Foco no couro cabeludo

Depois do skincare, o termo da vez é o scalpcare: uma rotina de cuidados com as raízes do cabelo que pode incluir esfoliação, procedimentos estéticos e até tratamento antienvelhecimento

Até pouco tempo atrás, pacientes chegavam ao consultório de um médico tricologista, especialista em saúde do cabelo, à procura de formas de como tratar e cuidar dos fios capilares. Porém, no último ano, há uma nova prioridade para quem quer ter madeixas mais sedosas e brilhosas: o couro cabeludo. “Há quem chegue ao meu consultório já pedindo tratamentos para essa parte do corpo”, diz a médica tricologista Fernanda Cortez, de São Paulo. Depois do skincare, a palavra que deve se tornar mais comum no próximo ano é o “scalpcare”.

“Percebemos uma ‘skinificação do cabelo’, ou seja, cuidar do cabelo da mesma forma que da pele”, diz Bruna Ortega, diretora de contas e especialista em tendências na WGSN, consultoria em tendências de comportamento e consumo. “Ela está crescendo à medida que os consumidores aumentam seu repertório e conhecimento sobre produtos e ingredientes e buscam os mesmos rituais feitos em outras partes do corpo, agora para os tratamentos capilares.”

Isso fica claro quando vemos marcas especializadas em cuidados para a pele investindo também na área de cabelo. A empresa de skincare Beauty Bio, dos EUA, lançou produtos para os fios no ano passado, mas seu maior sucesso é um acessório para fazer microagulhamento do couro cabeludo em casa. Lançado em outubro deste ano, o item já corresponde a 20% dos rendimentos da marca.

O sucesso do acessório da Beauty Bio reflete uma nova abordagem dos consumidores em relação ao cuidado do cabelo. “As pessoas perceberam que, por exemplo, se a testa é oleosa, ela pode tratar para controlar a oleosidade da região, mas o escalpe é uma continuação da pele e também deve ser tratado”, diz o médico tricologista João Gabriel Nunes, membro da Sociedade Brasileira do Cabelo e fundador e responsável pelo Centro Médico Capilar em Mogi Guaçu (SP).

“A categoria foi diretamente impactada tanto pelos sentimentos gerados ano passado, durante a pandemia, como ansiedade e angústia, quanto pelo próprio vírus em si. Os consumidores estão procurando curas para os efeitos que estão aparecendo, como couro cabeludo estressado e queda capilar”, comenta Bruna Ortega. “Para ter uma ideia, o site de e-commerce estadunidense Cult Beauty relatou o aumento de 330% nas vendas de esfoliantes e tratamentos para o couro cabeludo no ano passado.”

O impacto não fica apenas nos varejistas. Um relatório da empresa de pesquisas Euromonitor International dá conta de que o mercado global de produtos para cabelo cresceu 2,4% no último ano, chegando ao valor de 79,9 bilhões de dólares. A título de comparação, a área de cuidados para a pele, que também bombou durante a pandemia, cresceu apenas 1,1%.

Couro cabeludo X Cabelo

Anatomicamente falando, o couro cabeludo é composto de cinco camadas. A mais conhecida delas é a pele, que, nessa região, é repleta de glândulas sudoríparas e sebáceas, além de vasos sanguíneos. Essa estrutura protege o folículo piloso e o bulbo capilar, estruturas que ficam na parte interna do couro cabeludo e que mantêm a vida do cabelo. “Assim, se o couro cabeludo está danificado, pode ser que seus fios nasçam sem brilho e quebradiços”, explica Cortez. “Por isso, é tão importante que tratemos dele da mesma forma que cuidamos da nossa pele.”

Uma rotina de scalpcare básica é, de acordo com os especialistas, muito semelhante aos rituais de skincare: é necessário fazer uma limpeza, hidratar e proteger o couro cabeludo do sol. E, assim como no caso da pele do rosto, há diferentes tipos de couro cabeludo. “Tem os que são naturalmente mais secos e os que são oleosos. O ideal seria, assim, fazer uma avaliação com um tricologista para entender melhor as necessidades de cada caso”, pontua Nunes.

Porém, independentemente do tipo de escalpe, há os procedimentos que são os favoritos dos consumidores. “Um tratamento que está muito famoso é o detox do couro cabeludo”, afirma Cortez. Feito em clínicas e salões de beleza, o procedimento é uma limpeza profunda de resíduos deixados por produtos aplicados nos fios, além da gordura natural do organismo. “É feito antes de hidratação. Sempre falo que o couro cabeludo é o nosso solo e ele precisa estar fértil para termos um cabelo saudável”, diz a médica tricologista.

Em casa, esse detox pode ser feito com máscaras esfoliantes. As marcas, atentas às novas demandas dos clientes, lançaram opções para o escalpe no mercado. Kerástase, Tressemé e Sephora são algumas das empresas que disponibilizam esse tipo de produto.

Porém o item de scalpcare mais popular é o pré-xampu, que começou a bombar no último ano. Enquanto os produtos antirresíduos fazem uma limpeza profunda, os pré-xampus são neutros e também ajudam a equilibrar o pH do couro cabeludo. “Eles têm vindo com muitos princípios ativos, então o pré-xampu prepara a pele para que esses ativos façam mais efeito”, defende Nunes.

Ele ainda segue dizendo que, em seu consultório, por sua vez, o que está em alta é o MMP Capilar, microinfusão de medicamentos no couro cabeludo. “É um equipamento com 27 microagulhas, que injetam na pele do paciente nutrientes e vitaminas que vão melhorar a qualidade do couro cabeludo”, detalha o médico. O procedimento permite que o especialista aplique vitaminas do complexo B e ácido hialurônico, por exemplo.

Além de controlar a queda de cabelo e a oleosidade excessiva, o MMP Capilar também melhoraria a elasticidade do couro cabeludo. Mais uma vez, o scalpcare parece andar pelo mesmo caminho do skincare e o envelhecimento precoce do escalpe é uma questão discutida pelos especialistas. “A gente sabe que o couro cabeludo também envelhece. A pele vai perdendo a capacidade protetora, deixando os fios mais frágeis, leves e finos”, diz o tricologista

Por isso, de acordo com o especialista, o futuro do scalpcare está no desenvolvimento de produtos de anti-aging para essa parte do corpo, além de protetores solares especializados para o couro cabeludo. “Era uma coisa na qual a gente não pensava havia algum tempo, mas agora está tendo uma grande saída”, complementa o médico. “As pessoas veem o cabelo como uma parte importante do rosto e por isso investem nele.”

Bruna Ortega, da WGSN, complementa que, em um futuro próximo, as marcas devem criar rotinas de cuidados completas e fáceis de usar. “Outra oportunidade é estender a mensagem de positividade corporal para o couro cabeludo. Criar soluções para ajudar com problemas comuns, como caspa, queda de cabelo e erupções, mas eliminar o tabu e preconceito envolvidos nesses temas.”