Expectativa x realidade: o quanto avançamos na indústria da moda plus size?

O que marcas tradicionais, de luxo e grandes varejistas brasileiras têm feito para contribuir com a inclusão de mais tamanhos e modelagens para pessoas gordas.

Há quase dez anos, tudo ainda era mato quando a jornalista e empresária Flávia Durante, 44 anos e manequim 52, começou a saga pela busca de roupas interessantes que servissem em seu corpo. Como mulher gorda, as únicas alternativas que encontrava nos chamados “tamanhos especiais”, em pouquíssimas lojas, eram peças sem corte, design e caimento adequados. Por isso, decidiu, em 2012, fazer uma revolução pessoal e também coletiva: ao lado de gente com as mesmas ideias, ela organizou, em São Paulo, a primeira edição da feira Pop Plus, considerada, atualmente, a maior da América Latina, com mais de 50 marcas autorais de moda plus size. “No começo, era algo totalmente invisível. Quando falávamos sobre termos uma moda mais inclusiva e diversa, as pessoas davam risada, diziam que não vendia e que fazíamos apologia à obesidade. Hoje, quem não atender a demanda desse público vai estar fora do mercado, lá no século passado”, explica Flávia.

De acordo com o IBGE, a população brasileira está ficando maior. Em 2019, uma em cada quatro pessoas acima de 18 anos estava obesa, e cerca de 60,3% estavam acima do peso, o que equivale a 96 milhões de pessoas. Em paralelo, o setor plus size cresceu 21% nos últimos três anos, 16% a mais do que toda a indústria, segundo dados da Associação Brasileira do Vestuário. Ainda assim, boa parte do mercado ainda não acompanha tais mudanças no mesmo ritmo.

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Flávia Durante e Mariana Camargo.Fotos: Divulgação

“Não existem tantas marcas especializadas no segmento, e a questão da gordofobia é refletida nisso, principalmente em quem veste acima de 56″, diz Mariana Camargo, da grife Clamarroca +, especializada em jeanswear até o número 60. Para abrigar a diversidade de corpos gordos, ela também criou uma tabela de medidas individuais e de caimento para cada tamanho de suas peças.” Já tive clientes que choraram comigo. Sei que muitas delas nem entram em uma loja tradicional, porque sabem que vão chegar lá para provar alguma coisa e não vai servir. Essa mulher está cansada disso. É frustrante escutar toda vez que não tem o seu tamanho. Eu mesma já passei por situações como essas”, conta.

A busca exigente de quem é gordo e quer se vestir adequadamente, ao contrário do que afirmavam a Flávia tempos atrás, realmente existe. Uma rápida pesquisa no Google indica que a busca por peças como “biquíni asa delta plus size”, “short godê plus size” e “moda plus size masculina”, além do termo “plus size”, de modo geral, teve um aumento de 500 a 1000% no último ano. “Mesmo com mais alternativas, o grande desafio, não só da moda, mas da sociedade, é aceitar o corpo gordo como um corpo normal, digno de respeito e amor. Se a moda é gordofóbica, é porque a sociedade também é”, reflete ela.

“As lojas de departamento ainda estão engatinhando nesse sentido. Muitas vão até o 54 e acho isso bem excludente. Tem meninas que vestem 60 ou mais e não são atendidas.” Jéssica Lopes

Outro entrave vem da base da formação dos profissionais que trabalham na indústria. Segundo Flávia, não existem nos cursos universitários nenhuma disciplina focada na diversidade de tamanhos. “Tem essa falta de know-how. Temos pouquíssimas modelistas e oficinas especializadas no corpo curvilíneo no Brasil. Não é só aumentar o tamanho. É entender as particularidades do corpo gordo. Então, enquanto a gente não mudar toda essa estrutura, isso não vai mudar.”

Há também as negacionistas: etiquetas que preferem não se ajustar ou se adequar a esse público. Recentemente, a marca de beachwear masculina Bannanna Brasil disse a um seguidor, via mensagem direta do Instagram, que não fazia tamanhos grandes por uma estratégia de posicionamento de mercado. Depois disso, retirou a opção de deixar comentários na rede social. Outra etiqueta que também evitou o tema durante muito tempo, mesmo após inúmeros protestos nas redes, foi a Victoria’s Secret. O auge da polêmica aconteceu em 2019, quando o então executivo e diretor de marketing, Ed Razek, afirmou que a grife não deveria ter modelos plus size. Em seguida, sob muito barulho dos consumidores, ele pediu demissão, e a VS contratou a modelo curvilínea Ali Tate-Cutler.

