda da monarquia. Embora uma ala dos historiadores locais considere o que ocorreu um golpe, um golpe dado pelos comunistas afegãos, outra ala o considera uma revolução. O episódio é chamado de Revolução de Saur.
O novo governo chegou propondo grandes mudanças. Uma reforma agrária radical em um país feudal. Um Estado laico em um país de muitas lideranças religiosas. Direitos civis que incluíam as mulheres. Um programa de saúde mental avançado. Uma agenda de modernização política.
O novo governo declarava redistribuição de terras, direitos amplos às mulheres, o que incluía acesso aos estudos em escolas públicas, cargos públicos e trabalhos em geral, fim dos casamentos forçados e dos sistemas de trocas comerciais que tinha as filhas mulheres como moeda. Para muitos, isso significava a chegada do mal, da corrupção e da destruição de valores.
Embora setores progressistas e grupos das maiores cidades tenham recebido a novidade com entusiasmo, o impacto foi uma bomba nos setores mais conservadores semifeudais, com influência em grande parte da população. A tensão com lideranças tradicionais, a perseguição de apoiadores do antigo governo e uma crescente desconfiança complicou a situação. Não sem a “ajuda” dos EUA, do Paquistão e da Arábia Saudita.
Em 1979, depois de ter evitado se envolver no conflito, mas em acordo e a pedido dos revolucionários locais, a União Soviética entrou no Afeganistão iniciando um período de ocupação que duraria dez anos.
Analistas de guerra e historiadores analisam que os EUA incentivaram o caos no país de forma indireta, ou seja, sem se engajar oficialmente no conflito. Isso mesmo antes de a URSS decidir entrar no país.
Para tanto, o governo estadunidense ofereceu suporte técnico e econômico aos mujahidins. Os mujahidins não eram um grupo unificado, mas conjuntos de guerrilheiros armados que propagavam a defesa do Islã e suas tradições contra o programa do PDPA e dos soviéticos , mas que em geral agiam também para proteger terras e interesses econômicos. O presidente Jimmy Carter e a então secreta Operação Ciclone trataram de armar e treinar milhares de mujahidins. O decreto presidencial assinado por Carter data de seis meses antes da entrada dos soviéticos em território afegão e autoriza a CIA a mexer seus pauzinhos, liberando milhões de dólares por ano para financiar a “guerrilha anticomunista”.
Esses grupos não tinham um padrão de ação definido, e foram se constituindo com mais organização durante esse período. Depois a URSS se retirou do Afeganistão, sem conseguir vencer as guerrilhas, líderes ligados às antigas elites rurais tomaram o poder, até serem derrotados pelos milicianos.
Graças à intervenção estadunidense, os grupos chegaram a um certo grau de centralização. Nascia, por volta de 1994, construído em grande parte com recursos ocidentais, o que ficou conhecido como Talibã. O grupo reunia em torno de si fazendeiros, jovens e lideranças pautadas por leituras religiosas muito próprias. Historiadores falam de mulás que mal podiam ler os textos sagrados, por falta de alfabetização, e que propagavam as regras à sua moda. Vale lembrar que as taxas de analfabetismo no Afeganistão são altíssimas – no início dos anos 80, menos de 20% da população era alfabetizada. Ainda hoje, a taxa não passa de 40%.
A primeira “gestão” Talibã foi um protótipo de governo miliciano extremista. A interpretação dos textos sagrados usada nesse período é contestada por todas as autoridades islâmicas respeitadas na comunidade internacional. A realidade era um mata-mata, um caos de assassinatos, violência doméstica, ignorância e miséria, um inferno instituído com imposições absurdas sobretudo às mulheres e meninas.
2. Mas e a burca, hein?
O que nos leva a isso que tira o sono de um certo feminismo que de feminismo não tem nada. Para acabar logo com uma polêmica inexistente. O véu, em suas muitas versões e nomes, não tem nada a ver com o que está ocorrendo. Nem mesmo a burca é causa de nada aqui. A questão é a inexistência de escolha, a imposição e os prejuízos da desobediência, literalmente uma questão de vida e morte. A burca aqui é uma ferramenta, consequência, mas não causou nada.
