Alopecia: entenda o que é a condição que causa queda de cabelo
Depois do caso Jada Pinkett Smith no Oscar 2022, uma nova luz se acendeu sobre o tema. Aqui, te explicamos porque a doença não deve ser motivo de piada.
“Foi assustador quando começou. Eu estava no chuveiro um dia e tinha punhados de cabelo nas mãos e fiquei tipo, ‘meu Deus, estou ficando careca?'”, contou Jada Pinkett Smith durante um episódio de seu programa Red Table Talk. A atriz se refere aqui à sua experiência com a alopecia, condição que pode gerar perda de cabelo e pelos em todo o corpo. Foi justamente sobre este tema que o comediante Chris Rock decidiu fazer uma piada durante a cerimônia do Oscar 2022, que aconteceu na noite de ontem (27.3). A brincadeira, extremamente ofensiva, fez com que o marido de Jada, o ator Will Smith, subisse ao palco e revidasse com um tapa.
A atitude de Smith tem razões bastante claras: em primeiro lugar, a alopecia gera muito sofrimento em quem ela acomete, principalmente em mulheres. Ainda em seu programa, Jada conta que quando seu cabelo começou a cair, ela literalmente tremia de medo. Foi por isso que tomou a decisão de cortá-lo. “Meu cabelo sempre foi uma grande parte de mim. Cuidar dele era um ritual lindo, sabe? Ter a escolha de ter cabelo ou não… e então um dia ficar tipo, ‘meu Deus, talvez eu não tenha escolha'”.
Além disso, não dá para ignorar o fato de o comediante ter humilhado uma mulher negra diante do mundo todo, na maior premiação do entretenimento. Sobre isso, Joice Berth, escritora e colunista da ELLE, publicou em seu perfil no Instagram: “Ridicularizar mulheres negras é um dos ‘esportes’ preferidos do racismo. O mundo racista converteu o cabelo da negritude em instrumento de opressão estética. Desde que nascemos nosso cabelo é alvo de piada, não importa se é natural ou se está de acordo com o que a sociedade brancocêntrica definiu como bonito”.
O ocorrido no Oscar, apesar de extremamente triste e delicado, gerou um olhar mais que urgente para a alopecia. Batemos um papo com especialistas para entender as diferentes formas da doença e ressaltar a importância do diagnóstico precoce para um tratamento eficiente.
O que é alopecia, afinal?
Ela é, basicamente, o termo técnico para definir calvície. “É qualquer tipo de redução quantitativa de cabelo de uma determinada área do corpo. Por isso, é um termo bastante amplo”, explica o tricologista Ademir Carvalho Leite Júnior. O que determina o tipo de alopecia são as suas causas. De acordo com Luciano Barsanti, Presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia, a mais comum é a androgenética, de fator hereditário. “Ela vem da maior absorção de um hormônio chamado DHT, que afeta o bulbo capilar provocando o afinamento e a queda dos fios. É o paciente que perde cabelo durante anos da sua vida e, de repente, percebe que existe um rareamento no topo da cabeça e um aumento na risca do cabelo das entradas”, exemplifica. Esse tipo de calvície acomete 40% das mulheres e 80% dos homens.
“A Alopecia areata é uma doença autoimune – ou seja, o indivíduo produz anticorpos contra o seu bulbo capilar ou folículo piloso. Ela tem como gatilho os fatores psicogênicos e emocionais”, Luciano Barsanti, Presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia
Além da genética, a alopecia pode ser viral (como no caso da covid longa), hormonais (como problemas na tireóide) ou fisiológica (como no período pós-gestação). Outras causas também incluem carência alimentar, queda por tração (causada pelo uso de apliques, por exemplo) e fatores psicológicos. É justamente nesta última que entra também a alopecia areata, a condição de Jada Smith. “É uma doença autoimune – ou seja, o indivíduo produz anticorpos contra o seu bulbo capilar ou folículo piloso. Ela tem como gatilho os fatores psicogênicos e emocionais”, explica Luciano. De acordo com o tricologista, ela geralmente começa com falhas em buracos, em formas arredondadas, e pode evoluir para sua versão universal, em que a pessoa perde todos os cabelos e pelos do corpo. Ela acomete 5% da população mundial e é mais frequente em mulheres.
E tem tratamento?
Tudo depende do tipo de alopecia e do quão rápido é o diagnóstico. “Este é clínico e avalia todo o histórico do paciente e depende de exames físicos. Na dúvida, é feita biópsia da região para descartar outras doenças com características parecidas”, adiciona Ademir. Por isso, de acordo com os especialistas, é importante buscar um médico assim que perceber uma queda maior dos fios, seja na escova de cabelo ou até na cama, no carro e no chão de casa. “Em 60% dos casos há reversão total sem sequelas e sem novas quedas quando as medidas são tomadas rapidamente”, diz Luciano.
O tratamento vai depender muito do que está causando a calvície e ele pode envolver, além do tricologista, outros profissionais como psicólogo, psiquiatra, ginecologista e endocrinologista, que vão trabalhar em conjunto. “Em geral, utilizam-se multiterapias, ou seja, vários tratamentos realizados de forma concomitante. Desde os tópicos não invasivos, com loções naturais e sintéticas, até medicamentos ingeridos via oral”, conta Luciano.
Entre os tratamentos não-invasivos mais modernos está a ionização. “É realizada uma aplicação tópica no couro cabeludo com substâncias ativas anti-inflamatórias e estimulantes do bulbo capilar que tem uma carga iônica negativa, chamado de ânion. Ela é aplicada com um rolinho, conectado ao computador, que também tem a carga iônica negativa. Os dois se repelem e, assim, as substâncias ativas conseguem penetrar sem necessidade de agulhas ou injeções”, descreve Luciano.
De acordo com o especialista, também são utilizados estímulos de microcorrente elétrica, com choques levinhos que estimulam o bulbo capilar, e o laser de baixo comprimento de onda. Este último age em três frentes: na vasodilatação das artérias que levam sangue ao bulbo, fazendo com que recebam mais oxigênio, nutrientes e minerais; com ação anti inflamatória; e estimulando as células, fazendo com que haja a multiplicação acelerada dos fios.
Luciano também alerta sobre o perigo de terapias invasivas, feitas com agulhas ou rolinhos que causam a perfuração do couro cabeludo. “Além de doerem muito, podem causar lesões irreversíveis, inclusive ainda mais queda de cabelo”, finaliza.
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