“A gordofobia é um estigma estrutural, institucionalizado e cultural. O que isso significa? A maneira como a nossa sociedade se organiza é gordofóbica. Então, ela está internalizada na forma como pensamos, agimos, nas profissões, além da moda. As marcas não querem associar sua produção a corpos maiores que 48, 50. É malvisto, entende? E quando associam, escolhem uma modelo padrão, sem barriga ou celulite, para não chocar”, enfatiza Malu Jimenez, filósofa da Unesp, doutora em estudos de cultura contemporânea pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e PhD em gordofobia.

CRESCIMENTO A PASSOS TÍMIDOS

Devido à gordofobia sofrida desde a adolescência, a criadora de conteúdo e youtuber Jéssica Lopes demorou dez anos para se desconstruir e se sentir confortável na própria pele. Com 115 kg, ela celebra a liberdade de poder vestir peças que deixam bastante pele à mostra e faz combinações elogiadas nas redes. “Não sinto muita dificuldade, tenho acesso a muitas marcas, mas, pensando na mulher que não tem, existem grandes problemas, como o financeiro. Grande parte das roupas plus (size) tem um valor muito elevado e se torna inacessível”, afirma. “As lojas de departamento ainda estão engatinhando nesse sentido. Muitas vão até o 54 e acho isso bem excludente. Há meninas que vestem 60 ou mais e não são atendidas. De qualquer forma, existem muitas coisas legais sendo feitas. Isso começou um pouco tarde, mas que bom que começou. Todo avanço, por menor que seja, é positivo”, complementa Jéssica.

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Jéssica Lopes.Fotos: Divulgação

De acordo com o site do Museu da História Têxtil Americana, o termo plus size surgiu no início do século 20, quando a costureira lituana Lena Bryant inaugurou sua marca em Nova York, em 1904, após perceber uma lacuna no mercado de roupas para grávidas. Ela passou, então, a criar vestidos, lingeries e outras peças confortáveis para esse público e, nos catálogos, chamou suas modelos de Misses Plus Size.

Flávia Durante explica que, atualmente, não existe nada oficial no Brasil para denominar em qual tamanho uma roupa já pode ser considerada plus size, apesar de muitas marcas considerarem o 46 ou 48 como a primeira numeração do segmento. “Entre o 44 e 48 é aquilo que chamamos de moda curvy, uma mulher com mais bunda, mais coxa, o padrão da brasileira. É um consenso excludente, porque cada corpo é único. Se você parar para pensar, o plus size é aquilo que não encontramos em lojas normalmente”, continua.

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Ashua Curve & Plus Size.Foto: Divulgação

De olho nessa grande fatia de mercado, algumas das maiores varejistas brasileiras começaram um processo recente de inclusão de tamanhos maiores em suas coleções. Há cinco anos, a Renner criou a etiqueta feminina Ashua Curve & Plus Size. “O foco é a consumidora: como ela se sente, o que procura. Com esses feedbacks, já tivemos mudanças, como o ajuste da tabela de medidas até o 54”, conta Fernanda Feijó, diretora de estilo da Renner. Além do e-commerce, a marca tem oito lojas físicas, em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Ao ser questionada por que a Renner não produz todas as peças da rede em numerações maiores, Fernanda diz que a ideia é ter algo exclusivo. “A Ashua não é simplesmente uma roupa com numeração maior. Ela nos permite atender as clientes com modelagens e coleções específicas, pensadas para esse público. Além disso, podemos ter mais proximidade com as consumidoras e oferecer um atendimento especializado.”

Outro importante nome do varejo de moda nacional, a Riachuelo possui duas linhas exclusivas plus size: uma feminina e outra masculina. Segundo informou sua assessoria de imprensa, as modelagens e os aviamentos, como elásticos e zíperes, são diferentes daqueles dos tamanhos-padrão. “Não é somente uma graduação do regular. É uma modelagem desenvolvida especificamente para um corpo plus, tendo como base o tamanho 50/XG, tornando o produto mais democrático”, diz a gerente de estilo Constanza Pedrassani.