Durante o reinado do terror Talibã, o sonho de muitas mulheres pobres era ter uma burca. A peça é cara e mais da metade do Afeganistão vive abaixo da linha da miséria. Tem sido assim, e ainda é. Muitas mulheres venderam suas burcas para comprar comida durante o governo Talibã, o que dá uma pista do grau de desumanização e miséria do que se trata.
E por que elas queriam a burca? Porque era proibido sair sem ela na rua. Mesmo acompanhada de um homem da família. Mesmo para ir ao hospital. Imagine que você passa mal em casa. Não tem burca. Se você sair, não será atendida, provavelmente nem chegue ao posto sem ser detida. Se for vista, sofrerá punições. E seus familiares também serão punidos. Então, o que as mulheres pobres faziam? Morriam em casa. Morriam antes do tempo de doenças curáveis. Morriam nos partos em taxas alarmantes. A taxa de mortalidade infantil estava entre as mais altas do mundo. Porque as crianças também não tinham cuidado médico. Morriam de desnutrição, de diarreia. Isso era ser mulher no Afeganistão. Embora tenha havido avanços nos últimos 20 anos, os índices ainda são terríveis (ver item 3).
A burca não é questão cultural somente. Mesmo nas leituras mais estritas não houve jamais um consenso entre os muçulmanos sobre a imposição dela. Há mulheres que escolhem usá-la? Sim. Assim como muitas fazem questão do véu. O Ocidente ama essa discussão, ama parecer moderno falando disso, ama discursos vazios. O que importa aí é a palavra escolha. Não existe escolha na imposição.
Há ainda uma certa perversidade de discurso que trata mulheres afegãs como menos humanas. Como se elas no fundo concordassem em morrer porque não têm uma burca para ir ao médico. Como se elas concordassem com a imposição social de tortura. Como se elas fossem sempre atrasadas, como se não tivessem centenas de vezes se unido e protestado contra essa e muitas outras imposições. Como se não tivessem inclusive conquistado vitórias e mudanças de legislação. Elas estão protestando de novo, nunca pararam, aproveitaram toda e qualquer brecha para criar força e voz.
Mesmo em círculos ditos “esclarecidos” corre o discurso velado de “os islâmicos que se virem”. As mulheres afegãs precisam sim de apoio e pressão internacional. Precisam que outra guerra seja evitada, que outras lideranças sejam fortalecidas.
Aqui inclusive não custa lembrar que muito do que se atribui à tradição no caso do Afeganistão é na verdade invenção mujahedin, invenção das milícias Talibã. Não é questão de romantizar o islamismo nem qualquer outra religião. Mas é como ler o cristianismo a partir de Edir Macedo, aquele que diz que a mulher não pode ser mais estudada que o marido, que não deve estudar demais, porque isso ofende a Deus, entre outros terrores. Essa questão não pode ser ignorada.
3. Ocupação e retirada, os termos da covardia
Em 2001, os EUA iniciaram uma investida contra o “terrorismo islâmico”. Os antigos aliados talibãs tinham se convertido em inimigos. Aqui as explicações demandam mais pesquisa, com os grandes veículos de mídia e especialistas falando em traições e conflito de interesses. Nessa equação pesa o fim do escoamento de dinheiro da Operação Ciclone com o início dos anos 90. Um dos entusiastas e colaboradores do esquema era um milionário líder da Al Qaeda chamado Osama Bin Laden. Em jornais ocidentais da época, Bin Laden era chamado de herói.
Aí veio o 11 de Setembro de 2001. Com o objetivo declarado de acabar com o Talibã, que estaria envolvido nos atentados, os EUA invadiram o Afeganistão. A ideia era prender Bin Laden, o ex-aliado agora pintado como a maior mente criminosa de todo o planeta.
Bin Laden jamais foi encontrado por lá (acabou morto em 2011, no Paquistão), a invasão persistiu e chegou-se a declarar o fim do Talibã. O que de fato não ocorreu. Mesmo enfraquecido e submetido ao novo governo-marionete controlado pelos EUA, o Talibã manteve sua atuação em áreas mais afastadas das maiores cidades, lembrando que estamos falando de um país majoritariamente rural.
