Entenda a doença de Lyme da qual sofre Bella Hadid

A doença de Lyme é causada pela bactéria Borrelia burgdorferi, transmitida através da picada de carrapatos infectados, muitas vezes encontrados em gramados, florestas e áreas arborizadas do hemisfério Norte.


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O mundo da moda é repleto de glamour, elegância e a imagem perfeita que desfila nas passarelas. Mas por trás dos holofotes e das lentes das câmeras, uma história de coragem e determinação está sendo vivida por uma das supermodelos mais icônicas da atualidade. Bella Hadid, revelou ao mundo uma batalha silenciosa que travou contra a doença de Lyme, lançando luz sobre uma condição complexa e muitas vezes mal compreendida. Aqui, explicamos tudo sobre o assunto.

Como é transmitida a doença de Lyme?

A doença de Lyme é causada pela bactéria Borrelia burgdorferi, transmitida através da picada de carrapatos infectados, muitas vezes encontrados em gramados, florestas e áreas arborizadas, especialmente no hemisfério Norte. “A doença ocorre principalmente nos Estados Unidos onde aproximadamente 30 mil casos são detectados todos os anos, lembrando que muitos casos podem não ser identificados, principalmente na região Nordeste dos EUA. A doença ocorre também em alguns países da Europa e da Ásia”, fala Emy Akiyama Gouveia, infectologista do Hospital Albert Einstein.

Quando um carrapato infectado se fixa à pele e se alimenta, a bactéria pode ser transmitida para o hospedeiro, desencadeando uma série de sintomas. “O carrapato transfere as bactérias pela saliva, por isso, é importante que as pessoas retirem o quanto antes o carrapato com uma pinça. Não amasse! O sangue poderá transferir mais bactérias para a corrente sanguínea. Não pode, também, esquentá-lo com uma ponta de objeto quente: o estresse do carrapato acaba liberando mais bactérias para a corrente sanguínea”, alerta a médica que relembra: “A doença de Lyme portanto é uma zoonose, não é transmitida de pessoa para pessoa“.

Quais são os sintomas?

Os sintomas iniciais podem se assemelhar aos de uma gripe comum: febre, calafrios, fadiga, dores musculares e articulares. “No entanto, a marca registrada da doença é uma erupção cutânea característica chamada de ‘eritema migratório’“, diz Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês. “Essa lesão de pele ocorre geralmente onde houve a picada do carrapato, formando ali uma pápula bem característica. Portanto, se o paciente chega com a história de ter estado em um local com uma alta incidência de carrapatos e apresenta essa lesão na pele, o diagnóstico praticamente se fecha”, continua.

Os desafios para o diagnóstico correto

Diagnosticar a doença de Lyme pode ser um desafio, devido à variedade de sintomas e à sua semelhança com outras condições. Os médicos frequentemente confiam em exames de sangue para detectar anticorpos contra a bactéria. No entanto, esses testes podem ser inconclusivos nos estágios iniciais da infecção. Um diagnóstico precoce, contudo, é crucial para evitar complicações graves.

É possível realizar exames laboratoriais para complementar o diagnóstico. “Um exame mais específico é o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), que possui alta especificidade. Entretanto, vale ressaltar que esse teste é mais dispendioso e requer amostras específicas, como fluidos corporais”, continua Carla. “Além disso, a detecção de anticorpos contra a bactéria também é uma abordagem diagnóstica viável, embora com sensibilidade ligeiramente reduzida. Portanto, embora a avaliação clínica desempenhe um papel crucial, exames laboratoriais como PCR e testes de anticorpos podem confirmar o diagnóstico.”

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Quais são os tratamentos para a doença de Lyme?

O tratamento padrão para a doença de Lyme é uma série de antibióticos prescritos pelo médico. A duração e o tipo de antibiótico variam com base na gravidade da infecção e na saúde geral do paciente. “Quando detectada precocemente, a doença de Lyme é tratável e a maioria dos pacientes se recupera completamente. No entanto, em casos mais avançados, a recuperação completa pode levar mais tempo e exigir terapias adicionais”, diz a infectologista.

