Suplementos de beleza: o que funciona e o que é balela?

Os suplementos que prometem melhorar pele, cabelo e unhas são presença garantida em publis nas redes sociais. Mas, antes de queimar dinheiro neles, saiba o que realmente funciona.


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Foto: Getty Images



Não é de hoje que as chamadas “pílulas da beleza” atraem a atenção. Para que se tenha ideia, existem pesquisas que analisam o papel dos suplementos alimentares na pele, no cabelo e nas unhas desde os anos 1980 — quando os estudiosos ainda observavam os efeitos sobre cobaias animais. Passados alguns anos, o frisson sobre a possibilidade de se manter bela e jovem com o mínimo esforço segue intacto. No entanto, basta uma breve conversa com um dermatologista para repensar essa crença.

A dermatologista Tatiana Gabbi, representante da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), explica que cada pessoa reage a um suplemento de acordo com o que está faltando em seu corpo. É como se fôssemos feitos de gavetas: quando elas estão vazias, podemos desenvolver questões como queda de cabelo e unhas fracas. Aqui, entra a suplementação, preenchendo os espaços vazios (ou pouco ocupados) e melhorando a situação.

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“Quando a gente tem uma deficiência nutricional, cabelos, unhas e pele acabam sofrendo. Por isso, cada paciente pode ter esse impacto de maneira individual”, afirma a dermatologista. Então, se você anda tendo problemas com estes nutrientes, é bem provável que um profissional de saúde indique a sua suplementação depois de avaliar seu caso.

Suplementos podem funcionar, mas nada é garantido

Até aqui, entendemos que, quando o assunto é saúde, quanto mais individualizado, melhor. No entanto, a ciência vem se debruçando sobre os efeitos dos chamados nutrientes da beleza para ninguém ser enganado. Entre os mais aceitos como salvadores da pele (literalmente), estão as vitaminas do complexo B — principalmente biotina, B12 e ácido fólico —, a vitamina C e o ferro.

A biotina, por exemplo, participa da síntese da queratina, um dos aminoácidos que compõem a pele, os fios de cabelo e as unhas. “Já o ferro é essencial para que células de rápida multiplicação tenham energia para a replicação e renovação celular, como é o caso da pele e do cabelo em formação”, explica a farmacêutica Jackeline Alecrim, especialista em cosmetologia. A dermatologista e tricologista Julyanna do Valle também destaca a ação da enzima Q10 para melhorar o aspecto da pele de forma geral. “Ela tem ação contra o envelhecimento da pele e melhora sua qualidade”, diz.

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O colágeno merece uma página só para ele pela quantidade de estudos já feitos. Entre eles, está uma revisão — quando se analisa uma série de pesquisas sobre um tema — feita por um grupo de brasileiros e publicada na revista científica International Journal of Dermatology. Ela concluiu que “suplementos de colágeno hidrolisado ou de peptídeos de colágeno podem atrasar e melhorar sinais de envelhecimento da pele ao diminuir as rugas faciais e melhorar a hidratação e elasticidade da pele enquanto a suplementação é mantida.”

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Os pesquisadores também chegaram à conclusão de que os efeitos benéficos apareceram, na maior parte das vezes, após 90 dias de uso, com resultado mantido por quatro semanas depois do fim da suplementação. Em outras palavras, suplementar colágeno até dá resultado, mas este se sustenta pouco tempo depois que se para de tomar as cápsulas ou sachês. Nenhum milagre até aqui.

Por isso, quando surge um hype, é melhor esperar o que a ciência tem a dizer. É o caso do ácido hialurônico oral. Ele já é usado na forma injetável e em cremes, mas a suplementação vem despontando — e acendeu um alerta. “Temos poucos trabalhos que mostrem a segurança da reposição desse nutriente feita dessa forma. Sabemos que o ácido hialurônico oral pode ajudar na hidratação da pele, mas ainda não existem muitas evidências com relação à melhora de rugas e flacidez”, pontua Julyanna.

O mesmo vale para a suplementação de zinco — faltam evidências para que o mineral seja indicado a rodo por aí, de acordo com uma pesquisa publicada no Journal of the American Academy of Dermatology.

Quando é perda de tempo, dinheiro e saúde?

Corta, novamente, para a tal influenciadora com aquele cabelão recomendando o suplemento que teria operado o milagre. O efeito das redes sociais e da indústria pode ser tão maléfico que virou objeto de estudo — em suas pesquisas, cientistas escrevem com todas as letras que é preciso tomar cuidado antes de apontar essas pílulas como o santo graal da beleza. “O problema dos influenciadores é que eles acabam vendendo uma ideia de que existem suplementos que são especificamente interessantes para determinadas coisas. Porém, se você tomar aquilo e não tiver aquelas deficiências, você não vai ter um benefício só pro que você usou”, resume Gabbi.

Até aqui, o único risco seria gastar dinheiro à toa, certo? Se você der sorte, sim. Isso porque existem dois tipos de vitaminas: as hidrossolúveis e as lipossolúveis. Quando em excesso, o primeiro grupo (complexo B e C) é eliminado pela urina. Já o segundo ( A, D, E e K) permanece no organismo. Então, se você cair na falácia das redes e exagerar na dose, pode haver consequências. “Existe o risco de hipervitaminoses com intoxicação e até sobrecarga renal, que pode evoluir com insuficiência renal e hemodiálise nos casos mais extremos”, alerta Julyanna.

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Além disso, suplementar sem necessidade pode mascarar uma doença. “Unhas quebradiças, por exemplo, podem indicar uma alteração da tireoide ou mesmo uma doença perigosíssima chamada líquen plano, que faz com que o indivíduo perca aquela unha pra sempre. O paciente pode até ter um benefício passageiro com o suplemento, mas deixa de fazer um diagnóstico importante”, pontua Tatiana.

No final das contas, tomar um suplemento que realmente funcione envolve bater um papo com um profissional da saúde. E, se o dedo coçar quando você entrar na farmácia, lembre-se: é melhor guardar essa grana para o que possui comprovação científica e recomendação médica.

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