Curiosamente, um trabalho que o Talibã sempre permitiu às mulheres foi no plantio e na colheita do ópio. Sob dominação dos EUA, a produção de ópio bateu recorde em 2017, e quadruplicou ao longo desses 20 anos de ocupação. O que foi acompanhado por uma explosão no tráfico de drogas.
Em 20 anos, os EUA declararam um gasto de cerca de 2 trilhões de dólares no Afeganistão. Vejam bem, dois trilhões. Um ser humano não tem noção do que significa esse dinheiro.
Depois de 20 anos, alguns indicativos melhoraram. Mas todos eles seguem entre os piores do mundo. Expectativa de vida abaixo da média mundial. Cerca de 60% da população ainda é analfabeta, sobretudo as mulheres. Alta taxa de mortalidade no parto e de mortalidade infantil, mesmo considerando uma melhora considerável desses dois indicativos. Evasão escolar que teve anos de diminuição para piorar nos últimos anos. Aumento crescente da prostituição forçada.
Dois trilhões de dólares. Pouquíssimas obras de infra-estrutura. Zero interesse em viabilizar bases sólidas para que os afegãos pudessem assumir seu país.
Dois trilhões de dólares. Usos principais: armas, pessoal, pagamento de empréstimos feitos para a guerra, pagamentos da manutenção da ocupação e pagamentos para veteranos. E guerra às drogas (!!!! releiam o parágrafo acima sobre ópio, usado entre outras coisas para fazer heroína).
Vale lembrar que entre os militares estadunidenses, houve mais mortes por suicídio do que em combate durante o período. Considerando Afeganistão e Iraque, a “Guerra ao Terror” teve cerca de 7 mil mortos em combate contra 30 mil suicídios. Interessante citar nesse contexto que, quando o governo destinou dinheiro a programas de saúde mental no Afeganistão, os aportes foram baixíssimos, cerca de US$ 100 mil em um ano. E quase tudo destinado a manter hospitais psiquiátricos.
Dos dois trilhões, muito foi usado para criar um arsenal para o Exército afegão. Cerca de US$ 83 bilhões somente em armas. Grande parte disso ficou no Afeganistão. Incluindo artilharia pesada. Ocorre que nos últimos meses centros de controle inteiros passaram às mãos do Talibã, praticamente sem lutas. Cabul se entregou sem tiros. Fala-se de rendição do exército afegão e de sua incorporação ao Talibã, mesmo estando em número superior.
Em meio a circunstâncias que demandam intensa investigação e transparência, os EUA mais uma vez fortaleceram e armaram o Talibã, enquanto movimentavam sua economia com a indústria de armas, ONGs e mercenários.
O jornalista Robert Burns, um correspondente da Associated Press, escreveu sobre a logística da retirada dos EUA deixando para trás um arsenal para ser usado por uma milícia cruel e conhecida por sua violência. O texto, republicado por vários veículos (aqui traduzido da Time), tem o seguinte titulo: “Como os 83 bilhões gastos para equipar o exército afegão acabaram beneficiando o Talibã”.
Em um dos parágrafos ele escreve: “as forças de segurança do Afeganistão colapsaram tão rápida e completamente – em alguns casos sem um único tiro disparado – que o grande beneficiado do investimento estadunidense acabou sendo o Talibã. Eles ganharam não só poder político, mas também poder de fogo fornecido pelos EUA – armas, munição, helicópteros e mais”.
Especialistas apontam que o Talibã armado poderia ser uma espécie de ameaça deixada estrategicamente para complicar as relações com os inimigos econômicos dos EUA (a China, por exemplo, maior rival dos EUA no tabuleiro da economia).
Os civis, ao que parece, não contam. Protestos ocorreram nos EUA na semana passada, com cidadãos não apenas contestando os custos absurdos da guerra como o abandono da população. Depois de 20 anos, um afegão médio sobrevive com cerca de dois dólares por dia. Ao que parece, muitos estadunidenses pobres começam a enxergar semelhanças entre os povos desses países “distantes” e sua própria realidade. A fome hoje atinge 54 milhões de pessoas nos EUA. Pessoas que não podem ir ao médico por falta de dinheiro, que não têm onde morar. E que começam a contestar o uso de, por exemplo, 2 trilhões de dólares em uma invasão.