“Entre o 44 e 48 é aquilo que chamamos de moda curvy, uma mulher com mais bunda, mais coxa, o padrão da brasileira. É um consenso excludente, porque cada corpo é único.” Flávia Durante

Se as mulheres ainda esbarram em muitas dificuldades, sejam financeiras ou sociais, para simplesmente encontrar uma roupa que realmente gostem, para os homens o esforço é ainda maior. A alternativa encontrada pelo pesquisador Tiago Cunha é garimpar em brechós e, quando pode, manda fazer peças com um alfaiate. “Quando você é gordo, não consegue entrar em uma loja ‘normal’ e escolher o que gosta. Ainda não vejo muito avanço nas marcas tradicionais. As roupas parecem ser feitas para um senhor”, reclama.

Seu amigo, o fotógrafo Thiago Patrial, que veste 54 e é adepto do estilo jeans, camiseta e tênis, faz coro. “Nas sessões masculinas das lojas, a modelagem de algumas calças é um problema, porque as pernas são largas demais e a cintura fica apertada. No feminino, elas são mais ajustadas, têm um acabamento e caimento mais bonitos. Por incrível que pareça, é difícil encontrar até camisetas básicas, meias e cuecas”, diz ele. Com intimidade por trás e também na frente das câmeras, ele já fez alguns trabalhos para a C&A, marca que acredita ter uma variedade maior de produtos. “Depois que o (ator) Babu (Santana) participou do Big Brother Brasil (edição de 2020), soube, pela empresa, que a procura por tamanhos maiores aumentou muito”, comenta.

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C&A.Fotos: Divulgação

Head de marketing da C&A, Mariana Moraes afirma entender essa necessidade masculina. “Buscamos ampliar cada vez mais o nosso sortimento de produtos, abrangendo propostas de moda para eles, e não apenas itens clássicos. Entendemos que qualquer cliente deve poder se expressar e se vestir da maneira que acredita”, afirma. Mariana também assume que o grande desejo dos consumidores é encontrar os mesmos produtos da coleção regular em tamanhos maiores. “No entanto, como o mercado hoje foca produtos muito básicos, a mulher que veste tamanhos maiores e procura informação de moda quer blusas cropped, shorts e modelos que valorizam seu corpo. Temos buscado essa diversificação de portfólio.”

COMO AS MARCAS DE LUXO SE ADEQUAM À DIVERSIDADE?

Mais ao topo da pirâmide, grande parte das grifes de luxo nacionais ainda não atende todo o público gordo. É comum o discurso por mais diversidade, mas a intenção quase nunca chega à realidade. A reportagem de ELLE passou por alguns e-commerces de nomes conhecidos e constatou que são raros aqueles com numeração acima de 48 e, ainda assim, com quantidades de peças bastante reduzidas. Bo.Bô e Le Lis Blanc, por exemplo, trabalham com grade até o GG e/ou 50. No entanto, praticamente todos os itens entre 46 e 50 constam como indisponíveis nos respectivos sites.

Questionadas sobre o assunto, as duas grifes, do grupo Restoque, afirmam, por meio de seus representantes, que pretendem trabalhar com uma numeração mais inclusiva, a fim de atender uma maior variedade de corpos, e que acompanham os debates sobre o assunto.

“Recentemente, algumas marcas de luxo incluíram modelos plus size em suas passarelas, mas a imagem do desfile não é a mesma da loja. A cliente chega lá e não encontra nada do que viu.” Alexandre Herchcovitch e Fábio Souza

Juliana Santos, dona da multimarcas recifense Dona Santa, que vende roupas dos estilistas Reinaldo Lourenço, Lenny Niemeyer e Adriana Degreas, reconhece que são poucas aquelas que atendem uma diversidade maior de corpos. Na sua etiqueta própria, a variedade é só minimamente mais inclusiva. “Temos muitas peças que vão do PP ao GG e agora temos o EGG, ou seja, nossos tamanhos vão do 36 ao 46. Na próxima coleção teremos o tamanho 48, sem selecionar produtos especificamente para tamanhos maiores”, diz Juliana. “A loja é uma só, separada por marcas e não por moda para tamanhos menores e uma ala com numerações maiores, prática antiga do mercado.”

