Ilustração: Gustavo Balducci
“Hoje eu olhei pra você e vi à beça.” Assim cantou Marina Sena, cantora revelação 2021.
“Por supuesto”, um hit, uma questão sobre a pulsão do olho que vê, e supõe, e percebe e, às vezes, até faz castelos com seus flashes de certeza. Sonhos felizes em que as pessoas chegam à praia e já caem no mar, igual nos filmes antigos da Sessão da Tarde. Lá onde vamos ter feito um Carnaval.
O que será que Marina viu quando disse o gozo, a ginga, a luz, o som, a festa? O que a gente diz que vê tem uma ligação com isso que chamamos de realidade. Mas a realidade, essa pra quem a gente dá confiança, bom, ela nem é tão sólida, segura assim. Ou melhor, tem uma solidez que é feita das nossas, das outras ficções. Não só, mas também. Nenhum amor é completo, nenhum terror é eterno.
Tem pontos de encontro. A ginga que Marina vê tem um tanto dela, um tanto do movimento que ninguém captura, um tanto desse outro sempre desconhecido ou jamais totalmente sabido.
A festa é sempre meio cheia, meio vazia, e de repente a vida joga o holofote do olho em alguém, em alguma coisa, e do nada, Réveillon! Vai ver são os fogos.
O ano acabou e se você deitou no sorriso de alguém saiu na vantagem. Quem apesar de tudo. Às vezes, é daí que parte a vontade de mudar, de viver mais um dia. Um sorriso de aconchego, colchão nem muito tábua nem fofo demais. O que a gente acha que recebe e aceita pode até devolver pro mundo, botar um tijolinho novo na construção da realidade. Um bloco assim desalinhado, desencaixado estrategicamente para derrubar o muro. O passo torto em cena é o que falta e fundamenta.
Ai, o que será que será, Marina, na cara e na coragem? Será que a gente usa a tela ou ela também faz a gente. Será que engole tudo estilo Poltergeist? Mais um ano se a gente mal deu conta do que tem acontecido?
Por supuesto que não transpareço, mas também tenho medo.
O medo da pressa. Será que ela é sempre inimiga do cuidado? Acho que não, mas, se for toda pressa, acho que sim. Esperar ou fazer a hora, depende do que o momento pede e o que a gente acha que pode ou deve entregar. De qualquer jeito, pode ser corajoso. Fazer esperar não é parar.
Às vezes, a mudança fica chamando, chamando, mas… A gente não abraça, aí abraça, desabraça, mais abraça. Será que vai chover, Marina, será que precisa saber? Marina, você não vai dormir pra poder sonhar acordada? De pé na viagem.
Ano novo, e agora, Marina o que vai dar aí nas moedas que você zerou? A vida chama mesmo pro risco. Nem sempre a gente fica à vontade, mas só de convidar já tá valendo estar nessa.
Meia-noite, Marina, o mar é aqui. 2022, te desejo. Um beijo pra desembolar.