É hora de falar sobre dinheiro.
Existe um mercado que tem crescido muito com as guerras. O da segurança particular. Funciona assim. Um governo não quer mais empenhar suas tropas por razões políticas ou porque os custos com direitos e cuidados com o pessoal são altos. Então, é possível contratar uma tropa privada. Esses soldados, chamados na realidade de mercenários, são milhares em todos os lugares invadidos pelos EUA, prestam serviços para eles.
Os mercenários, “soldados da fortuna” ou, simplesmente, segurança privada trabalham também para empresas. São civis armados que fazem serviços de segurança dentro e fora de seus países. A G4s, por exemplo, é uma empresa que recruta essas tropas particulares. Ela já é um dos maiores empregadores privados do mundo, com 533 mil funcionários em 85 países.
Esse pessoal guarda bancos, prisões (inclusive as prisões particulares que também são uma mina de ouro nos EUA) e luta em guerras. Não exatamente em batalhas (embora isso não seja descartado), mas em missões de segurança, transporte, inteligência e proteção. No Afeganistão, os EUA gastaram cerca de 107 bilhões de dólares contratando mercenários desde 2002.
As condições da retirada desse pessoal, e os motivos de algumas empresas dizerem que manterão seus funcionários por lá, segue sem explicação detalhada. Nada é transparente nessa comunicação, e o tema é ainda pouco comentado, dada sua importância dentro de vários cenários.
No Afeganistão, por exemplo, há denúncias de envolvimento de empresas de segurança em corrupção, casos de violência contra civis, um novelo dos mais complicados. Além do mais, essas companhias, que são privadas, estariam menos submetidas à fiscalização de suas atividades.
4. E agora, mundo?
Biden termina com chave de morte o que George W. Bush iniciou, Obama e Trump ajudaram a alimentar. O acordo assinado com o Talibã rifa as vidas de milhões de afegãos e entrega mulheres e meninas à sua sorte. Nada foi exigido pelo governo de uma nação dita democrática para garantir direitos civis mínimos e preservar as conquistas arrancadas a duras penas.
Por outro lado, os EUA tiveram tempo de ceder aos Talibãs a libertação de mais de 10 mil homens da milícia que estavam presos. Famílias que contribuíram com informações para as tropas de ocupação foram deixadas para trás. Há relatos de que muitas já estão sob ameaça de morte. O caos nos aeroportos, a perseguição a jornalistas e mulheres ativistas, tudo já dá notícias das consequências da covardia brutal de Biden e seus antecessores.
Será possível um país fazer de outro aquilo que melhor lhe convier e sair como se nada fosse, sem nenhuma responsabilidade pelo inferno que ajudou a construir?
Países como a China estão sendo acusados de negociar com o Talibã. Mas depois que os EUA deixam o país nessas condições, com milicianos mais armados e poderosos do que antes, o que resta? Mais uma guerra, mais uma invasão?
Dizem que o dinheiro resolve tudo. Mais de 2 trilhões de dólares não foram suficientes para garantir nada ao Afeganistão. Agora, o mundo se questiona sobre o que fazer? O que o mundo fez no primeiro governo de terror do Talibã? O que passaram as mulheres e meninas de lá jamais esteve de fato em primeiro plano. O que foi feito da população pobre em geral, menos ainda. Uma análise menos hipócrita se faz necessária.
Pressões econômicas, solidariedade política e humanitária em vez de caridade, tudo o que possa ajudar os afegãos a preservar e desenvolver seus direitos, escolher seus rumos como país, deve ser feito. A discussão dos terrores do neocolonialismo não pode ser oportunista nem submetida a interesses do grande capital.
Para o feminismo, a lição que tantas intelectuais e militantes deixaram, e que as mulheres afegãs relembram, é cada vez mais urgente. A emancipação, a liberdade e a igualdade de direitos das mulheres, o direito sobre seus corpos e desejos estão hoje brutal e inaceitavelmente submetidos a interesses econômicos. Ou o feminismo entra para valer na luta de classes ou segue fazendo de conta enquanto as menos privilegiadas perdem a esperança e a vida.
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