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Foto compartilhada por Bella Hadid em seu post sobre sua luta com a doença de Lyme Foto: Reprodução/Instagram

Casos mais graves e diagnosticados tardiamente: o que fazer?

Nessa etapa, a fase tardia, além da infecção bacteriana, ocorre também uma resposta autoimune contra essa infecção. Isso leva a um processo inflamatório mais intenso em alguns órgãos, o que resulta nas complicações crônicas que podem persistir por anos.

Comprometimento articular

Uma das áreas frequentemente afetadas nessa fase é o sistema articular. Pode ocorrer o acometimento das articulações, resultando em sintomas como dor, inchaço e rigidez. Isso gera um desconforto significativo para os pacientes. “No entanto, o tratamento com antibióticos, que é altamente eficaz na fase aguda, não apresenta a mesma eficácia na fase tardia“, lamenta Carla. “Nesse contexto, o uso de antibióticos intravenosos ou até mesmo a administração de toxina podem ser considerados. O tratamento é prolongado, geralmente com duração de vinte e oito dias, pelo menos quatro semanas, embora as chances de melhora sejam um pouco menores.”

Impacto no sistema cardiovascular: cardite de Lyme

“Outra área afetada nessa fase é o sistema cardiovascular. A cardite de Lyme, caracterizada pela inflamação do músculo cardíaco, pode causar sintomas alarmantes como desmaios, falta de ar, palpitações e dores no peito, frequentemente associadas a arritmias cardíacas. Essa inflamação ocorre principalmente em um ponto específico do átrio, onde ocorre a condução dos impulsos cardíacos. O tratamento, mais uma vez, pode envolver a administração de antibióticos intravenosos e pode requerer um período prolongado de terapia”, explica a infectologista.

Complicações neurológicas e o sistema nervoso

O sistema nervoso também pode ser afetado pela doença de Lyme em sua fase tardia. O comprometimento neurológico pode se manifestar de várias formas, incluindo meningite e inflamação de nervos periféricos. “Essas complicações podem resultar em sintomas como neuropatias crônicas, dor persistente, formigamento e dormência nas mãos e pés. O nervo facial também pode ser acometido, levando à paralisia facial. No entanto, é importante observar que o acometimento neurológico é menos comum do que as complicações cardíacas e articulares”, diz Carla.

Medidas de prevenção

A prevenção desempenha um papel crucial na luta contra a doença de Lyme. “Para evitar picadas de carrapato, é recomendado o uso de roupas protetoras ao passar tempo ao ar livre, como camisas de mangas longas, calças e sapatos fechados“, indica a doutora. Além disso, repelentes de insetos podem ser aplicados na pele e nas roupas. Após atividades ao ar livre, é importante realizar uma verificação minuciosa para detectar e remover carrapatos o mais rápido possível.

No Brasil

No nosso país, o Lyme não é tão comum, mas, por muitos anos, continua em estudo uma doença muito semelhante a ela chamada Síndrome de Baggio Yoshinari ou Síndrome Infecto Reacional Lyme Símile.

“Esta doença apresenta uma apresentação clínica semelhante, também com histórico prévio de picada de carrapatos, com testes sorológicos positivos, e tratamento com os mesmos antibióticos da doença de Lyme. Porém o agente bacteriano nunca foi isolado”, descreve Emy. O médico Natalino Yoshinari, reumatologista, que faleceu neste ano, era Professor da Disciplina de Reumatologia do Departamento de Clínica Médica e do Laboratório de Investigação em Reumatologia (LIM/17) do HCFMUSP, estudou por muitos anos doenças transmitidas por carrapatos, e a Síndrome de Baggio Yoshinari leva seu nome.

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