Na Cris Barros, o tamanho máximo é 44. Como alternativa, a grife diz oferecer serviços sob medida, geralmente mais custoso e demorado. A opção também está disponível na À La Garçonne, onde a grade feminina para no 46. Segundo Alexandre Herchcovitch e Fábio Souza, são raros os pedidos acima dessa numeração. Já no masculino, as peças vão até o XXG. “Todos devem ser atendidos sem distinção de tamanho, porém respeitamos nossa limitação de produção”, afirmam os sócios.

Alexandre e Fábio acompanham a movimentação do mercado há algum tempo, mas acreditam que a inclusão não pode ser oportunista. “Recentemente, algumas marcas de luxo incluíram modelos plus size em suas passarelas, mas a imagem do desfile não é a mesma da loja. A cliente chega lá e não encontra nada do que viu. Por isso, não nos sentimos confortáveis em colocar essa imagem na passarela”, justificam.

Na sua mais recente coleção, João Pimenta decidiu repensar os valores de sua etiqueta. “Me animei com a possibilidade de ampliar os tamanhos e fiz várias peças até o 60. É algo em que acredito muito e sentia que precisava abrir o leque”, conta o estilista. “A sociedade precisa rever seu conceito estético, essa definição de que o corpo gordo não veste bem uma roupa.” Contudo, as limitações impostas pela Covid-19 dificultaram a divulgação da novidade. “Estamos em um momento de experimentação complicado por causa da pandemia, mas, quando isso tudo passar, vamos poder trabalhar mais.”

A NECESSIDADE DO TERMO PLUS SIZE. USÁ-LO OU NÃO?

Mas, afinal, diante de toda a necessidade de igualdade e inclusão exigidas por quem não se encaixa no padrão, o termo plus size ainda é realmente necessário? Para Flávia Durante, sim. “O ideal seria não usar, porque o plus size acaba tendo como padrão o corpo magro, mas é necessário nos posicionarmos no mercado”, diz a empresária. No entanto, há quem prefira bancar a não-utilização do termo para fazer sua própria moda. É o caso da marca catarinense Sislla, das irmãs Daiana e Daniela Pellin, que trabalham há seis anos com a numeração do P ao G6. “Queríamos juntar todos os biotipos em uma mesma loja, sem categorizar. No começo, percebemos que mesmo as lojas que já vendiam o plus size, além dos tamanhos tradicionais, faziam uma diferenciação de estilo de peças, tecidos etc. A gente quer unir, e não categorizar. Achamos o termo importante para diversas pautas, mas, na moda, preferimos apenas vender como all sizes”, explica Daniela.

“O preconceito é muito antigo. Ele não parte da beleza e, sim da doença, de considerar o corpo gordo doente.” Malu Jimenez

Conhecida por suas postagens inspiradoras e divertidas, que influenciam mais de 700 mil seguidores, Letticia Munniz também acredita que as peças não deveriam ser separadas por tamanhos plus size ou tradicionais. “Não sou modelo plus. Sou modelo. Quando falo isso, o olhar das pessoas me mede inteira. Não tenho vergonha disso. Acho que quem deveria ter é quem insiste em me colocar em uma caixa. Não acho que temos que ter uma coleção do P ao G, no máximo até o GG, e outra coleção para pessoas maiores. Quem é maior quer vestir as mesmas roupas do que quem é menor. Outra coisa é que o G no Brasil representa um 42/44. Quem veste 42 é uma pessoa magra! G significa grande, porque essas roupas não podem ser feitas verdadeiramente em tamanhos grandes? Qual o problema com nossos corpos?”, questiona ela.

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Letticia Munniz.Fotos: Divulgação

A resposta, novamente, passa pela gordofobia. “O preconceito é muito antigo. Ele não parte da beleza e, sim da doença, de considerar o corpo gordo doente”, diz Malu Jimenez. “Foi principalmente no século 19, com o advento do capitalismo, que a ideia de corpo saudável e produtivo é entendido como ágil e leve. Para a mulher, é ainda pior: pense nas cintas, nos espartilhos, em ter o corpo cada vez mais apertado. Agora, temos as cirurgias reparadoras, o Brasil é o segundo país no ranking mundial de cirurgias bariátricas. De qualquer forma, o ativismo está crescendo e a internet é a grande responsável por nos ajudar a promover encontros, aumentar essa discussão e melhorar o cenário atual”, finaliza.