Carta da diretora

Saudades do que a gente não viveu.

Sempre tive uma relação ambígua com o Carnaval. Deve ser por algum trauma de infância. Não sei explicar muito bem, mas o fato é que essa data sempre foi para mim mais motivo de melancolia do que de diversão. Porém, aqui na ELLE, a maioria da redação é de foliões e isso teve grande influência para que, nos últimos anos, eu começasse a me relacionar com o assunto de forma diferente.

Ainda em 2020, começamos a discutir o vazio que a ausência do Carnaval traz, individual e coletivamente. A ideia veio da editora especial Vivian Whiteman, também autora do texto de arrepiar que está na voz do cantor e compositor Thiago Petit na capa desta edição da ELLE View. Não é uma capa tradicional, porque concluímos que seria impossível personificar essa festa que representa tantas vozes, tantos corpos, tantos ritmos, tantas cores… Esta edição fala sobretudo de “memórias de Carnavais passados e esperança de Carnavais futuros”. Tudo que nos resta no meio do caos ao redor.

Com quantas histórias se faz um Carnaval? A editora Bruna Bittencourt foi perguntar para carnavalescos emblemáticos, como Sabrina Sato, quais são suas memórias mais latentes da folia. De perrengues a tensões, os relatos são emotivos e, ao mesmo tempo, divertidos. Contamos a história dos bate-bolas, grupos tradicionais periféricos do Rio de Janeiro que, apesar de terem uma linguagem estética supercontemporânea, têm pouca visibilidade. Descobrimos também que, para além da Sapucaí e do Anhembi, há desfiles grandiosos acontecendo em forma de maquetes – uma versão miniaturizada das escolas de samba. Por fim, o jornalista Pedro Alexandre Sanches bateu um papo reto com a musa de outros Carnavais Margareth Menezes, e o editor de beleza Pedro Camargo entrevistou a maquiadora Doniella Davy, da série-sensação da HBO, Euphoria. E, para quem não vê a hora de botar o bloco na rua, em “O sol há de brilhar mais uma vez”, o jornalista e produtor David Butter faz um belo paralelo entre o Carnaval pós-Gripe Espanhola, em 1919, e o que pode ser o de 2022. Até lá, bora colocar ao menos a cara na janela e gritar junto: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Vacinados, venceremos!