Normalmente, março é o mês em que apresentamos as novas coleções e tendências da temporada. É quando boa parte do que foi desfilado meses atrás começa a chegar às lojas, daí o gancho. Acontece que normalidade não tá tendo. Na verdade, já faz um ano que não tem, e esse conceito parece cada vez mais distante de nossas vidas. E isso muda tudo. Especificamente na moda, muda como estilistas do mundo inteiro criam e produzem suas coleções, como stylists, maquiadores e fotógrafos executam seus trabalhos e interpretam aquelas roupas, quem as veste, como se faz e analisa um desfile, a maneira e o que consumir e até nossos desejos.
Quando começamos a pensar nesta edição, uns dois meses atrás, sabíamos que a abordagem não poderia ser puramente novidadeira. É nosso trabalho apresentar os lançamentos da estação, apontar as principais tendências e analisar os rumos do mercado. Mas é também nosso papel interpretar, contextualizar e dar sentido a tudo isso. É a diferença entre revista e catálogo.
No meio do caminho, a pandemia se agravou por aqui. Os números de mortes e contágios bateram recordes históricos, sistemas de saúde colapsaram e o ritmo de vacinação segue lento demais. Até o fechamento, o Brasil registrava 285 mil mortos, segundo o consórcio de imprensa. São quase 3 mil vidas perdidas diariamente. Difícil falar sobre desfiles, tendências e blusinhas em meio a tanta tragédia, né?
Mas, como bem escreveu Vivian Whiteman, “a imagem, a notícia, o interesse pelo que está sendo proposto, produzido, criado, isso parece ganhar importância”. Em situação tão calamitosa e sem perspectiva de melhoras (pelo menos em um país em desgoverno), a moda pode oferecer escapes interessantes. Desde uma simples camiseta, estampa ou acessório coloridos, para aliviar o peso sombrio do dia a dia pandêmico, até atividades manuais com potencial terapêutico e novas plataformas para interação, discussão e troca.
Por fim, o duro porém necessário remédio do distanciamento social nos permitiu fotografar apenas uma matéria para esta edição (antes das medidas restritivas mais rígidas e, claro, de acordo com todos os protocolos sanitários). E ela não poderia ser mais representativa do novo momento da moda. Em parceria com a Lancôme, a influenciadora e ativista Paola Antonini conta não uma história de superação após o acidente que a deixou deficiente, mas uma história de vida pautada por coragem, liberdade, erros e acertos e a certeza de que ser quem é importa mais do que qualquer cartilha pró-felicidade.